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Artigos-->SOBRE AS SETE COLEÇÕES DO MALG. Encarte e Catálogo -- 12/05/2024 - 18:20 (LUIZ CARLOS LESSA VINHOLES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

SOBRE AS SETE COLEÇÕES DO MALG

Encarte de 2016 e Catálogo de 2017

 

L. C. Vinholes

27.04.2024

 

Desde meus primeiros contatos com O Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo, interessei-me por conhecer o que existiria no seu arquivo que teve início com a doação, ainda em vida, feita pelo artista pelotense à Escola de Belas Artes, e, posteriormente, com o legado constante em seu testamento.

 

As exposições, permanentes ou não, eram por mim, ocasionalmente, aproveitadas para satisfazer minha curiosidade, mas o fato de não residir em Pelotas era fator que impedia a concretização do meu interesse. Os textos de divulgação das mostras programadas passaram a ser fontes com abundantes, embora sempre limitadas, novas informações. Mas o principal continuava faltando: o acesso direto às obras da reserva técnica ou do valioso acervo.

 

Hoje, como no passado, embora tenha sede própria, o MALG continua a enfrentar as mesmas dificuldades e os mesmos problemas que as direções e as administrações que dele cuidam não conseguem eliminar ou por não terem atribuições ou nem condições financeiras para resolver a contento. As carências costumeiramente elencada são: insuficiência de espaço para a reserva técnica e para o acervo em ambiente com temperatura e humidade controladas; reduzido espaço para acomodar exposição permanente com obras do patrono e exposições de longa duração, para atrair e satisfazer a um público avido em conhecer a variedade de estilos, linguagens e suportes ali existentes; espaço para oficina de reparos e guarda do material e instrumentos de trabalho na restauração; iluminação apropriada para cada ambiente e para ressaltar as obras expostas; auditório para pequenos eventos; salas para a diretoria e para  as equipes administrativa e técnica; biblioteca com publicações e documentações pertinentes; instalações de aparelhos de som e projeções; e lanchonete com serviço acolhedor para o público. Não seria demais prover o MALG e um transporte coletivo próprio permitindo desenvolver um programa permanente de visitação para grupos de estudantes, idosos e associações, mediante convênios celebrados com as devidas secretarias municipais competentes. Finalmente, garagem e estacionamento.

 

Nos últimos anos, depois que a Escola de Belas Artes passou a ser o Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo vinculado à Universidade Federal de Pelotas, foram lançadas duas publicações que, em muito, facilitaram a divulgação do Museu como importante instituição ligada à cultura e as artes, como também atenderam ao seu crescente público de visitantes de todas as faixas etárias.

 

Neste artigo está reproduzido parte do conteúdo de duas publicações do MALG, o Encarte de 2016 e o Catálogo de 2017, com tiragens limitadas, mas servindo e atendendo aos interesses do público. Como não podia deixar de ser, tanto numa como noutra há informações repetidas, mas também textos que se complementam. Aqui figuram todas as fotos que ilustraram o Encarte, mas não foram reproduzidas nenhuma das que ocupam dezenas de páginas do Catálogo. A fim de potencializar o valor mediático destas publicações, achei por bem reuni-las sob um mesmo título e disponibilizá-las em um veículo de fácil divulgação e de livre acesso ao público.

 

Acredito que os parágrafos a seguir permitirão a um maior número de leitores não só conhecer a história do MALG, como ela foi construída, quem foram seus protagonistas e seus objetivos, qual a orientação no ensino das artes plásticas em Pelotas, qual a influência estrangeira na formação dos artistas pelotense, mas também quais foram as fases pelas quais ele passou na formação do seu acervo.

 

 

 

MALG 30 ANOS

 

Por ocasião das comemorações dos trinta anos da criação do MALG, em 2016, foi organizado um Ciclo de Palestras[i] para o qual, cuidadosamente, foi preparado um encarte[ii] com excelente “material didático-pedagógico” de sete folhas de cartolina branca cada uma delas apresentando uma das sete coleções, bem como informações dos seus históricos, dos doadores e das obras, na seguinte ordem:

Coleção Leopoldo Gotuzzo, Coleção Faustino Trápaga, Coleção João Gomes de Mello, Coleção Escola de Belas Artes, Coleção Século XX, Coleção Século XXI e Coleção L. C. Vinholes.

 

01 - Coleção Leopoldo Gotuzzo.

