(Publicado em 17/01/21)
Estamos no meio de uma pandemia cruel, cercados de incertezas, restrições, dificuldades e perdas humanas.
Essa situação, por si só, já nos predispõe à impaciência e à perplexidade, condição que tende a instalar um problema subjacente.
Aí mora o perigo.
Se você perder as rédeas desses sentimentos, antes que se dê conta estará usando-os como espoleta de munição pesada nas redes sociais.
Saiba que você estará causando ainda mais mal-estar ao mundo, ao espalhar sentimentos inflamáveis no cenário da pandemia.
Em vez de propulsor da intolerância, tente ser catalisador da união.
Em vez de dividir, tente somar.
O vírus não é uma bandeira, tampouco trincheira desse ou daquele. E quem tenta fazer do vírus um aliado dos seus interesses não pode ser visto como gente de bem.
Quanto às suspeitas, se desconfiamos que alguns estão traindo a saúde pública, tenhamos consciência de que não se faz justiça com base em impressões e sentimentos (embora saibamos que há terrenos férteis para as sementes dessas traições, sobretudo em círculos políticos, cadeias de fornecedores de insumos, mercado farmacêutico, etc).
A faca entre os dentes não é a solução, porque o caminho é outro. Quando há culpados, eles são identificados e enquadrados com base em fatos, pelas vias legais.
Quem tenta enquadrá-los por meio da disseminação da raiva e quer acusá-los com base em insinuações ou pós-verdades afasta-se da razão e espalha mais fogo do que luz.
Já basta nosso “troféu” de população mais fora da realidade, ranking no qual só perdemos para a África do Sul. (*)
Não vamos confundir ainda mais a percepção de realidade das pessoas.
Não realimente a controvérsia. Não dê ouvidos a manipuladores.
Todos os países, governos, instituições e hospitais lutam contra um inimigo desconhecido e correm pelos labirintos da tentativa e erro, sofrendo com dificuldades parecidas.
Mas podem sucumbir no labirinto aqueles que se põem a medir poder entre seus próprios agentes ou gastam suas forças e seu tempo em confrontos internos.
Afinal, qual é o nível de lucidez e confiabilidade de quem tenta fazer da pandemia um cabo de guerra?
Se você quer ser útil, repasse informações úteis e práticas, mas não espalhe mensagens de impaciência, incitação e veneno.
Ricardo Zani
*Pesquisa mundial de 2017, realizada pelo Instituto britânico Ipsos Mori.
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