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Artigos-->O MADONNADO DE MILÃO E AYRTON SENNA -- 14/10/2024 - 09:00 (LUIZ CARLOS LESSA VINHOLES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

O MADONNADO DE MILÃO E AYRTON SENNA

L. C. Vinholes

14.10.2024.

 

Desta vez, para escrever este artigo, valho-me do jornal Il Diario di Milano, um dos mais prestigiados, que na reportagem de 21 de abril de 1997, assinada por Piero Lotito[i], usa o título Anche il “madonnaro” ama il rock ou, em português, Até o “madonnaro” adora rock.

 

Procurando saber o que é o madonnaro, que até na tradução do Google para o português é também madonnaro, encontramos o seguinte verbete: “Quem produz ou vende imagens da Virgem (Maria); aqueles que se dedicam à representação de temas sagrados (principalmente Madonas[ii]), com giz colorido, no calçamento de praças ou ruas. Portadora da imagem de Nossa Senhora, em procissão”.

 

Duas semanas antes da publicação do jornal, recebi no Consulado-Geral a visita de Louis Apollonio, artista que conhecera semanas antes e que com ele acertara a tarefa de pintar, em algum lugar em Milão, o retrato de uma personalidade brasileira conhecida na Itália. Em minutos havíamos acordado que seria Ayrton Senna, falecido em inesperado desastre na corrida da Fórmula 1 em São Marino, na Bolonha, Itália. Quando abri o jornal, encontrei a foto com Louis retocando o retrato do piloto, pintado na ampla calçada da lateral da Praça da Catedral de Milão. Degustando um café brasileiro, logo acertamos que a próxima personalidade seria Ronaldo Fenômeno, o atacante da Seleção Brasileira de Futebol, igualmente apreciado pelos amantes desse esporte.

 

 

Ayrton Senna na praça da Catedral de Milão

 

Interessei-me pela reportagem de Pierro Totito e, lendo, me dei conta de que os italianos estavam cansados de ver “madonas” e começavam a apreciar figuras famosas, pois o texto do jornal dizia: “Chega de Madonas de Perugino ou anjos de Botticelli: o rock madonnaro, um retratista altamente qualificado de estrelas do esporte, da moda e do entretenimento, está na moda na Piazza Duomo: de Ornella Muti a Vasco Rossi, de Linda Evangelista a Ayrton Senna”. E é justamente aqui - ressalvando-se o trocadilho fonético -, que entro em cena quando Pierro revela um segredo de Louis: “Mas aquele sacripante[iii] Louis Apollonio esconde outra peculiaridade: é incrível dizer que é um madonnaro com patrocinador. E o patrono é ninguém menos que o chefe do setor de cultura do consulado brasileiro, Luiz Carlos Lessa Vinholes[iv]”. O artista, sem perder tempo, explicou a nossa história: “Um dia ele me viu no trabalho e me ofereceu uma quantia simbólica para desenhar um personagem brasileiro todos os meses.” E acrescentou: “Quer ver que, assim que o consulado alemão souber da engenhoca, o rosto de Michael Schumacher vai parar na calçada?”

 

Quem era Louis Apollonio

 

Valendo-se do texto do jornalista Pietro Totito, posso dizer que Louis Apollonio tinha 35 anos, nascido em Francisco, filho de pais italianos, autodidata, .... e confessa abertamente que quando lhe perguntam sobre as suas qualificações antes de lhe confiarem a elaboração de um mural, ele diz que frequentou a Academia, que desenha nas calçadas de toda a Itália há sete anos[v]; que em 1993 fez uma viagem à Praga com o irmão Enrico, e também ali teve grande sucesso, tanto que mereceu longos artigos nos jornais da cidade; e que sempre praticou o tema profano, desde que começou com o retrato de Robert Smith[vi]. Indagado sobre essa preferência de gênero, respondeu: “Gosto mais e não nego que também busco o efeito surpresa nas pessoas. Meus assuntos não são apreciados apenas pelos jovens”.

 

Epilogo

 

Depois de ver os rostos de Ayrton Senna e Ronaldo Fenômeno pintados nas calçadas de Milão e ter permanecido por mais dois anos na Itália, nunca mais vi os retratos de outros brasileiros que Louis e eu havíamos escolhido, nem de personalidades de outros países, estampados nas ruas da capital da Lombardia. Certamente, conforme diziam, as autoridades locais haviam proibido essa prática, em favor daquilo que tornara os madonnaro artistas respeitados.

 

[i] Jornalista autor do livro Lo zio Aronne somigliava a Jean Gabin. La bellezza dimenticata dell´Italia deggli anni Cinquanta, il sogno di un mondo che rinasceva (Tio Aaron parecia Jean Gabin. A beleza esquecida da Itália dos anos 1950, o sonho de um mundo renascer).

[ii] Madona ou Nossa Senhora com o menino Jesus ao colo.

[iii] Sacripante, equivalente a sacripanta em português, é usado como safado, esperto e “pessoa que demonstra ser beata, mas não é”.

[iv] No período de abril de 1966 a novembro de 1999, servi no Consulado-Geral do Brasil em Milão, como Encarregado do Setor Cultural, de Cooperação e Divulgação e. concomitantemente. cuidava das atividades do Instituto Brasil-Itália (IBRIT).

[v] Referindo-se a 1970.

[vi] Robert James Smith, cantor e compositor inglês, vocalista, guitarrista e multi-instrumentista e cofundador da banda de rock The Cure, em 1978.

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