Povo brasileiro. Perdoem a minha ironia, estou revoltado com o progresso do mundo. Explico: Antigamente, a ilusão de óptica era restrita aos deuses. A física não existia. E com ela não havia explicações para os fenômenos que hipnotizavam os homens, ingênuos na sua constatação; verdadeiros por serem visíveis.
Mudam-se os tempos, e com eles as "ilusões". Há quase um século, Einstein abalava os alicerces do mundo conhecido com a Teoria da Relatividade. Mas, mesmo ele, se pudesse prever o futuro, não poderia dizer o quão relativo este iria se tornar. Pobres homens.
A palavra mais exata para definir as novas ilusões: Enganação. Hoje, os corpos apolíneos são delineados pelo bisturi do cirurgião "plástico"... colocam plástico ali, tiram banha daqui. Peitos e bundas, quando são belos, não o são por natureza. Lei da sobrevivência.
Fora os meninos, anabolizados, com um peito de pombo, que só faltam ciscar o chão para demonstrar a sua imbecilidade. Como se não soubessem que uma bexiga de gás hélio fica murcha em poucas horas. O efeito é o mesmo, e depois ficam deprimidos pelo que foram e que nunca voltarão a ser. A menos que busquem a beleza a qualquer custo e a morte venha como conseqüência.
Todos querem ser belos. E o momento é já, agora!!! Ninguém quer esperar muito tempo. Esforço... humm!!! Mesmo as pessoas que se prezam não conquistam a beleza através deste. A lei do esforço parece ser para os ingênuos do nosso tempo. Imbecis são aqueles que procuram conquistas no sacrifício. Bem-vindo ao mundo dos "Gersons".
E assim como o oásis some nas tempestades do deserto, com suas ambicionadas águas construídas pela imaginação, tais pessoas são tão reais como estes.
Mas uma só é a verdade: "Não podemos confiar nos nossos olhos". E tal constatação, apesar de óbvia, demorou a me atingir. Dentro de casa, o mundo real é mais imaginário do que todas as imaginações possíveis.
Foi somente numa dessas noites, na boemia proporcionada por São Paulo e desconhecida para mim, que a inspiração desse texto surgiu. Alguns amigos me arrastaram para fora do meu "recanto". E, apesar da minha indisposição, não me arrependi; o bar era agradável e as mulheres, muito bonitas. Comentei a beleza de uma mulher que passava a um amigo e ele me disse:
— "Essa é pré-fabricada".
— "O quê?! Pré-fabricada, o que é isso?!" — perguntei ingenuamente.
— "Mulher pré-fabricada é aquela que só é bela após uma bela produção" — respondeu-me pacientemente. E me ensinou os mandamentos da vida noturna, complementos da teoria do efeito oásis.
— "Amigo, o ditado que ouviu toda a vida é verdadeiro — na noite todos os gatos, gatas, são pardos. A mais terrível mocréia pode se tornar a mais bela princesa" — afirmou numa obviedade que me fez parecer estúpido. E continuou: — "É claro que um ambiente escuro, uma superprodução e a ajuda do amigo rei das ilusões, o álcool, ajudam a mudar toda e qualquer perspectiva. Principalmente para as mais pobres que não tem condições de se transformarem pela cirurgia". E confessou: — "O efeito oásis já se manifestou comigo. Estava alcoolizado e fiquei com uma garota linda. Até me gabei para os amigos. E quando a encontrei, meu Deus do céu... o filhote do satanás seria mais belo".
Passamos a noite inteira no debate fervoroso sobre a aparência, e muitos foram os causos e descobertas dos truques de beleza. Coisa boiola, né? Mas essenciais para não sermos enganados. Afinal, a tecnologia aliada com a criatividade pode transformar tudo. Bundas que são de espuma, vestidas em calcinhas, ou mesmo os sutiãs com enchimento, o famoso "wonder bra" — sutiã maravilha — que transforma o que não existe em fantasia. Cremes especiais que escondem as marcas de espinha; enfim, uma infinidade de recursos.
Dificil de escapar.
Mas pior é a maneira que nos empurram tais conceitos. Meios de comunicação. Todos os artistas promovem tal perfeição. A exigência de sermos belos. E acabamos sendo jogados em categorias — frustrados e não frustrados. Aqueles que aceitam as suas imperfeições (adoro as minhas gordurinhas) e os que se sentem incomodados pelo fato de serem iguais aos outros mas ainda não terem usado tais recursos.
Já vejo o futuro. Notícias nos jornais: "Extra, extra... artista "X" afirma que o seu seio é de verdade". Todos irão duvidar. Sou mais um seio de verdade na mão do que um de plástico recalchutado. É triste ver que, nessa nova lei da natureza, para se perpetuar a espécie vale absolutamente tudo.
Que vivam as suas ilusões de "serem", continuarei no meu mundinho.