 

Leopoldo Gotuzzo, patrono do museu, nasceu em Pelotas em 8 de abril de 1887 e realizou seus primeiros estudos em arte na década de 1900 com o italiano Frederico Trebbi.

 

Em 1909, Gotuzzo partiu para Roma para ter aulas com o professor francês Joseph Nöel. Aos 27 anos transferiu-se para Madri, de onde enviou os primeiros trabalhos para o Salão Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, tendo seu talento reconhecido ao obter diversas premiações. Retornou ao Brasil na década de 1920 e passou a morar no Rio de Janeiro.

 

É reconhecido por sua técnica no desenho e tem entre suas principais temáticas retratos, paisagens e naturezas mortas. Ainda em vida, o artista fez a doação de um conjunto de trabalhos para que posteriormente fosse criado o museu. O restante do acervo da coleção Leopoldo Gotuzzo possui cerca de 700 peças entre pinturas a óleo, desenho, móveis, objetos, livros, fotografias, cartas e documentos doados pela comunidade e deixados em testamento pelo artista, que faleceu em 1983.

 

Autorretrato com Óculos, pintura realizada por Gotuzzo em 1934, apresenta o artista aos 51 anos de idade. A obra foi doada à Escola de Belas Artes, integrando atualmente a coleção Leopoldo Gotuzzo.

 

02 - Coleção Faustino Trápaga.

 

A Coleção Faustino Trápaga reúne obras de artistas europeus dos séculos XIX e XX, doadas à Escola de Belas Artes por Berthilde Trápaga e Carmen Simões. A pintura ‘Le favori” ou “Cardeal” do italiano Andrea Landini, foi incorporada à Escola de Belas Artes em 1954. Andrea Landini nasceu em Florença em 1847 e faleceu em 1935.

 

Durante sua formação, Landini estudou na Academia de Belas Artes de Florença com o professor Ricardo Pasquinni. Ficou conhecido por sua extensa produção de retratos, em muitos dos quais têm destaque figuras do clero religioso, incluindo cardeais, em ambientes domésticos e cenas descontraídas, acompanhados de seus animas de estimação.

 

03 - Coleção João Gomes de Mello.

 

O desenho Menina Moça, de Adail Bento Costa, foi integrado ao acervo da Escola de Belas Artes pela família de João Gomes de Mello, em 1971.

 

Filho de Manuel da Luz Costa e Hermídia Hortência Bento Costa, Adail Bento Costa nasceu em 10 de maio de 1908 em Pelotas, formou-se em Pintura no Instituto de Belas Artes de Porto Alegre em 1932 e foi discípulo de Theco (sic) Francisco Pelichek[iii].

 

Em 1933 faz inúmeras exposições em Pelotas e em 1935 expõe em Montevidéu. Em 1940, com o intuito de angariar mercado, vai para o Rio de Janeiro e passa o período de 14 anos afastado de Pelotas. É lá que nasce a sua vontade de restaurar prédios históricos.

 

Restaurou as capelas da Beneficência Portuguesa, do Asilo de Mendigos e da Estância dos Prazeres, além da Matriz de Canguçu, o que lhe rendeu o título de Cidadão Canguçuense. Também trabalhou no projeto e decoração do Clube Comercial, do Clube Brilhante, do Oásis Praia Clube e da sede da União Gaúcha João Simões Lopes. Entre imagens, objetos litúrgicos, quadros e diversos objetos de arte, Adail restaurou 2.043 peças. Deixou para o município de Pelotas sua coleção de antiguidades, para ser exposta no que sonhava construir como Museu, o Casarão 2 restaurado. Parte dessa coleção se encontra hoje exposta no Museu da Baronesa, cuja restauração ele mesmo projetou e executou.

 

A Secretaria de Cultura de Pelotas dispõe de uma sala de exposições que recebeu o nome desse ilustre pelotense, que foi agraciado com 41 títulos de cidadania, sendo um Cidadão Fluminense e outro de Patrimônio Nacional.

 

04 - Coleção Escola de Belas Artes[iv].

 

A pintura Tarzan foi incorporada da Escola de Belas Artes ao acervo do MALG. Idealizada por Inah D´Avila Costa foi realizada na disciplina de pintura, sob orientação do professor Aldo Locatelli e pertence à Coleção Escola de Belas Artes do MALG.

