CLAYR ROCHEFORT
PELOTAS E AS RELAÇÕES BRASIL-JAPÃO
L. C. Vinholes
27.06.2024
Nota: Há dezesseis anos, um dos jornalistas mais conceituados na minha cidade natal, diretor de Redação de um dos três mais antigos jornais do Brasil, brinda-me com um artigo que me surpreendeu, mas que, com humildade, aceitei. Entretanto, a bem da verdade e reiterando o que conversamos há anos, nesta nota, não posso deixar de voltar a fazer um reparo no que consta do texto assinado por quem se tornou um dos meus íntimos amigos. Talvez por falta de informação da minha parte, ele a mim atribui a autoria da letra do Hino da Escota Primária de Suzu, no Japão com música por mim composta em 1962. Na realidade, a melodia a cappella é minha, mas a letra é do saudoso poeta amigo Shuzo Iwamoto (1918-1979), líder do Grupo Pan Poésie de quem tive oportunidade e o prazer de traduzir algumas poesias. Vejamos o que diz o artigo.
PELOTAS E AS RELAÇÕES BRASIL-JAPÃO
“Pelotas, anos 50. Um jovem, 18 anos, olhar vivo, penetrante e comunicação rápida, surge na redação do Diário Popular. Como quem não quer nada. Mais um? Não. Trata-se de um estudante do nosso Conservatório à procura de alguém no jornal para conversar sobre música, sua paixão. Esse alguém era o cronista social e crítico de arte Waldemar Coufal. E o estudante Luiz Carlos Lessa Vinholes, nascido e criado em Pelotas. Já com muito tempo de estrada no ramo, o dr. Coufal - cabeleira banca, vasta e característica – recebe a todos que o procuram com cordial atenção. Mas Vinholes, parceiro nos recitais do Conservatório, se tornaria visitante assíduo do nosso cronista. Já como diretor da Redação do Diário e da Opinião Pública, jornais da Gráfica Diário Popular Ltda., podemos testemunhar esses contatos do jovem com o experiente profissional.
Pois, sem demora, Vinholes - L. C. Vinholes - aparece assinando pequenos textos e passa à condição de colaborador, publicando matéria ora num, ora noutro jornal da Gráfica. Sob a corresponsabilidade, é claro, do veterano cronista. Decididamente vocacionado para essa área do conhecimento, Vinholes pouco tempo mais tarde, concluiu os estudos no Conservatório local, deslocando-se para São Paulo. Lá, eram mais amplas as perspectivas de crescimento. E, decorridos alguns anos, mercê do seu talento e já como compositor começa a se projetar no País e no exterior.
A especialidade de Vinholes é a música dodecafônica, definida como técnica de composição e criada por Arnold Schoenberg (1864-1961), que se baseia em 12 sons da escala cromática. Como convidado para conferências e apresentações, viaja por diversos países.
Mas, ainda em São Paulo, enquanto cuida da formação musical, Vinholes mergulha no estudo do complicado idioma japonês. E em tempo recorde habilita-se a manter fluente conversação, sendo logo guindado à Usiminas, como intérprete, para atuar no país do Sol Nascente.
Voltando às coisas da cultura, acaba por se vincular a esse setor da Embaixada do Brasil em Tóquio. Entre outras inciativas, com o coração sempre ligado à terra materna, Vinholes abre caminho para estabelecer entre Pelotas e Suzu elos de fraternal amizade. Tornam-se cidades irmãs. Essa parceria foi selada há mais de 40 anos e a data dignamente comemorada. Há pouco, neste ano do centenário da imigração japonesa no Brasil, Pelotas inaugurou a praça Jardim de Suzu numa área situada na Avenida República do Líbano com a presenças dos prefeitos de Pelotas, Fetter Júnior, e de Suzu, Masuhiro Izumiya, com missão vinda especialmente do Japão para o ato. Observamos, então, a desenvoltura com que Vinholes traduziu todos os lances da cerimônia, com perfeito domínio de ambos os idiomas. Naqueles dias também escreveu artigos a respeito, publicados neste jornal e, posteriormente, reproduzidos em veículos daquela cidade, com ampla repercussão local, além de colaborar na organização do evento.
Aliás, na sua estada de quase dez anos no Japão o compositor e poeta pelotense se entrosou de tal maneira na comunidade local que essa convivência o inspirou a compor letra e música do hino de uma escola de Suzu. E ainda ensinou a meninada a interpretá-lo no que se houve com sua conhecida eficiência.
Para culminar, foi designado como uma das 250 (selecionadas entre 800) personalidades a receber a Comenda Kasado Maru, instituída pela Associação para Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil. A distinção coube a “personalidades que se destacaram na prestação de relevantes serviços à comunidade nipo-brasileira, a integração dos nikkeis à sociedade brasileira, ao fortalecimento da relação bilateral Brasil-Japão e ao desenvolvimento do Brasil. A solenidade de outorga realizou-se dia 15 último, em São Paulo. Vinholes se viu cercado do reconhecimento e do afeto de autoridades e amigos do seu e do país distante. Um jovem pelotense a serviço da música, que dialoga em todos os idiomas, e do anseio universal de entendimento entre as nações”.
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