Venho eu, Godofredo, para pôr o ponto-final nas transmissões da “Turma dos Primeiros Socorros”. Deveria estar aqui o Irmão José, consoante pedido que lhe endereçou o pessoal, mas não quis prestigiar-nos com comunicação direta, porque, segundo ele, cabe aos alunos o mérito dos textos e do desenvolvimento espiritual relativo às aulas e demais atividades socorristas.
Sabemos que se trata de pura modéstia, mas como poderia vir falar de si mesmo? Assim, é preciso dizer que o Irmão José é queridíssimo de todos e tem livre trânsito por nossas mentes e corações, conhecendo-nos carinhosamente à perfeição. Se só existisse no Mundo a Religião Católica Apostólica Romana, seria o Irmão José o representante mais legítimo do sacerdócio não equivocado, que dá amparo a todos e não requer para si senão força e coragem para o enfrentamento das vicissitudes.
Eis o máximo que nos permitiu dizer a seu respeito.
Agora, devemos reforçar a atitude de fé e confiança em que os textos alcancem a boa vontade dos encarnados, na configuração de que os dados assinalados estejam rigorosamente dentro dos padrões espirituais, embora, muitas vezes, não condizentes com certas informações correntes dentro do Movimento Espírita oficial. É que os responsáveis pelas Federações e Centros Espíritas se sentem muitíssimo visados tanto pelos encarnados como pelos desencarnados, ficando em sufocante meio-termo. Não querem orientar mal os amigos e assistidos e também temem ofender a Doutrina de Kardec, o que repercutiria na assistência que vêm recebendo do Plano Espiritual.
A tese de que o orgulho, a vaidade e o egoísmo se infiltram, silenciosamente, no coração dos que aspiram a dizer algo além se incrustou na mentalidade dirigente do “Espiritismo de Resultados”, de forma que a afirmação do Codificador, segundo a qual o Espiritismo iria evoluir acompanhando os avanços científicos, queda relegada a segundo plano. Esse medo é imponderável, como se o Pai fosse capaz de cometer injustiças, quanto aos elementos que se plantam em situação tão perigosa, doutrinariamente falando.
Cada indivíduo é um complexo de reações especialíssimas, mas, no âmbito da administração espírita, o personalismo está totalmente afastado. A padronização tem de se ater aos códices do moralismo de plantão, de forma que os antigos representantes da espiritualidade, conforme o núcleo dos benfeitores, estão tornando-se cada dia mais raros.
Não são poucos os que são atacados por se deixarem influenciar por idéias não abonadas nos escritos de Kardec. É verdade que a orientação geral e filosófica deve fundamentar-se nas obras da Codificação. Se não for assim, este texto torna-se incompreensível. Contudo, ao lermos autores modernos, em suas descrições do campo etéreo, vemos que muitos dispositivos vibratórios estão ao alcance do magnetismo humano, como os efeitos de cura, por exemplo. Não são poucos os fatos dessa natureza que são registrados nas obras, através da aplicação de certas plantas. Mas, se alguém se atreve a apanhar um bastão da denominada “espada-de-são-jorge” para aplicar em tratamento espiritual, os chamados kardecistas se rebelam e acusam o coitado de macumbeiro, para dizer o menos. Enquanto isso, lêem André Luís (que teimam em grafar, não se sabe por que, Luiz, contrariando as normas ortográficas) e se admiram quando relata casos em que os mestres conversam com seres conhecidos por “elementais” e lhes pedem vegetais com propriedades curadoras específicas.
Isso nos leva ao culto da personalidade do médium mais famoso, Francisco Cândido Xavier, o qual, à vista da imensidade das obras psicografadas, muitas das quais absolutamente indecifráveis para a maioria dos espíritas, o tornou santo, mercê de sua bondade, de sua compreensão, de seu espírito de sacrifício. Quando desencarnar, irá ascender a círculos inimagináveis de paz, de amor e de angelitude.
Assim, Kardec, em primeiro lugar, e as obras patrocinadas pelos orientadores espirituais de Chico Xavier, vão tornando-se o vade-mécum dos dirigentes espíritas, que impedem a livre discussão das teses, transformando, para descontentamento do Codificador, em dogmas, todos os ensinamentos, não permitindo que as pessoas ergam seu edifício de fé, através de procedimentos próprios, principalmente porque cada ser humano se deixou cristalizar em particularíssimo momento energético, para a peregrinação atual.
Não estamos pleiteando tratamento diferenciado. Queremos, entretanto, exercer o direito de ser lidos e discutidos, apreciados e criticados, mas sem preconceitos, uma vez que valemos por aquilo que somos e necessitamos de aprimoramento constante, para conseguirmos avançar rumo à sabedoria possível, no âmbito dos conhecimentos humanos e espíritas.
Se lhes pedirmos que rezem por nós, na qualidade de irmãos em Deus, com certeza todos os leitores, indiscriminadamente, nos oferecerão o melhor de suas contrições espirituais e nos encaminharão vibrações do mais puro amor fraterno, em nome de Jesus, sob o manto protetor de todos os benfeitores de suas casas, famílias e individualidades.
Todavia, se lhes pedirmos que nos ajudem a pensar, examinando detidamente as idéias aqui transpostas, sentirão tremenda e instintiva rejeição, dada a possibilidade de virem a ser surpreendidos por argumentação que lhes indique novos caminhos para a apreciação existencial.
Não queremos permissão oficial para adentrarmos as casas sob jurisdição do Movimento Espírita. Basta-nos que cada pessoa que nos encontre em sua prateleira não se peje de se colocar diante de textos tão estranhos. Queremos que os leitores se sintam com a coragem de enfrentar os embates dolorosos das dúvidas, uma vez que possuir a verdade, como dom de perfeição, não se pode admitir, para esta fase do crescimento evolutivo.
“Onde Estão Nossos Pais?” termina sendo polêmica, em muitíssimos pontos, mas não deseja ser mais do que isso, segundo o prisma de que todos estamos aprendendo o evangelho do amor do Cristo, para o que não se pode titubear perante a investigação das próprias reações à vista dos desafios existenciais.
Resta perguntar, objetivamente:
— Onde estão nossos pais?
Sem dúvida, onde quer que estejam, encontram-se amparados pelo Senhor.