 

A artista Inah D´Avila Costa nasceu em 13 de dezembro de 1918 em Pelotas e também foi aluna de Leopoldo Gotuzzo. Depois estudou no Museu de Arte Moderna do Rio (de Janeiro) durante quatro anos, tendo trabalhado em ateliês livres de pintura e gravura de importantes artistas/professores do Brasil, como Carlos Cavalcanti, Augusto Rodrigues, Orlando da Silva, Ivan Serpa, Eugênio Maldonado, Fayga Ostrower, entre outros nomes.

 

Em Pelotas idealizou e criou a Primeira Escolinha de Arte Infantil, cujos alunos se destacaram no Salão de Arte Infantil de São Paulo.

 

Inah Costa é considerada pioneira na Arte Moderna em Pelotas e no Brasil. Sua obra repercutiu em Salões de Porto Alegre e Rio de Janeiro, participando da 2ª e 3ª Bienal de São Paulo e da Bienal da Bahia.

 

05 - Coleção Século XX.

 

Luiz Carlos Mello da Costa, nasceu em Pelotas em 3 de setembro de 1947. A pintura Adolescência foi doada pelo próprio artista para o acervo do MALG em 1989.

 

Mello da Costa ingressou na Escola de Belas Artes de Pelotas em 1962. Pouco antes de concluir o curso em pintura em 1967, recebendo medalha de Estímulo às Artes, funda com os colegas a extinta galeria de arte Crítica Nova, em 1966. Era um grupo de estudantes, dentre eles Lenir Garcia, Ana Luiza Renck Reis, Cristiano Vigiano, Edson Douglas, José Luiz Palmério e Wilson Miranda, que pretendia ir de encontro à tradição estética da cidade, visando o maior desenvolvimento do Modernismo.

 

Em 1968 Mello da Costa viaja para o Rio de Janeiro e em 1969 cursa o Atelier Livre do Museu de Arte Moderna sob a orientação de Ivan Serpa. Após esse período vai para Salvador ficando por lá até 1982, quando retorna e Pelotas.

 

Faleceu em 1996 em sua terra natal, deixando uma das maiores produções de arte pelotense.

 

06 - Coleção Século XXI.

 

Vasco Prado Gomes da Silva nasceu em Uruguaiana, Rio Grande do Sul, em 1914 e faleceu em Porto Alegre em 1998. Além de escultura, o artista e professor se dedicou ao longo de sua vida à gravura, à tapeçaria, à ilustração e ao desenho. Iniciou seus estudos em escultura como autodidata.

 

Entre os anos de 1947-48 viajou para Paris onde estudou com o renomado pintor modernista francês Fernand Legèr (1881-1955). Lá também se dedicou à gravura. Voltou para o Brasil em 1948 e logo fundou, junto com Carlos Scliar (1920-2001) e outros artistas, o Clube de Gravura de Porto Alegre, porém, nunca deixou de se dedicar à escultura. Seu trabalho é fortemente marcado por temáticas regionais, como o Negrinho do Pastoreio e o tema do cavaleiro e do cavalo.

 

A escultura em cerâmica Nu masculino/Nu feminino foi doada ao acervo do MALG no início dos anos 2000.

 

- Coleção L. C. Vinholes.

 

As gravuras ukiyo-e (e: quadro e ukiyo: o mundo que flutua ou o mundo de aflição e tristeza, o mundo plebeu), produzidas no Japão em meados do século XIX, são manifestações caraterísticas do Período Edo ou Tokugawa (1603-1867).

 

As cenas representadas podem ser interpretadas como uma maneira de retratar artistas famosos do Kabuki, uma forma popular tradicional de teatro japonês, sendo apreciada e adquiridas principalmente pelos habitantes das cidades de Osaka e Edo, antigo nome de Tokyo. As ukiyo-e são gravuras com temas que variam de retratos, paisagens, cenas de rua, mulheres em quimonos vistosos, interiores, objetos, etc. A xilogravura intitulada Cena do teatro Kabuki, é uma peça integrante da coleção doada por Luiz Carlos Lessa Vinholes, composta por obras de arte oriental, arte brasileira contemporânea, arte africana, gravuras e mapas históricos.

 

 

O CATÁLOGO DE 2017 - AS 7 COLEÇÕES DO MALG

 

A ativa Sociedade Amigos do Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo (SAMALG), em junho de 2017, organizou o primeiro catálogo a cores do Museu que, em junho de 2018, teve uma edição de 700 exemplares.

