PODE ME DAR O ENDEREÇO DA CACHORRINHA
Ia passando pela rua hoje e me deparei com uma mulher puxando dois cachorros relativamente grandes. A cena transportou-me ao passado e fez-me lembrar uma propaganda da década de setenta, quando uma jovem desfilava pelo calçadão de Copacabana puxando um pequeno cachorro pela coleira e um “galã” a pedia o endereço do cachorrinho.
Não lembro de que era o comercial e não que a moça dos dois cachorros de hoje parecesse fisicamente com do comercial, enquanto essa era uma morena bronzeada da praia, esbelta em um minúsculo biquini - não havia ainda o fio dental -; a de hoje era gordinha - para ser politicamente correto e não ser tachado de misógino e taxada pela justiça, ou seja, multado por isso; branca e em nada lembrava a cena da calçada de Copacabana, até porque uma levava dois cachorros e a outra somente um.
Mas o que me fez lembrar o assunto e escrever estas linhas, foi a pergunta do rapaz: “Você pode me dar o endereço do cachorrinho.” Hoje, com o tal do politicamente correto como ficaria isso: considerado assédio sexual, misoginia, estrupo, bestialidade? Sem esquecer que o criador da propagada por tudo isso também poderia ser processado por discriminação, pois escolheu como garota propagada uma moça bronzeada, bem-feita de corpo, nova, em detrimento da gordinha dos dois cachorros, um pouco mais velha e por ai vai.
Enfim, a propaganda não poderia existir no atual cenário. Com isso, mostra-se a que ponto deixamos chegar as coisas quando somos tolerantes. A tolerância é uma arma de dois gumes – ou dois legumes como diria Vicente Mateus -, pois muitas coisas que toleramos por entendermos insignificantes amanhã poderemos nos tornar vítimas delas. E isso está bem patente no dia a dia, em qualquer situação. No trabalho, se um chefe cobrar metas de um empregado; se alguém olhar para uma mulher, ela pode entender como assédio, enfim temos que tolerar todo tipo de comportamento esdrúxulo, mas o comportamento normal é recriminado. Achar uma mulher feia ou bonita nada tem demais, se assim fosse não haveria concursos de beleza, as desclassificadas poderiam entrar na justiça e questionar por discriminação, nos desfiles de moda as gordinhas são preteridas pelas magras e não é discriminação. Simplesmente, é uma exigência normal das pessoas que podem livremente expressar seus gostos. Claro que as ofensas, e isso é fácil de se constatar, devem ser punidas.
Se continuarmos neste diapasão, em breve seremos processados pela Coca-Cola quando entrarmos num restaurante é pedirmos uma Pepsi, ou vice-versa, pela Escol se pedirmos uma Heineken, pelo restaurante da frente por escolher o concorrente. Mas nós não nos atentamos a detalhes, simplesmente aceitamos e fazemos de conta que nada é com a gente. Só que amanhã, você também será a vítima. Lutemos enquanto há tempo para podermos não deixar que os políticos nos esmaguem e façam de nossa vida um inferno. Temos de reagir, ainda há tempo, estamos no purgatório, e de lá se pode alcançar o Céu, porém do inferno ninguém volta.
Fortaleza, março de 2022
Henrique César Pinheiro
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