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Artigos-->DE CARROÇA, DE PIRATINI A PELOTAS -- 11/05/2024 - 16:31 (LUIZ CARLOS LESSA VINHOLES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

DE CARROÇA, DE PIRATINI A PELOTAS



L. C. Vinholes



11.05.2024



 



De correspondência de 31 de março de 2013, esclarecendo detalhes sobre outro artigo abordando a singular figura do padre Reinaldo[i], sacerdote que, durante anos, cuidou da Paróquia de Piratini, no Rio Grande do Sul, selecionei e editei o longo parágrafo sobre as lembranças de um primo que ficou na minha memória como um grande parceiro e um excepcional companheiro de momentos inesquecíveis.



Quanto ao primo Colmar, gostaria de registrar que dele guardei sempre as melhores lembranças, principalmente dos meses das férias do final do ano que passava na Fazenda da Boa Esperança. Tenho na memória registro vivo dos fatos e, um dia, provavelmente escreverei artigo sobre Colmar. Ele foi sempre muito amigo, calmo, educado e gentil com o primo de menos de 10 anos de idade que admirava sua postura simples de gaúcho da gema, com habilidade no trato dos animais, nas domas, no trançar dos tentos (ensinou-me a fazer “correntinha” com quatro tentos), teve paciência mostrando-me como segurar e tesoura para tosar as ovelhas sem beliscar o couro, tinha cuidado quando o sol estava a pino e me tirava do lombo do cavalo que, com os outros, corria na eira para soltar os grãos de trigo.



Eu achava o máximo quando ele chegava de suas andanças pela Colônia Maciel e arredores comprando e vendendo cavalos e soltava no piquete em frente da fazenda aqueles baguais que trazia para domar, aparar as crinas e os pelos da cauda, cuidar dos cascos. Sentado em baixo dos cinamomos do pátio lateral da casa, contava para o pai, meu tio Germano, os negócios que fizera e dava notícias dos conhecidos que encontrara.



Inesquecível foi a viagem de carroça de colono com duas parelhas de cavalos, de Piratini a Pelotas, ele e eu na boleia, e tia Orestina e Lenita no banco de trás; inesquecível também a parada, depois do Paço do Costa, para almoço a beira da estrada, metros antes de um córrego de água límpida que não existe mais, do café de chaleira e do arroz com charque, da noite passada na estrada dormindo sobre pelegos embaixo da carroça e as companheiras de viagem, protegidas do frio da noite, embaixo do toldo; das vezes que me passava as rédeas para conduzir os animais. Terminada viagem, os sacos de farinha, feijão, milho para as galinhas poedeiras tia Orestina arrumava na dispensa, Lenita e eu preparávamos para o novo ano escolar, ela no Colégio Assis Brasil e eu no Gonzaga. Não tenho lembranças do que acontecia nem com a carroça e os quatro cavalos, nem com Colmar. Não sei também porque nunca perguntei. A única resposta que sempre tive para esta dúvida foi achar que ele, como homem de negócios, venderia tudo e voltaria para Piratini no ônibus do Gratulino.



Marcante também o período em que ele e nosso primo João Lessa Mota, meu padrinho de Crisma, serviram ao Exército no 9º Regimento de Infantaria, no Bairro do Fragata, em Pelotas, e vinham almoçar na casa de meus país na Rua Argolo (a mesma casa onde seus irmãos Maria Doroty e Oswaldo moraram quando estudantes); ou quando meu pai ia ao quartel visitar seu amigo capitão Jó (cantava áreas de ópera com incrível facilidade) que chamava os soldados Colmar e João para participarem do papo com o tio e compartilharem o chimarrão.



A última vez que estive com Colmar foi na Correaria Padilha, negócio com seu sogro, numa esquina da Rua General Osório, onde vendia artefatos de couro, bombas e cuias, laços, cintos, facas e bainhas......



Colmar Lessa da Rosa, casado em julho de 1951 com Adélia Viana Padilha, teve um casal de filhos. Em 2016, acompanhei com entusiasmo o projeto de Germano Antonio de escrever e publicar um livro biográfico sobre seu pai. Ele morando no Cancelão, a 107km de Piratini, e eu em Brasília, tínhamos que enfrentar as dificuldades que as distâncias ditavam em nossas vidas, razão pela qual nosso último contato foi em agosto de 2018, desde quando não tive mais notícias.



Hoje, quando alguém fala de tradição no Rio Grande do Sul, sempre menciono e lastimo o fato de Colmar não ter deixado discípulos-artesões que, usando o couro, tivessem aprendido o que ele sabia fazer, para transmitir às futuras gerações a engenharia de peças primorosas como as pulseiras para relógios e os geniais forramentos de botões, trançados com tentos cortados à faca.



[i] O vigário da Campanha: padre Reinaldo, artigo publicado em 14.02.2013 no site .


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