 

Diferentemente do que aconteceu com o Encarte de 2016, neste artigo, por razões técnicas, não serão reproduzidas as dezenas de fotos ilustrando os textos relativos a cada uma das sete coleções.

 

Desde 2018 o MALG deixou para trás os prédios alugados para ocupar o antigo prédio do Lyceu Rio-Grandense, à Praça 7 de Julho, Nº 180, em Pelotas, antiga sede da Escola de Agronomia Eliseu Maciel, e abrigar as mais de quatro mil obras de suas coleções:  01 - Leopoldo Gotuzzo, 02 - Faustino Trápaga, 3- João Gomes de Mello, 4 - Escola de Belas Artes, 5- Século XIX, 06 - Século XX e 07 - L. C. Vinholes, apresentadas pelos textos a seguir reproduzidos neste artigo.

 

01 - Coleção Leopoldo Gotuzzo.

 

A Coleção Leopoldo Gotuzzo, que recebe o nome do patrono do Museu, é a coleção que originou o próprio MALG. Compõe-se por pinturas, desenhos, objetos, mobiliário, utensílios pessoais, utensílios de trabalho. Fotografias, documentos e cartas do artista Leopoldo Gotuzzo (Pelotas 1887 – Rio de Janeiro 1983). Gotuzzo iniciou sua formação em artes ainda em Pelotas com Frederico Trebbi e posteriormente completou seus estudos na Europa onde frequentou de 1909 a 1914 o ateliê de Joseph Nöel, em Roma. Na sequência foi para Madri em 1915, para a França, onde permaneceu até 1918. De volta ao Brasil ficou residência no Rio de Janeiro na década de 1920, onde permaneceu pelo resto de sua vida. Recebeu importantes prêmios ao longo de sua carreira de pintor, tais como premiação no Salão de Belas Artes do Rio de Janeiro (1915, 1916 e 1917) e no Salão Paulista de Belas Artes (1938 e 1939). Apesar de radicado no Rio de Janeiro, Leopoldo Gotuzzo sempre manteve fortes laços e vínculos com sua cidade natal e foi um dos incentivadores e patrono da Escola de Belas Artes de Pelotas, instituição para a qual fez a primeira doação de uma pintura por ocasião da inauguração da Escola em 1949, sucedida por ouras duas coleções: uma em 1955 e outra em 1983. E 1955, Gotuzzo doou um conjunto de 18 pinturas de sua autoria – o que se pode considerar já como o embrião para a criação do Museu. A terceira importante doação foi testamental, por ocasião do seu falecimento em 1983 – logo em seguida, em 186, o MALG foi inaugurado. Além das doações do próprio artista, a Coleção Leopoldo Gotuzzo tem sido acrescida de aquisições e doações posteriores de obras ou itens de natureza diversa relativos ao artista. A importância desta coleção vai ao encontro da própria missão do Museu eu prevê, em seu regimento “garantir a integridade física do acervo de obras de Leopoldo Gotuzzo, patrono do museu, e promover a pesquisa e a produção criativa e intelectual a respeito de sua contribuição para a história da arte brasileira. O conjunto de oras de Gotuzzo pertencentes ao acervo do MALG, principalmente as pinturas, mostra a trajetória de um artista que se mantém convicto de seus procedimentos e poética ao longo de toda sua vida, sem sofrer as influências dos movimentos de vanguarda que transformaram radicalmente a arte ao longo do século XX, mas garantindo a qualidade de sua produção.

 

02 - Coleção Faustino Trápaga.

 

A Coleção Faustino Trápaga é uma coleção composta por seis pinturas e duas esculturas, em sua maioria de artistas de reconhecida importância que atuaram principalmente na Europa no século XIX e início do século XX. Foi doada pela viúva de Faustino Trápaga Filho, Berthilde Rangel Trápaga, em 1954. Faustino Trápaga Filho era pai de Carmen Trápaga Simões, doadora do palacete construído por seu avô em 1881 e onde residia a família para ser a sede da Escola de Belas Artes de Pelotas. Que, a partir da doação do imóvel em 1963, passa a ser denominada Escola de Belas Artes D. Carmen Trápaga Simões. Trata-se, efetivamente, de uma família incentivadora das artes em Pelotas, Francisco Simões, marido de Carmen Trápaga Simões havia sido da diretoria da Escola de Belas Artes de Pelotas por ocasião de sua fundação, chegando a ser presidente da Escola de Belas Artes[v]. A Coleção Faustino Trápaga é composta por obras de artistas importantes e que estão presentes em significativas coleções de arte, bem como em reconhecidas casas de leilões como a Sotheby´s e a Christie´s, além de figurarem em acervos de instituições como o Museu Britânico, o Museu do Prado e o Museu Nacional de Arte da Catalunha. A coleção revela acultura e o gosto sofisticado da elite pelotense do início do século XX. No momento em que a Escola de elas Artes foi incorporada à Universidade Federal de Pelotas todo seu acervo passou para esta instituição e, no momento da criação do MALG, passou s integrar as coleções do Museu.

