PRIMEIROS POEMAS PUBLICADOS
L. C. Vinholes
07.09 2024
Não imaginava que meu cuidado para não poluir determinado parágrafo de um artigo escrito especialmente para homenagear tia Zonzete, a professora Suzana Burtin Vinholes[i], autora do Dicionário Francês-Português, Português-Francês, há décadas publicado pela Editora Globo, teria reação por parte de leitores interessados em conhecer os seis poemas que deixei de publicar.
Sempre tendo como propósito compartilhar o que tenho, o que sei e o que faço, decidi elencar os poemas que foram os primeiros a serem publicados em um órgão de imprensa, A Opinião Pública de Pelotas, RS, minha cidade natal. Cronologicamente, eles farão parte dos parágrafos seguintes, acompanhados, se for o caso, de informação adicional.
Os títulos desses poemas têm, entre parêntesis, o úmero da página na qual figuram da antologia artesanal Retrato de Corpo Inteiro, com todos os poemas e versos que escrevi no período de 1947 a 2007. À guisa de prefácio, a antologia tem uma introdução intitulada Minhas atividades com a poesia - Conhecer Produzir e Divulgar.[ii]
Por oportuno, registro que fiz dois originais da antologia em apreço, um dos quais em outubro de 2007 enviei à Contraponto Editora Ltda. do Rio de Janeiro. Com esperança de publicação, durante vários meses, troquei correspondência com a Gerente Editorial e o Gerente Comercial. Em 25 de novembro de 2008 enviei mensagem a esse último solicitando devolução do exemplar recebido, mensagem com Aviso de Recebimento (AR) que me foi devolvido com assinatura e data de recebimento em 28 do mesmo mês. Recentemente, por não conhecer as eventuais novas chefias daquelas gerências, enviei mensagem ao e-mail da editora, sempre na esperança de rever o exemplar da antologia por eles recebida. Só tive resposta por telefone: “... houve mudança de pessoal e a boneca não foi localizada ...”.
Felicidade (82) [iii]
A noite é silenciosa, escura e fria,
No céu, em burburinho se juntando
Estão as nuvens que, em doida correria,
Dos extremos do céu estão chegando.
Na terra, desde que findava o dia,
Os homens pela chuva esperando
Ficavam, mas a chuva não caía
E as nuvens pelo céu foram passando.
Também na nossa vida, quantas vezes,
Por um bem esperamos tantos meses
E outros tantos devemos esperar,
Para alcançar aquilo que queremos,
Que acabará com a dor que nós sofremos,
Que nos fará felizes quando chegar.
Anjo de ternura (84)[iv].
Sentada, qual um anjo de ternura,
Em brancas teclas a escutei tocando,
Que pareceu ser do céu a criatura
Mais bela que na terra está morando.
Na execução, que é firme e que é segura,
O coração em notas transformando,
Na melodia mais simples e mais pura,
Vai Verônica Mimoso[v] improvisando.
Ó pássaros. Ó brisa. Ó natureza.
Vinde todos aclamar a realeza
Do gênio que nasceu em Cleveland.
Pois ela é a lua do século que passa,
O orgulho da mortal e humana raça,
A musa que entre nós ora se expande.
Como é bom..., (90)[vi].
“C´est si bon”[vii]
Com é bom ter que esperar
A negra noite chegar
Com seus milhares de estrelas;
E, depois, junto contigo,
Do teu olhar sob o abrigo,
Cheios de encanto revê-las.
Como é bom ficar sozinho,
Recebendo teu carinho
- Ó carinhosa mulher -,
Destas tuas mãos delicadas
Que não serão desprezadas
Por outras de um ser qualquer.
Como é bom ficar te olhando ...
Como é bom ficar pensando
Num dia que vem chegando ...
Que vem chegando ... chegando ...
Isso tudo como é bom.
Falso amor (97)[viii].
Levava a pedra fechada
no centro da sua mão,
nos longos dedos trancada
bem como num coração.
Olhava alegre e sorria
trazendo aquele tesouro,
que só ela não sabia
ser falsa pedra de ouro.
Conselho (107)[ix] .
Embora muito sofras nesta vida,
Por mais que tu padeças neste mundo,
Não desanimes, pois terás vivida
A vida de um viver nobre e fecundo.
Galga este monte de feroz subida,
Sai deste vale tormentoso e fundo
Onde a vaidade se encontra escondida,
Onde o pecado é vigoroso e imundo.
E, assim fazendo, te darei certeza
Que passará esta cruel tristeza
Que em tu´alma brota e que teu ser corrói.
Então, terás os louros da vitória
E o teu viver há de findar com glória,
Pois nesta vida tu foste herói.
Despedida (126)[x].
Parte o pássaro cantando
Deixando atrás a campina,
Eu parto também sonhando
Pela música divina.
Pela música divina
Eu parto também, sonhando,
Deixando atrás a campina
A campina atrás deixando.
Eu parto para encontrar
De todo o saber a fonte
E o cantor para cantar
Na luz de novo horizonte.
Com o tempo, este último poema não foi tomado apenas como uma promessa, mas passou a ser o registro de uma decisão que significou anos de ausência, com temporadas de durações diversas em São Paulo, Tokyo, Assunção, Ottawa, Milão e Brasília, sem nunca, como sempre tenho dito, permitir que meu cordão umbilical com Pelotas fosse cortado, mas bem pelo contrário, procurei fazer tudo que me foi possível para solidificar meus laçõs com meu torrão natal.
[i] Vide artigo A Professora Suzana Burtin Vinholes, Tia Zonzete, desde 23/08/2024, disponível no site usinadeletras.com.br.
[ii] Introdução à antologia Retrato de Corpo Inteiro, publicada em 23/06/2023, no site usinadeletras.com.br.
[iii] Felicidade: De 19/01/1952. Publicada em 14/02/1952.
[iv] Anjo de ternura: De 01/03/1952. Publicada em 03/03/1952.
[v] Verônica Mimoso (Liszt), menina prodígio, pianista de 14 anos, que se apresentou em Pelotas nos dias 8,12, 20 e 23/03/1952, conforme registram meus artigos dessas datas, publicados no jornal A Opinião Pública.
[vi] Como é bom ... De 01/03/1952. Publicada em 03/03/1952. Dedicada à Irany Andrea,
[vii] C´est si bom, canção popular francesa, composta em 1947 pelo pianista e compositor francês Henri Betti (1917-2005),
[viii] Falso amor. De 14/09/00. Publicado em 27/09/1952
[ix] Conselho. De 17/10/00. Publicado em 19/10/1952.
[x] Despedida. De 29/12/1952, às vésperas da partida para o III Curso Internacional de Férias da Pró-Arte, em Teresópolis. Foi publicada em 03/01/1953 na coluna Vitrine Literária, assinada por Ivy, pseudônimo do poeta e jornalista amigo Carlos Alberto Mota, do jornal A Opinião Pública, de Pelotas.
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