EQUILÍBRIO EMOCIONAL EM TEMPOS DE PANDEMIA
Ao contrário daqueles países onde tudo ia bem até fevereiro, aqui no Brasil convivíamos com dificuldades quando o COVID-19 chegou.
Economia em lenta recuperação, nível de emprego ainda insatisfatório e criminalidade caindo, mas longe do aceitável.
Completando o quadro de adversidades, o aedes aegypti já fazia a festa, com altíssimos níveis de infestação e muitas mortes em dezenas de cidades.
Ou seja, a vida já não andava fácil quando o coronavíus cruzou os oceanos por linhas aéreas e se espalhou sem rodeios, na mesma velocidade em que decolou de Wuhan.
QUARENTENA
Mas isso seria só o começo...
Veio a quarentena. Isolamento, comércio fechado, viagens canceladas, aulas suspensas, fábricas paradas, rendimentos em risco, medo de desabastecimento.
Mesmo que não houvesse consequências econômicas e financeiras, a quarentena por si só já seria um desafio e tanto para os brasileiros.
Passar semanas dentro de casa no inverno europeu pode ser difícil, mas é uma condição previsível e habitual, para a qual as pessoas sabem se preparar muito bem.
Mas ficar retido inesperadamente semanas e semanas dentro de casa em um país com clima tropical, milhares de praias, sol abundante e muito verde, isso é outra história.
CALDEIRÃO
Mas, talvez por insistência de satanás, em meio a esse quadro o caldeirão político começa a ferver, acirrando ânimos e dividindo ainda mais a sociedade, na contramão da tendência mundial de união para enfrentar a pandemia.
É claro que as redes sociais não ficariam de fora. Aliás, são grandes catalisadoras da ebulição e, como tal, transformaram-se em uma interminável tempestade de mensagens, com volume de informações e postagens como nunca se viu, acompanhadas de fortes ondas de fake news, aturdindo a cabeça de quem se mete a ler tudo que chega.
A grande imprensa, que historicamente mais se nutre de tempestade do que de calmaria, entrou de cabeça nas manchetes alarmantes e notícias inquietantes.
AS TENSÕES
Não seria necessário estabelecer um debate entre especialistas em comportamento humano para concluir que esse quadro tem ingredientes de sobra para desencadear incertezas, medo, tensão, ansiedade e irritação, tanto no aspecto individual como coletivo.
Como a irritação mora ao lado da explosão, cresceu o número atritos pessoais nas redes, desavenças em famílias e conflitos dentro de casa.
Bem, se o sinal amarelo acendeu, convém frear e respirar fundo.
Não é hora de entregar nossas atitudes ao domínio da emoção.
Mais do que nunca, é necessário ter consciência de que não estamos cercados apenas das paredes de casa, das tensões políticas e das incertezas na conta bancária.
COMPREENDER O PROBLEMA
Estamos cercados de uma complicação bem maior.
Estamos em um dos momentos mais difíceis da história da humanidade.
A quarentena não é para mim nem para você. É para todos, do quiosque da esquina às montadoras japonesas. Do "flanelinha" à Rainha da Inglaterra, do Oriente ao Ocidente.
O choque financeiro ameaça todos e quebrará muitos, seja no Brasil ou no EUA.
Quem não compreender essa realidade, corre o risco de subestimar a situação e desprezar a adequada preparação para enfrentar um quadro de crise mundial.
Sem inteligência e autocontrole, dificilmente alguém terá a capacidade de resiliência necessária para sair ileso de uma turbulência dessa magnitude.
É com a inteligência, não com a emoção, que você pode compreender o cenário à sua volta, planejar, ajustar-se e preparar-se para o desafio que a realidade lhe impõe.
O QUE SE PODE FAZER
Em suma, o problema existe, não é pequeno, tem múltiplas faces e atinge todos nós.
Se ele existe e não há como eliminá-lo, a melhor opção provavelmente será contorná-lo.
Alguns recursos e atitudes facilitam o percurso.
Por exemplo:
- Rever o planejamento financeiro a partir da perspectiva de uma economia em crise. Compartilhar essa visão com quem depende de nós.
- Manter a calma, ciente de que muitos elos da economia tendem a flexibilizar os compromissos financeiros das pessoas e empresas.
- Exercitar a condescendência diante das dificuldades e da possível irritação das pessoas do nosso círculo. Aqueles que dominam a capacidade de condescender, tentem dar exemplos de serenidade e compreensão. Isso beneficia os dois lados.
- Pedir ajuda, estreitar laços e nos abrir para a união. O momento é de ajuda mútua.
- Ajudar quem precisa e crescer interiormente, pela prática da doação e da solidariedade.
- Ampliar e explorar as opções de convivência virtual com parentes, amigos e novos contatos, sobretudo pelas redes sociais. Isso aquece e reconforta.
- Desfrutar as novas opções de diversão, cultura e informação disponibilizadas nos meios eletrônicos. Isso adoça a vida, preenche o tempo e promove nossa expansão cultural.
- Exercitar-nos. A atividade física faz bem ao corpo, à saúde e à mente. Libera endorfina e estimula o ânimo. Existem inúmeros exercícios para se fazer em casa, sem aparelhos.
- Ler, retomar o aprendizado interrompido, adquirir novas habilidades.
- Proteger-nos da contaminação o tempo todo, reeducando nossos hábitos. As dicas enumeradas acima podem se tornar temporariamente nulas, caso nos deixemos contaminar pelo coronavírus.
COMO SEGUIR EM FRENTE
Por fim, ter consciência de que podemos seguir em frente de duas maneiras: sofrendo ou crescendo.
Se focarmos a mente nas limitações e na angústia, vamos seguir sofrendo mais e crescendo menos.
Se focarmos no aprendizado e no mundo melhor depois da crise, vamos seguir crescendo mais e sofrendo menos.
Em qualquer situação, sejamos pacientes dentro de casa. Do contrário, poderemos nos tornar pacientes do divã ou do hospital.
“A paciência é a fortaleza do débil e a impaciência, a debilidade do forte” (Kant).
(Escrito por: José Ricardo Zani)
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