 

 

03 - Coleção João Gomes de Mello.

 

A Coleção João Gomes de Mello foi doada à Escola de Belas Artes Dona Carmen Trápaga Simões em 1971, pela viúva Maria Joaquina de Mello. De acordo com os arquivos existentes no MALG, em texto de Nicola Caringi Lima, diretor do museu no período 1997-2002, João Gomes de Mello Filho nasceu em 1904, no 5º Distrito do Rio Grande (Povo Novo), filho de João Gomes de Mello e Maria Luiza Ribeiro Mello, na época, pequenos produtores rurais. Ainda jovem, mudou-se para o Rio de Janeiro onde estudou medicina, vindo a tornar-se especialista em pneumologia. Como médico, dedicou-se ao trabalho comunitário, atuando intensamente junto à pulação carente. Durante algum tempo foi crítico de arte, inclusive no Jornal do Brasil, tornando-se colecionador. Reuniu um significativo acervo pictórico no qual se nota a preferência pelas paisagens, muitas marinhas, mas sem descuidar das figuras humanas e das naturezas-mortas. Sua coleção é composta principalmente por obras da primeira metade do século XX, de artistas nacionais e estrangeiros. Por ocasião do recebimento desta coleção, foi criada, na sede da Escola de Belas Artes Dona Carmen Trápaga Simões, uma sala em sua homenagem, Sala João Gomes de Mello Filho. Por ocasião da incorporação da Escola de Belas Artes e seu acervo à UFPel a coleção ficou na instituição até ser encaminhada ao Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo no momento de sua criação. Desta maneira, a Coleção João Gomes de Mello é mais uma das coleções originárias na Escola de Belas Artes e que passou para o acero do museu.

 

04 - Coleção Escola de Belas Artes.

 

A Coleção Escola de Belas Artes ou Coleção Ex-Alunos da Escola das Belas Artes, é composta principalmente por obras premiadas nas exposições anuais que a Escola de Belas Artes realizava com todos os alunos. O prêmio Estímulo às Artes - Prefeitura de Pelotas[vi] escolhia, através de uma Comissão Julgadora, os três melhores trabalhos de estudantes, que passavam a integrar o acervo da EBA - que, por sua vez, constitui esta coleção. Uma das características que merece destaque é que esta trata-se de uma coleção relativa ao surgimento e desenvolvimento do ensino da arte na Cidade de Pelotas, e que remonta à fundação da Escola de Belas Artes em 1949, posteriormente incorporada à Universidade Federal de Pelotas, atual Centro de Artes da UFPel - unidade acadêmica da qual o MALG é um órgão suplementar. É possível entender, a partir desta coleção, muito sobre a gênese da arte em Pelotas no século XX, que passa da identificação inicial com uma estética acadêmica e conservadora, seguida pela busca de sintonia com os movimentos de vanguarda, e se estende às recentes manifestações sintonizadas com a arte contemporânea. O início dessas mudanças já pode ser observado na Coleção Escola de Belas Artes, cujo recorte temporal vai de 1949 a 1973, e é possível supor que tais mudanças tenham sido decorrentes do contato inevitável que professores, alunos e ex-alunos foram estabelecendo com a crescente arte moderna. Outro dado interessante é reconhecer o início da trajetória de artistas que deram continuidade às suas carreiras e tornaram-se nomes importantes, em convívio e formação conjunto com outros estudantes que provavelmente tiveram apenas uma experiência que não foi continuada. Além disso, uma importante característica desta coleção é o reconhecimento, em várias obras, de algo que certamente remonta a exercícios realizados em aula, na medida em que se pode identificar um mesmo modelo representado por diferentes alunos, ou a presença de imagens e objetos pertencentes àquele ambiente figurativizados em vários trabalhos. Esta característica da coleção é de fundamental importância na medida em que o MALG é um museu universitário empenhado em compreender, incorporar e transformar os diferentes saberes na construção da cultura em seus variados níveis.

