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Artigos-->A Antologia de Teatro e as cartas de Guilherme Figueiredo -- 25/09/2024 - 09:31 (LUIZ CARLOS LESSA VINHOLES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

A ANTOLOGIA DE TEATRO

E

AS CARTAS DE GUILHERME FIGUEIREDO

 

L. C. Vinholes

25.09.2024

 

Durante minha estada no Japão tive oportunidades de conhecer pessoas que se tornaram amigos para anos e décadas à vista. Uma delas foi o teatrólogo Jun Shimaji que também usava o pseudônimo de Jun Makihara, formado em russo pela Universidade de Línguas Estrangeiras de Tokyo e envolvido com novos grupos de teatro.

 

Um dos meus projetos nos primeiros dez anos de Tokyo, era publicar uma antologia de peças de autores brasileiros, aproveitando os esforços que vinham sendo feitos por beneméritos tradutores e o interesse de alguns diretores em encenar peças brasileiras.

 

A partir de agosto de 1958, o teatro brasileiro estava em voga quando o público japonês tomou conhecimento da existência desta atividade artística no Brasil, com a apresentação da peça A Raposa e as Uvas, de Guilherme Figueiredo, na tradução de Jun Shimaji, pelo grupo Budo no kai, no teatro Asaki Kaikan, em Osaka.

 

Foram também apresentadas no Japão[i] O Anjo, na tradução de Ayako Hashimoto, depois Ayako Takagi, com a presença do autor Agostinho Olavo, pelo grupo Gekidan Hanshin, dirigido por Jun Shimaji e Jiro Izumi, no teatro Yoyogi Shogekidyo (1966), em Shibuya, Tokyo; e As Mãos de Eurídice[ii], de Pedro Bloch, em tradução, a quatro mãos, por Jun Makihara com minha parceria, apresentada em junho de 1967 pelo ator Asao Sano, pertencente ao grupo Gekidan Mingei, dirigido por Jyukichi Uno, inaugurando o teatro Underground Sasori-za, também em Tokyo. Com sucesso, as peças de Figueiredo e Bloch foram apresentadas nas mais distantes regiões do Japão.

 

Quando passei a trabalhar na Embaixada em Tokyo, em julho de 1961, dediquei-me à implementação do ambicioso projeto. Mas as dificuldades a enfrentar eram bem maiores do que se esperava e o tempo passava velozmente. Prova disso são os primeiros parágrafos de minha carta datada de Ottawa, em 11 de dezembro de 1978, para Guilherme Figueiredo:

 

Caro professor Figueiredo,

Leio novamente sua carta de 18 de dezembro de 1967, quando dialogávamos sobre a antologia de peças brasileiras a ser publicada em Tokyo, incluindo A Raposa e as uvas.

 

Enquanto isso, em Paris, o caro amigo indo a Eu e Ruão[iii], providenciava o retorno ao Brasil de objetos históricos, entre os quais o “quadro de Debret, a Coroação de D. Pedro I e a mesa na qual a Princesa Isabel assinou a Lei Aurea”.

 

Onze anos se passaram.

 

Em 1968, sai do Japão para o Paraguai sem ver a antologia pronta, fiquei entre os guaranis até abril de 74. E em um mês depois estava novamente em Tokyo tratando, outra vez, da antologia que, finalmente, saiu em meados do ano passado, 1977, pouco antes de minha mudança para Ottawa.

 

Na carta de dezembro de 1968, Guilherme Figueiredo que, depois de deixar Paris, desde abril daquele ano estava no Rio de Janeiro, põe seus préstimos à minha disposição e escreve:

 

 “Sinto-me orgulhoso de ter a nossa Raposa incluída na antologia japonesa: devo-o a você e ao nosso Jun Shimaji, preciosa criatura que generosamente decidiu descobrir o Brasil. Por favor, mande-me um exemplar da obra”.

 

Recordando, o projeto continuava sua saga e, para atender a aspectos econômicos e de comercialização, teve sua forma definitiva na escolha das peças O Protocolo[iv], A raposa e as Uvas, O Anjo e As Mãos de Eurídice, as três últimas por terem sido representadas por grupos profissionais japoneses e a primeira por ser obra de um mestre do teatro clássico brasileiro. Um ensaio sobre o Teatro no Brasil completava a antologia, ilustrada com fotos das representações no Brasil e no Japão. A antologia que deveria estar pronta em fins de janeiro de 1968, por motivos alheios aos dos seus idealizadores, deixou de ser uma realidade e só em junho de 1977 saiu das máquinas impressoras da conceituada firma Teatro Kabushiki Kaisha (Teatro Co. Ltda.)

 

Em carta datada do Rio de Janeiro, Pascoa 1996 - do envelope lê-se a postagem sendo  de 10.04.1996 -, Figueiredo comenta que “Infelizmente o projeto de ir a Tokyo, obra de conspiração sua e do amigo Jun Shimaji, não se realizou” e termina sua missiva informando como ocupa seu tempo: “Para sobreviver depois disto, aceitei escrever minhas memórias” e confessa que “isto me transmite a estranha sensação de me ter tornado uma espécie de zumbi a me contemplar num incômodo espelho côncavo-convexo onde me vejo definitivamente como uma árvore torta e desfolhada”.

 

Observações

 

- Jun Shimaji fez a primeira tradução de A Raposa utilizando a verão em russo e, em um dos nossos encontros, ficou decidido que faríamos uma leitura cotejando esses dois textos com seu texto em japonês, trabalho realizado no final de muitas tardes em um café do Bairro de Ikebukuro, equidistante de nossas residências, o que resultou em alguns acertos evitando linguagem que não sintonizava com o ambiente social e político no Brasil. Embora as decisões tomadas, sabíamos que, no  final de 1961, do programa distribuído ao público nas apresentações na zona leste do Japão, o tema da liberdade tratado na obra de Figueiredo era relacionado ao movimento comunista no Brasil e na América Latina que se esboçavam na política socialista do presidente do Jânio Quadros e na Revolução Cubana.

 

- Os recursos para cobrir os gastos com a publicação da Antologia, foram sempre um dos pontos de difícil solução, mas que ficou resolvido após a mediação de Elias Antunes com seus ex-chefes na Companhia Vale do Rio Doce. Antunes, consultor, paranaense de Londrina, cursou filosofia, bacharel em Teologia pela PUCSP, trabalhou na Usina Siderúrgica de Minas Gerais (Usiminas); fez estágio na Siderúrgica Japonesa Yawata[v] e foi ex-bolsista do Ministério da Educação japonês, vindo a substituir-me na Embaixada do Brasil em Tokyo quando da minha remoção para o Consulado-Geral do Brasil em Assunção, Paraguai.

 

 

[i] Veja o artigo Teatro Brasileiro no Japão, publicado em maio de 1977 no site usinadeletras.com.br.

[ii] As mãos de Eurídice, monólogo de Pedro Bloch.

[iii] Ruão, cidade medieval francesa, atual capital da Normandia e do departamento do Sena Marítimo.

[iv] O Protocolo, peça de Mach\ado de Assis, o escritor negro fundador da Academia Brasileira de Letras.

[v] Yawata situada na Ilha de Kyushu, é a maior usina siderúrgica do Japão, projetada ao mesmo temo da Usiminas, por ser vantagem econômica.

Comentarios

Maria do Carmo Maciel Di Primio  - 17/10/2024

Querido e estimado Prof.Vinholes, cada texto seu me leva a sonhar com tempos de muita riqueza cultural . Admiro muito quem fala e escreve Russo, Japonês e Chinês. Grata por esta viagem cultural !!

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