A rendição de Vercingetórix
Júlio César foi voluntariamente lacônico sobre a rendição daquele que o enfrentou durante um ano e que conseguiu reunir os povos da Gália, o que era inimaginável para um romano. Ele não quis fazer de Vercingetórix um herói nem um mártir. Outros historiadores relataram a cena que forneceu o tema de muitos quadros de pintores de História, sobretudo no século XIX. Ela não engrandece César, menos irritado pela coragem desse inimigo que ele admira implicitamente do que pela perda de tempo que este lhe impôs, obrigando-o a desviar-se do essencial, isto é, a política que se faz em Roma, nesse meio tempo, sem ele e sobretudo contra ele. Essa cólera foi expressa numa atitude mesquinha que não era digna de César. Ele perdeu a serenidade. Foi Amédée Thierry, irmão esquecido de Augustin Thierry, que, levando em conta informações antigas sobre esse encontro último e trágico entre César e Vercingetórix, especialmente as de Dião Cássio e de Plutarco nos forneceu o melhor relato, em sua "História dos Gauleses":
Vercingetórix não esperou que os centuriões romanos o arrastassem de pés e punhos atados até os joelhos de César. Montando um cavalo ajaezado como para um dia de batalha, vestindo ele próprio sua mais rica armadura, saiu da cidade e atravessou a galope a distância entre os dois acampamentos, até o lugar onde estava o procônsul. Fosse pois que a rapidez da corrida o levasse muito longe, fosse porque estivesse cumprindo apenas um cerimonial antiquado, ele girou em círculo em volta do tribunal, saltou do cavalo e tomando a espada, o dardo e o capacete, lançou-os aos pés do romano, sem pronunciar uma palavra. Esse gesto de Vercingetórix, seu brusco aparecimento, seu porte elevado, seu rosto orgulhoso e marcial causaram entre os espectadores uma comoção involuntária. César ficou surpreso e quase assustado. Guardou o silêncio por alguns instantes. Mas em seguida, explodindo em acusações e invectivas, censurou o gaulês por "sua antiga amizade, por seus benefícios que ele havia retribuído tão mal". Depois, fez um sinal a seus lictores para que o atassem e o arrastassem pelo acampamento. Vercingetórix sofreu em silêncio. Os lugares-tenentes, os tribunos, os centuriões que cercavam o procônsul, mesmo os soldados, pareciam vivamente comovidos. O espetáculo de um tão grande e nobre infortúnio falava a todas as almas. Somente César permaneceu frio e cruel. Vercingetórix foi conduzido a Roma e lançado num cárcere infecto, onde esperou durante seis anos que o vencedor viesse exibir no Capitólio o orgulho de seu triunfo. Pois somente nesse dia o patriota gaulês haveria de encontrar, sob o machado do carrasco, o fim de sua humilhação e de seus sofrimentos.[4]
Após sua rendição, Vercingetórix foi levado prisioneiro a Roma e jogado em uma cela na prisão Mamertina, onde foi mantido por seis anos. Sobreviveu até o triunfo final de César, quando foi obrigado a caminhar de mãos atadas amarrado ao carro de triunfo do general romano pelas ruas de Roma até o Capitólio, sendo novamente enviado à prisão e estrangulado por ordem de César.[5]
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