Meados de março de 2020, o governo do Estado determina o confinamento das pessoas em seus lares. Estabelecimentos comerciais são fechados. Somente farmácias e supermercados podem funcionar. De início, as pessoas em seus condomínios solidarizam-se umas com as outras; ideias de como enfrentar a pandemia surgem aos montes nos grupos de Whatsaap. As pessoas, mostrando boa vontade, espírito de solidariedade, trocam mensagens às centenas durante o dia.
Os pátios e os halls dos prédios ficam vazios; nos elevadores não se encontra ninguém. As ruas todas vazias também, não há ninguém caminhando nas calçadas, o tráfego de veículos diminuiu acentuadamente. Ao lado do prédio onde resido há uma comunidade, que antes do locdown, era um entra e sai dia e noite, madruga adentro. Onde proliferava um comércio clandestino de drogas; os entregadores incansáveis, passavam a noite, num vai e vem louco em cima de suas bicicletas para atender a freguesia. Tudo parou. A pandemia tirou dos compradores e vendedores de drogas das ruas. O entra e sai de veículos na viela também sumiu. Jovens não entram mais ali tarde da noite em busca do prazer das drogas.
Os dias passam. À tarde as televisões transmitem as informações do Ministério da Saúde, num show midiático e fúnebre de seu ministro vestindo em uma jaqueta sobre a blusa branca. Ao bater as seis horas da tarde, em um prédio em frente, uma pessoa põe a tocar a Ave Maria de Schouber, e ao término é calorosante aplaudido.
Na portaria dos prédios, os porteiros estão sobrecarregados de trabalhos devido às constantes entregas do Ifood. Nos elevadores, o cheiro de comida exala. O entra e sai de entregadores é incessante. As primeiras duas semanas foram de euforia.
O tempo vai passando, e a tristeza, pela sensação de impotência, vai aumentando diante da prisão imposto pelo governo do estado, tomando o lugar da euforia. A solidariedade é substituída pelas constantes mensagens de terror, de medo, por determinas situações, como tentativas de assaltos em prédios, quando falsos atendentes de hospitais se apresentam para resgatar doentes, pela informação do número de morte nos grupos de WhatSaap.
As palmas à Ave Maria vão escasseando. Aquela mensagem, que da música vinha nos primeiros dias, passa a parecer uma sentença de morte. As pessoas sentem-se abandonadas, à espera da doença temida e maldita bater à sua porta para os tirar de sua reclusão tão aplaudida, quando se elogiava o governo do estado pela atitude de isolamento social; dando-lhe viva, sendo até mesmo aclamado por alguns: ”nosso presidente”, para um hospital ou até mesmo cemitério.
As palmas se vão definitivamente. O idealizador do fundo musical some definitivamente. As ruas continuam vazias, mas as pessoas já começam a aparecem mais. Nos pátios alguns já fazem caminhadas porque não mais aguentam o enclausuramento.
Demite-se o arauto do terror, o ministro da saúde. Aos poucos o comércio volta a funcionar como num passo de mágica, e diante das eleições que se vizinha é permitido tudo.
A briga que antes era pelo uso ou não da ivermectina, passa a ser agora pela vacina. Promessa e mais promessas aparecem da parte dos políticos. As eleições encerram-se e a doença volta. De repente, fecha-se tudo novamente. A doença tão obediente que respeitou o período eleitoral volta de repente. Restringe-se o horário de funcionamento do comércio de tudo, como se o vírus tivesse hora marcada para atacar. Pessoas que trabalham são obrigadas a fechar seus comércios ameaçadas de prisão.
A incerteza novamente volta a rondar nossos dias. A insensatez dos políticos vem à tona novamente com as sempre esfarrapadas desculpas: “é para salvar vidas”. Os hospitais de campanha que foram construídos a toque de caixa e a preços exorbitantes já haviam sido desmontados durante a campanha eleitoral sem cumprir sua tarefa. Notícias surge aos montes dando conta do aumento de casos.
A vacina chega; mas não chega em número suficiente para atender a todos, no meio do caminho já desaparecem milhares desviadas sabe-se para onde e por quem. Com a vacina chega também a mutação do vírus. Ou seja, se a vacina não der resultado, já há uma explicação, uma justificativa para os desmandos de governos.
E assim, novo decreto limitando o funcionamento de tudo é editado. O governo estadual de um ungido, que se arvora mais um deus, quando ontem é mero desconhecido em todos os meios, agora é o dono do Estado, “Papai sabe tudo”. Entende de física nucleara a reprodução de muriçoca; ou melhor ao acasalamento do vírus da covid-19.
HENRIQUE CÉSAR PINHEIRO
FORTALZA, JUNHO DE 2021