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Artigos-->Formação cultural do administrador brasileiro -- 07/11/2000 - 16:58 (Hamilton Cardoso da Costa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
INTRODUÇÃO



A formação cultural da sociedade urbana brasileira carrega consigo uma forte herança rural e numa caraterística única do povo brasileiro, a do homem cordial. A junção desses dois fatores faz com que nosso administrador tenha também um estilo próprio de pensar, de agir profissional.



A migração das pessoas do meio rural, onde a organização social era do Engenho, e o poder era exercido de forma patriarcal e por muitas vezes despótica, levou consigo também toda uma bagagem da cultural rural para os habitantes das cidades.



Combinando com a mentalidade da vida no Engenho à nossa formação cultural, a um estilo próprio do povo brasileiro, o chamado homem cordial – nele, vemos que as relações são baseados nos sentimentos e na amizade –, tornando a cultura brasileira, única e singular.



A HERANÇA RURAL



Nossa formação cultural remonta à época colonial, onde a estrutura social era baseada fora do centros urbanos, era predominantemente rural. Nos domínios rurais prevaleciam a organização social do Engenho, que constituía um concorrente à cidades, pois estes tinham vida própria. De tudo se produzia no Engenho. A autoridade era exercida pelo proprietários de terra, e tudo era feito de forma a satisfazer a sua vontade.



Sempre imersa em si mesma, a família colonial não aceitava interferência externa, mantendo assim sem nenhuma restrição o poder patriarcal. Nesse ambiente, o poder do patriarca é ilimitado, e poucos freios existem para segurar sua tirania; formando a idéia normal de poder, de respeitabilidade, de obediência e de coerção.



Em seu isolamento, o núcleo familiar permanecia imune a qualquer princípio superior; este fechamento, veio a influenciar, mais tarde o indivíduo que passa a viver no meio urbano, onde esta pessoa tem dificuldade em aceitar a norma legal, que regem as relações numa sociedade moderna.



Não é difícil entender porque atualmente muitas pessoas ainda se comportam, colocando a entidade privada acima da entidade pública. Todas nossas atividades ainda hoje tem grandes traços dessa cultura. Pois transferidos rapidamente do meio rural para os centros urbanos, essas pessoas carregaram consigo a mentalidade existente no Engenho.



Um outro fato importante, é que toda atividade intelectual que não suja as mãos era digna dos senhores de engenho e de seus herdeiros. Cabia apenas aos escravos o trabalho braçal.



Graças ao desenvolvimento material atingido pelos fazendeiros, é que a situação tradicional, foi sendo aos poucos sendo minada. Com o fim do trabalhos escravo, em 1888, dá-se um passo firme para o desenvolvimento urbano no Brasil.



Um dos efeitos da migração das pessoas do meio rural para as cidades, foi que se formou uma espécie de burguesia urbana, tornando certas atitudes, antes existente somente no antigo engenho, comum em todas classes sociais.



Muitos dos cargos públicos foram ocupados pelas pessoas oriundas do da elite rural, não por suas capacidades pessoais, mas sim pela influência política que os antigos proprietários rurais exerciam. Esta situação é observada ainda hoje.



O HOMEM CORDIAL



Em todas culturas e épocas histórias, a suplantação de uma lei geral sobre uma regra particular é conseguida por crises sociais profundas, são geralmente prolongadas e que tem como resultado uma transformação na estrutura social. Fato este observado na revolução francesa. Entretanto, no Brasil, ao longo de sua história, não aconteceu nenhum fato histórico que realmente tivesse alterado, de fato, a estrutura social.



As relações humanas existentes entre empregados e trabalhadores no sistema de produção manufatureiro foram quebrados no sistema industrial contemporâneo, acabando dessa forma a intimidade que havia antes, estimulado uma luta de classes vista hoje em dia, representados por sindicatos. O empregado no final do século XX se transformou num simples número, desaparecendo as relações humanas antes existentes.