 

05 - Coleção Século XX.

 

A Coleção Século XX foi a primeira coleção constituída após a fundação do MALG e é formada principalmente por doações de artistas que realizaram exposições no museu ou através de doações isoladas. Compreende em torno de 200 obras produzidas num amplo período temporal. Constituindo uma coleção diversa em estilos, temas, linguagens e meios. Sua diversidade direciona-se para um recorte moderno/contemporâneo que é capaz de estabelecer variados diálogos com as demais coleções do MALG. Devido à sua diversidade, é possível que se aproxime da designação “coleção” por motivos meramente associativos, tendo em vista tanto o caráter coletivo responsável pela seleção das obras quanto à difusão e pluralidade de pontos de vista responsáveis pela seleção dos artistas, além da imprecisão, à época, de um plano museológico. Um dos critérios que defini esta coleção é a data de ingresso das obras para o arquivo do Museu: entre 1986 e 2000. Mas embora a definição de coleção esteja assentada em critérios voláteis, ainda é possível identificar alguns grupos de obras com características mais ou menos comuns neste grande conjunto. Assim pode-se associar parte desta coleção à Coleção da Escola de Belas Artes: muito embora as exposições com premiação anual tenham deixado de existir quando a Escola de Belas Artes foi incorporada à Universidade.

 

Muitas das exposições realizadas no Museu entre 1987 e 2000 davam visibilidade a egressos do Instituto de Letras e Artes que pleiteavam espaço para expor através de editais do MALG que tinham dentre suas cláusulas, a doação de uma obra para o Museu após a exposição – consistindo numa outra maneira de sancionar os alunos recém-formados. Outro grupo é aquele dos artistas atuantes, muitos de outras cidades do estado, de outros estados ou de países vizinhos, que almejavam espaço para expor no Museu nesses mesmos editais ou através de convites. Na maioria desses casos, o Museu assumia a responsabilidade de um sistema da arte frágil que, diante das crises econômicas, viu espaços de arte privados sucumbirem restando os espaços públicos como garantia ao estágio avançado do processo artístico - as exposições. E é possível identificar ainda, nesta mesma coleção, um grupo de obras diversas que entraram para o Museu através de doações avaliadas por comissões específicas. Mas um dos pontos de destaque desta coleção, enquanto coleção formada na instituição –a exemplo da Coleção Escola de Belas Artes -, talvez resida justamente em observar e entender as diferenças entre essas duas coleções com um panorama das transformações na produção e na fruição de arte no âmbito da academia na Cidade de Pelotas.

 

06 - Coleção Século XXI.

 

Assim como a Coleção do Século XX, esta coleção, ainda em formação, também é composta por doações de artistas que realizara exposições no MALG, u através de doações isoladas – seja de artistas, instituições ou proprietários de obras – a partir do ano de 2001. A coleção conta com itens que se caracterizam pela diversidade de suportes e diálogos entre distintas linguagens, com ênfase no contemporâneo. Trata-se de uma coleção bastante rica e complexa que possui nomes locais e nacionais de importância no cenário artístico do nascente Século XX. No entanto, tendo e vista os critérios para constituição desta coleção serem os mesmos adotados pela Coleção Século XX, há um detalhe   que merece atenção por indicar uma sensível alteração na conduta do Museu e, consequentemente, na maneira como este realinha sua identidade e função. Se a Coleção Século XX, foi constituída ao longo de 14 anos e possui aproximadamente 200 itens, a Coleção Século XXI que já completa 18 anos, reuniu ao logo de um período maior, um número consideravelmente menor de obras: em torno de 50. É importante que se considere que tal fato pode estar associado a uma mudança significativa no contexto local que passou a contar com outros espaços capazes de levar ao público muito do que tem sido produzido nas artes visuais em Pelotas, mesmo que isso ainda não caracterize a instauração de um mercado de arte local. Assim, o Museu voltou-se à divulgação do seu acervo, à realização de projetos interinstitucionais e à montagem de retrospectivas organizadas ou propostas a partir de pontos de visa curatoriais mais definidos. Observa-se, dessa maneira, a mudança de uma perspectiva seletiva – pautada na seleção de artistas em editais – da Coleção Século XX, para uma perspectiva mais propositiva -, em que o foco curatorial propõe leituras ou pontos de vista, seja sobre as Coleções do Museu, seja para exposições expandidas com outros artistas ou instituições. No entanto, mesmo que os critérios que orientam esta coleção ainda sejam tão voláteis quanto aos critérios da Coleção Século XX - relativo a data do ingresso da obra na instituição -, a constatação deste problema, na medida em que o Museu qualifica sua equipe técnica e passa a explorar mais seu acervo, aponta para a necessidade de revisão de tais critérios para possíveis ajustes ou redistribuição das coleções. Além disso, se a Coleção Século XXI parece tímida em termos quantitativos, deve-se considerar messe mesmo período a chegada de uma coleção que duplicou o número total de obras do MALG.

