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Artigos-->Índios e Brancos -- 24/05/2002 - 14:38 (Bráulia Inês B. Ribeiro) |
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E o branco dizia:
Eu era gente quando eu era índio
E corria livre e nu pelos campos,
E tinha vida e morte no meu arco
E tinha vida,
E não morte na minha alma.
Ah, eu era gente quando eu era índio
E a História ainda não tinha chegado.
E a terra não era de ninguém,
E a lua não era de ninguém,
E tudo era longe, mas era perto,
E tudo era meu.
E nada era meu.
E eu tinha avó, e tinha tataravó,
E tinha passado, e tinha história,
E tinha raízes como as árvores.
E comia e bebia, e amava,
E tinha paz como os bichos,
Mas eu era gente.
Eu era gente quando eu era índio.
E o índio dizia:
Eu vou ser gente um dia, quando eu for branco.
E vou ter sangue de transfusão na veia,
Bem asséptico do hemocentro.
E vou ter nariz modelado pelo Pitanguy,
E implante de lábios a La Bassinger.
Eu vou ser gente, eu vou ser branco.
Eu vou ser sexy como comercial de jeans.
Eu vou ser livre e correr nu pelas pistas de dança.
Eu vou ser chic, eu vou ser in, eu vou ser gay.
Eu vou cervejar por que meu time perdeu no futebol.
Eu vou ser político e a minha justiça será dúbia.
Eu vou ser gente e meu lucro será duplo.
Tudo será meu.
Pisarei na lua.
Possuirei o mundo,
Matarei meu passado.
Ah, eu vou ser gente quando eu for branco...
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