Esta transição da sociedade manufatureira para a sociedade industrial foi acompanhada de uma crise, que foi ao longo do tempo abolindo os laços familiares, então existentes, por uma outra nova forma de relação, que passa ser jurídica, onde todo cidadão, pelo menos teoricamente, passam a tem os mesmos direitos perante a lei.



No Brasil, o desenvolvimento dos centros urbanos, não se deu unicamente pelo fato da migração das pessoas do campo para as cidades, mas do desenvolvimento dos meios de comunicação. Nossa sociedade urbana foi muito influenciada por indivíduos vindos das tradicionais famílias rurais, de regime patriarcal; causando desequilíbrios sociais, que são observados ainda hoje, visto que as normas de conduta nestas famílias são fundadas na hierarquia, nas tradições familiares. No entanto, todo o convívio social nos centros urbanos são regulados por norma jurídica.





Os administradores sofreram estas influência, e por muitas vezes não sabem diferenciar o negócio público do negócio privado – no caso da administrador público. E, em se tratando do administrador da iniciativa privada, não sabem distinguir os limites dos interesses da família dos objetivos da empresa. Ambos não sabem separar os assuntos de seu interesse particular dos assuntos da instituição na qual exerce suas funções.



Toda esta formação da sociedade urbana, fez com que aparecesse uma forma de relacionamento peculiar ao Brasil, o do homem cordial, uma contribuição brasileira a humanidade. No entanto, é enganosa esta expressão significar virtude de boas maneiras. Mas, de fato o nosso convívio social é exatamente ao contrário da delicadeza, da polidez ou cortesia. Esta civilidade, é por muitas vezes utilizada como defesa perante a sociedade.



De certo modo, o brasileiro se utiliza de sua cordialidade para estabelecer um contato mais intimo. Isso é notado no campo da lingüistica, no emprego freqüente do diminutivo, como na terminação "inho", forma peculiar de aproximação entre pessoas. Os relacionamentos são de fundo emotivo, sentimental e de amizade. Esta peculiaridade, esta presente também nas relações profissionais, tanto no administrador público quanto no administrador da iniciativa privada.



O ADMINISTRADOR BRASILEIRO



Toda a formação cultural do administrador brasileiro sofre uma profunda influencia de uma época remota, do início da colonização do Brasil – de sua origem rural, onde os costumes, tradições e norma de convivência da família do senhor de engenho se sobrepunha a burocracia do Estado – e, permanece, de certa forma nos dias de hoje na maneira de administrar, tanto a coisa pública, quanto os negócios privados.



De sua origem rural, o administrador brasileiro herdou o poder autoritário. Em suas raízes, o senhor de engenho era absoluto. Toda vida no Engenho era em função de suas vontades, passando a posteriori esta característica despótica ao administrador. Nas funções mais elevadas da administração, as pessoas eram escolhidas por laços de família e não por seus méritos próprio. Uma outra herança observada, é que as organizações são pequenos feudos – o corporativismo característico dos órgãos públicos. As repartições públicas se fecham em si mesmas, lembrando as relações existentes entre a Sociedade e o Engenho. Na empresa privada, esse fato ocorre quando ela coloca seus procedimentos internos acima das necessidades dos clientes e exigencias do mercado.



O administrador brasileiro, tende a olhar sua função como sendo pertencente a ele próprio, e não de forma racional, impessoal, como Weber modelou a burocracia. Essa mentalidade tem origem na antiga organização social existente no meio rural brasileiro, a família patriarcal.



Nas relações profissionais impera o homem cordial, onde a base não é racionalidade burocrática weberiana clássica, mas o que se vê, é que as relações com os subordinados funcionam na base da amizade; as promoções se processam da mesma forma, e não nos méritos e competência de cada um.



Em suma, o administrador brasileiro, no final do século XX, ainda tem uma mentalidade e postura profissional, que imperava no início da colonização do Brasil. Pouco ou quase nada ele evoluiu nesses 500 anos de história.

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