Todos temos necessidade de heróis. Seja uma criança que vê nos personagens de história a força mágica que ela admira, seja no adolescente que deseja com ardor ser o hábil sedutor no cinema ou na televisão, seja no adulto que vê no profissional bem sucedido a imagem que gostaria para si. Sendo assim, a partir destes desejos tentamos alcançar a todo custo estes objetos inspiradores que até certo ponto norteiam nossas vidas.
Baseada nestas premissas, desde o momento em que me deparei com o chamado “ Movimento Feminista” , há alguns anos, fiquei a me perguntar: afinal, se o que se desejava era a igualdade entre homens e mulheres tentando fazer com que estas, chegassem à posição daqueles, nos seus mais diversos aspectos, (profissional, sexual, de mando, chefia, liberdade, etc.) existia na essência, algo que se contradizia pois, se buscavam igualdade, se buscavam alcançar o que era até então inatingível, acabavam confessando que “ele” era melhor, que era o padrão ideal, que era portanto, o “herói”. No entanto, esta declaração. além de não aparecer, era ruidosamente negada, tendo em vista os argumentos que normalmente eram empregados procurando sempre denegrir a imagem masculina com chavões, tais como: “ ... ele é machista...” sempre coroado com um ácido sabor. Rasgaram-se soutiens, procederam-se a reuniões, fizeram-se campanhas...
Ora, afinal, o que se buscava? O que se queria? Se era igualdade, significava que as mulheres estariam aquém e ... desejosas de chegar lá. Só que quem estava “ lá” era o homem que, por sua vez tinha sido colocado nesta posição pelo próprio movimento que dizia nas entrelinhas: “ temos que alcançá-lo”.
Os anos passaram e, três décadas depois, me deparo com situações que praticamente vem de encontro com a estranheza que sentia naquela ocasião. Jamais poderia dizer que havia previsto insucesso de tal movimento mas algo me incomodava e cheguei a refletir sobre o significado e as consequências, caso esta teoria realmente tomasse corpo da maneira extremada como foi no início.
O que quero ressaltar é que nada feito com radicalismo, movido pelo ímpeto do novo, traz frutos duradouros, capazes de provocar grandes transformações. A mídia, não só possibilitou a manutenção da tão falada figura da “ mulher-objeto”, como acabou propiciando até maiores investimentos: mulheres semi-nuas são usadas com muito mais frequência para atrair consumidores para os mais variados produtos, os filmes eróticos apresentam a figura feminina sempre como atrativo maior, não nos esquecendo do serviço telefônico “disque-erótico”. A “ mulher dona-de-casa” também ressurge no panorama televisivo ao focarem alimentos, produtos domésticos, mostrando cenas conjugais “à moda antiga” tendo inclusive uma das propagandas feito paralelo entre o marido e o marido da vizinha pontuando conquistas diferentes que teria feito. Ressaltou-se desta forma, a figura masculina como mantenedor financeiro. O “posso comprar querido...” também é uma constante, enfatizando minhas observações. Portanto, tanto o corpo feminino continua sendo enaltecido, como suas capacidades reduzidas “às prendas domésticas”.
Observava as mulheres naquela ocasião vivendo um processo semelhante à da adolescência que ao fazer descobertas submete-se com facilidade à pressão do grupo. Esta influência acabou em muitos casos, impedindo a reflexão individual. Não foi incomum muitas atirarem-se a esmo, buscando o “seu espaço”, quando na verdade seu foro íntimo gritava pela manutenção do papel que até então sempre haviam desempenhado. Tornou-se um modismo, não tendo sido raro o processo de desestabilização pessoal pois, a voracidade pelo novo se fez presente, sem contar a fragilidade que tomou conta dos homens por terem se sentido ameaçados.
Apesar destas constatações (o aspecto revolucionário de ontem e a manutenção sobre a imagem da mulher de hoje) vejo que de maneira paulatina, progressiva, estamos marcando presença em vários setores da vida: profissional, política, esportiva.
O equilíbrio só é atingido depois de termos colocado nos dois pratos da balança os prós e os contras, tirados de dentro de cada um, em momento de reflexão interna, com calma, sem desatinos.
Não entro em defesa nem de um, nem de outro pois há lucros e perdas em qualquer situação de mudança mas, permeando este impasse, penso que se há semelhanças que podem ser equiparadas, existem as diferenças que não podem ser negadas, esquecidas ou rechaçadas, existindo algo a ser considerado: a complementariedade onde cada qual desempenhará funções e papéis.
O juntar, somar, dividir, são fatores muito mais enriquecedores para ambos. A “ guerra” estabelecida dicotomizava, apresentava uma atitude separatista, não só agredindo o homem quase que a negar-lhe os seus atributos, como também desconsiderando funções maternas e a feminilidade que faz parte intrínseca da mulher. Atendí jovens que ao terem estes conceitos internalizados tentavam negar a todo custo estas peculiaridades tão saudáveis, mostrando rejeição sobre si mesmas.
O fato de sermos fruto da miscigenação de vários povos que trazem no seu bojo os papéis masculino e feminino fixados dentro de rígidos critérios como sustentadores do núcleo familiar (árabes, italianos, portugueses, etc.) , não deve ser desconsiderado pois, quebrar raízes tão profundas é muito difícil e a luta pela luta não colabora para conquistas positivas; cria resistências estabelecendo desastroso clima. Novamente volto e pontuo a complementariedade como ponto chave e primordial; que a equiparação atue como auxílio mútuo, como duas partes que se unem, com características diferentes e que volte também, o enaltecimento às peculiaridades femininas. Que se faça uso delas pois a concepção de “ ... é tão bom ser mulher...” “ ... é tão gostosa a entrega...” foi não só esquecida como negada e repudiada; mesmo que isto não seja gratificante para todas, que nem todas concordem com isto, não é guerreando que se terá proveito ou que se modificará as estruturas estabelecidas.
Embora tenha focado esta temática, amplio esta consideração para muitos outros assuntos onde, a precipitação, a decisão imediatista, a pressa em resolver questões que tanto caracteriza o brasileiro que rapidamente veste as novidades, dificilmente traz retornos positivos e duradouros. A ânsia obscurece não permitindo enxergar a problemática no seu todo, impedindo a ponderação e o equilíbrio.
Apesar de não termos atingido o ideal (e o que é ideal?) , estamos vivendo atualmente conquistas um pouco mais consistentes, mais ponderadas não negando as diferenças que indubitavelmente existem. Muito ainda temos a percorrer mas que o façamos de maneira tranquila, com bom senso, mostrando-nos como capazes mas ao mesmo tempo não negando-nos o direito de sermos mulheres que tem características próprias até na maneira de receber e doar afeto.
Passemos às nossas adolescentes que é muito bom ser mulher para que a nossa figura se revitalize dentro das inegáveis diferenças.
Termino com um trecho do livro “ Homem/Mulher - Encontros e Desencontros” de Gilda Bacal: “.... muitas mulheres acreditam que ficariam bem e até aliviadas se ficassem sozinhas mas, no íntimo, duvidam se este estado seria duradouro.... bradar as vantagens de sua independência e tentar valorizar a sua liberdade, no fundo se trata, na maioria dos casos, de um mero discurso compensador que mascara o desejo de um novo romance e sobretudo de uma ligação estável...”.