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Para minha Araras
Mara Figueiredo – marafig@linkway.com.br
Já houve quem tenha dito que podemos discutir os temas mais sérios, dizer as coisas mais difíceis, mas, sem jamais perder a ternura. Então, tendo o cuidado de não me afastar da ternura e, em nome do infinito amor desta filha pela sua terra natal, venho me posicionar sobre um assunto bastante delicado e – por que não? – eu diria que até polêmico.
Estão acabando com a Praça Barão. É uma sucessão de megafestas, com estruturas pesadíssimas sendo montadas, uma após a outra, uma maior que a outra. Caminhões imensos adentrando a calçada da praça, sem dó e nem piedade... Chegam a ter o desplante de montar um parque de diversões sobre ela. Tudo bem, se tivéssemos atingido uma época tão mágica, que, depois da parafernália retirada, tudo voltasse ao normal. No entanto, sabemos todos, o que resta é um solo totalmente danificado, as pedrinhas formando sulcos, onde se acumulam água e terra. Sem contar a grama, que não resiste a tantas pisadas, a tantos banheiros químicos, a tantos maus-tratos.
Dirão alguns: “Gente! E você não está pensando nas inúmeras entidades beneficiadas com a arrecadação? Você faz parte de uma burguesia, que não aceita o povão na praça, que quer afastar os eventos do coração da cidade...”.
Ao que eu responderia: se existem pessoas que sempre estiveram ao lado do povão, eu me incluo entre elas. No alto dos meus setenta e três anos, adquiri o direito de poder falar com mais liberdade, de poder explanar mais abertamente o que fica escondido dentro das nossas silentes reflexões. Me desculpem as elites, mas sempre pendi para o lado da gente mais simples. Deixei minha vida nas salas escolares, do ensino fundamental, passando pelo médio e chegando ao superior. Nunca fiz diferença entre os alunos pela classe social. Procurava ensinar e aprender com todos. Deu certo. Hoje, tenho uma porção significativa deles que me declaram ter feito a diferença na vida de cada um.
Enveredei pela vida política, como vereadora, quando, também busquei atuar em prol da conservação da beleza e da bem desenhada estrutura de nossa cidade. Sofri, por isso. Mas, nunca desanimei. Encarei ser presidente do COMPHAC, importante órgão de preservação do nosso patrimônio. Exerci o cargo de Secretária e Diretora da Cultura, promovendo numerosas e diversificadas festas e eventos dos mais variados, sem nunca, ao que me lembre, ter aviltado a saúde de nossa Praça, considerada uma das mais lindas do interior paulista e, quiçá, do nosso país.
Há lugares adequados para cada tamanho de realização: os maiores poderão ir para o Parque Ecológico; para a Praça Roberto Mercatelli e para o Ginásio de Esportes. Há, ainda, o Calçadão, com linhas arquitetônicas mais adequadas para receber o público. Se os locais citados ficarem distantes, que se ofereça transporte gratuito e que não se cobre ingresso, por menor que seja, para os eventos, o que, inviabilizaria a participação de famílias numerosas, pois qualquer tostão, somado, vira o equivalente a uma pipoca ou a um algodão-doce. E, mais que isso, considerem que a cidade cresceu e que nem todos moram nas cercanias da Praça, como eu. A maioria vem de bairros distantes, que necessitam de transporte. Seja particular ou coletivo. Dessa forma, tanto faz o destino final ser a Praça ou o Parque Ecológico.
E, que se nada disso servir, que seja construído um local apropriado para tal. O que não se pode conceber é tentar fazer caber na Praça Barão estruturas, a cada ano maiores e mais pesadas, reunindo novidades descabidas, como a instalação de um Parque de Diversões, em nome do sucesso do evento. Que não se abortem tais ideias, longe disso. Mas que elas se adaptem a espaços adequados, a lugares que não sejam destruídos, como está sendo, pouco a pouco, a nossa praça principal.
Para finalizar, vale lembrar que o bom senso motivou, tempos atrás, a mudança dos desfiles de carnaval, tradicionalmente realizados nas ruas do entorno da Praça, para o asfalto da Avenida Zurita, dado o crescimento das apresentações. Hoje, por conta da concorrência com a televisão, eles nem existem mais em cidades sem tradição no tema. No entanto, mesmo quando realizados aqui, no Centro, eles nunca invadiram as alamedas da Praça, se limitando a acomodar o povo nas calçadas circundantes.
Não pretendo abrir discussões. Peço desculpas, se ofendi alguma orientação contrária. Apenas gostaria de, com a devida ternura, deixar o meu recado: respeito ao nosso patrimônio é sempre necessário, para que o amanhã possa se aproveitar das maravilhas do hoje.
Concordo por inteiro com o poeta que disse: “A Praça? A Praça é do povo!” – mas, para que ela continue sendo, é preciso que não a mutilem.
Fonte: OPINIÃO JORNAL/Variedades, Araras, SP, sábado, 29/07/2023, página 7.
“Fora da VERDADE não há CARIDADE nem, muito menos, SALVAÇÃO!”
LUIZ ROBERTO TURATTI
(https://www.usinadeletras.com.br/exibelotextoautor.php?user=TURATTI).
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