 

07 - Coleção L. C. Vinholes.

 

A mais recente coleção do MALG iniciou sua formação em 2011, e tornou-se a maior coleção do acervo do Museu. São aproximadamente dois mil itens que incluem pinturas, gravuras, mapas, desenhos, cerâmicas e esculturas. A coleção é oriunda da doação do seu proprietário o artista, compositor e poeta Luiz Carlos Lessa Vinholes, nascido em Pelotas e radicado em Brasília, após ter realizado formação musical em São Paulo[vii] e ter vivido em diversos países através de representações diplomáticas, principalmente no Japão. De acordo com José Luiz de Pellegrin que fez a curadoria e o texto de apresentação sobre a obra do artista para a exposição  As 7 Coleções do MALG,

 

“trata-se de uma coleção singular no conjunto pela abrangência das obras, objetos, técnicas, materiais, temas e origens culturais, bem como pela representatividade dos artistas que a integram e os locais e regiões de origem. Esculturas e gravuras esquimós do Canadá, objetos africanos, “amates” do México, gravuras do Japão em técnicas diversas como Gyotaku, Otsu-e, Ukiyo-e e cerâmicas Nabeshima, Nippon (1891-1921), Imari (séc. XVIII e XIX), Kutani, Suzu-yaki (séc. XX), Made in occupied Japan, Noritake, Mashiko, Urushi (laca) e ainda mapas antigos do Brasil e da América do Sul (1538-século XIX).”

 

Uma das grandes qualidades desta coleção, enquanto conjunto que ainda está em processo de catalogação pelos profissionais que integram o corpo técnico e especializado do Museu, é a sua capacidade de traduzir a riqueza cultural e o repertório global e multiétnico de seu colecionador, na medida em que permite que se entreveja a trajetória do artista, suas influências e importância na disseminação da cultura brasileira no exterior e da importância destas culturas em seu percurso.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

[i] O Ciclo de Palestras contou com a participação das professoras Carmem Regina Bauer Diniz, Carolina Corrêa Rochefort, Carolina Bonilha, Claudia Fontoura Lacerda, Clarice Rego Magalhães, Joana Soster Lizott, Raquel Santos Schwonke, Ursula Rosa da Silva e dos professores Fábio Galli e Wilson Marcelino Miranda.

[ii] A produção deste encarte, apresentando pela primeira vez as sete coleções que formam o acervo do MALG, só foi possível com a participação do próprio museu e do Centro de Arte, das equipes de apoio técnico e administrativo, contando com o financiamento da Sociedade dos Amigos do Museu e da Prefeitura Municipal de Pelotas.

[iii] O pintor e desenhista Francis Pelichek (1846-1937) nasceu em Praga, antiga Checoslováquia, e se naturalizou brasileiro.

[iv] VINHOLES, L. C. A Escola de Belas Artes de Pelotas, Memórias e história. Artigo em ,  em 24.10.2016.

[v] MAGALHÃES, Clarice Rego. A Escola de Belas Artes de Pelotas (1949-1973), trajetória institucional e papel na história da arte. Tese defendida junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Pelotas. 2012.

[vi] SANTO, Anaizi Cruz Espirito Santo. As exposições anuais da Escola de Belas Artes.

[vii] L. C. Vinholes estudou na Escola Livre de Música de São Paulo, no Departamento de Música da Universidade (Geidai) de Tokyo, no Departamento de Música da Casa Imperial (Kunaicho Gakubu) e na Associação de Gagaku, em Ugusudani, Tokyo

Comentarios

Maria do Carmo Maciel Di Primio  - 17/05/2024

Saudações e agradecimentos ao Prof. Vinholes pelo artigo "SOBRE AS SETE COLEÇÕES DO MALG". Importante relação do acervo, com especial destaque, para mim, a Coleção L.C.Vinholes. Fascinante!!!
Muito grata!

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