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Artigos-->O NOVELISTA SANEATSU MUSHANOKOJI E SEUS PENSAMENTOS -- 11/12/2024 - 11:57 (LUIZ CARLOS LESSA VINHOLES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

O NOVELISTA SANEATSU MUSHANOKOJI E SEUS PESAMENTOS



 



L. C. Vinholes



24.12.2024



 



 



Quase no final da minha segunda estada no Japão, o mundo da literatura e das artes perderam uma das suas mais significativas figuras: Saneatsu Mushanokoji 武者小路 実篤. Eu que me interessei pela simplicidade dos seus minúsculos escritos colecionava toda e qualquer notícia que aparecesse em jornais e revistas e, com o tempo, tinha uma coleção de recortes e apontamentos que se comparava com as de outros assuntos, material que guardei até hoje e que me permite não só rever e lembrar o que vivi, mas também de compartilhar o que me parece interessante, principalmente para quem vive em um ambiente com princípios e tradições tão distintas como o nosso. Pela facilidade de acesso, entre minhas fontes favoritas, estavam os jornais The Japan Times e The Mainichi Daily News, disponíveis aos brasileiros que chegavam a Tokyo. Foi cotejando a grafia do nome do novelista-artista que me dei conta de que nem a imprensa tinha um mesmo padrão para escrever romanizados os nomes japoneses. O Japan Times escreveu Mushanokoji e o Mainichi apenas Musakoji. Hoje, décadas passaram, meu tempo dita e, por isso, me desfaço de muita coisa, só registrando aquilo que acredito ainda valer a pena. Minha biblioteca nunca teve uma única obra de Mushanokoji, mas dele conservo dois pequenos pratos com 21 cm de diâmetro, adquiridos em leilão, ambos com desenhos acompanhados pelos seus correspondentes “pensamentos escritos” em delicadas e tradicionais pinceladas de 墨絵 = sumie[i].



 



Quem era Mushanokoji



 



         Filho de um visconde, nascido em Tokyo em 1885, ingressou na Universidade Imperial de Tokyo e dela saiu sem completar seus estudos. Em 1910, tornou-se parceiro dos novelistas Noya Shiga (1883-1971) e Takeo Arishima (1878-1923), publicando a Revista Shirakaba[ii] e liderando um movimento humanista e idealista que, na época, marcava a literatura japonesa.



 



         A fama de Mushanokoji como novelista deveu-se às suas obras Kofukusha (Um homem feliz, 1918), Yojo (Amizade,1919) e Aru Otoko (Um certo homem, 1921). A versatilidade de Mushanokoji ficou também reconhecida quando em 1918, “em busca de fraternidade”, seguiu as ideias do novelista russo Leo Tolstoi, e criou a comunidade agrária Atarashiki mura (Novo Vilarejo) na Província de Miyazaki, em Kyushu, uma das quatro maiores ilhas do Japão, situada no Sul do país. A Revista Shirakaba deixou de existir pouco depois do Grande Terremoto de Kanto[iii] (1923), época em que, no início da Era Showa (1926-1989), surgiu a “literatura proletária”. Daí em diante, desgostoso com a tendência esquerdista da literatura japonesa, Mushanokoji escreveu poucas novelas e dedicou-se à pintura, foi eleito para a Academia de Artes do Japão (1937), época em que escreve a exitosa Ai to Shi (Amor e morte) e, em 1939, volta a criar a tão sonhada “comunidade agraria”, desta vez na Provincia de Saitama, próxima a Tokyo. Em 1946, chegou a ser eleito para a Câmara dos Pares[iv] da qual teve que resignar com a “limpeza” praticada pelas forças de ocupação estadunidenses e foi impedido de entrar na Academia de Artes do Japão. Em 1948, começou novamente a escrever se tornando popularmente famoso com Shinri Sensei (Professor de verdade), publicada em capítulos nos anos 1949 e 1950; recebeu a Medalha da Ordem da Cultura (1951) e foi reeleito para a Academia de Artes. Criticou severamente o suicídio de Yasunari Kawabata, Prêmio Nobel de Literatura e, em contrapartida, declarava que seu ideal era “viver com alegria e gratidão enquanto ajudando ao próximo”. No fim de sua vida, a família de Mushanokoji nunca o informou que a esposa Yasuko havia falecido, pois sua saúde estava abalada e ele ficara profundamente chocado quando soube que ela tinha câncer. Mushanokoji esteve inconsciente nos últimos três dias de vida e faleceu no Hospital Universitário Jinkei, de Komaba, em Tokyo, onde fora hospitalizado em 22 de março de 1976.



 



 



Os pensamentos de Mushanokoji



 



 



Não tive formação nem tempo que me permitissem conhecer as dezenas de novelas de Mushanokoji, mas vou limitar-me a traduzir apenas o que está escrito nos pratos ornamentais, acima mencionados.



 



Um dos pratos tem três pêssegos, suavemente coloridos, e outro mostra a vista de um vale, criado por amplas, suaves e convergentes inclinações do terreno, tendo ao fundo um par de enormes montanhas.



 



 



 







 



Mushanokoji, no prato dos pêssegos, escreveu:



 



                        仲よき事は   美しき哉,



que romanizado é:



                                           Nakayoki Koto wa     Utsukushiki Kana[v]



e que tem como tradução:



                                           Boas relações      são lindas.



 



e no das montanhas:



       この道より    我を生かす道なし     この道を歩く



que romanizado é:



               kono Michi yori     Ware wo Ikasu Michi nashi     kono Michi wo Aruku[vi]



e que traduzido fica:



              Não há outra maneira de tirar o máximo proveito de mim mesmo do que esse caminho que percorro.



 



         Como identificação do autor e, neste caso, sendo um dos elementos fazendo parte da composição visual-gráfica do desenho de cada um dos pratos de Muahnokoji, são dois ideogramas, um embaixo do outro, escritos com pincel e 墨 = sumi=tinta preta, e o 印鑑 = inkan, em tinta vermelha, também com dois ideogramas lado a lado um do outro, marca deixada pelo 判子 = hanko = selo, carimbo geralmente feito de madeira, metal, osso ou plástico.



 



              Por oportuno, registro aos leitores não familiarizados com a poesia clássica japonesa que, chamada  和歌 = waka, é dividida em dois tipos principais, o 長歌 = choka poema longo, com número inderminado de estrofes, e o 短歌 = tanka, com 5 versos e 31 sílabas. Lembro também o 俳諧 = haikai criado no Século XVI, geralmente de 3 versos com  7, 5 e 7 sílabas e o 連歌 = renga ou poema encadeado, criados por dois ou mais poetas, seguindo o número de versos do haikai. Vale lembrar o 都々逸 = dodoitsu, criada na área rural no Período Edo (1603-1868) de forma livre, jocoza e alegre. Os textos de Mushanokoji, nos pratos abordados, não pertecem a nenhuma das formas citadas, mas são maneiras únicas que ele mesmo criou para expressar e registrar seus pensamentos.



 



 



 



[i] Sumiê é uma técnica de pintura monocromática originada na China com uso de tinta nanquim





[ii] Shirakaba ou Bétula branca ou Betula platyphylla, figurou no mon-selo-carimbo oficial da imperatriz Michiko, esposa do Imperador Akihito.





[iii][iii] Kanto é a assim chamada Grande Área de Tokyo, incluindo as áreas das Prefeituras de Gumma, Tochigi, Ibaraki, Saitama, Tokyo, Chiba e Kanasawa.





[iv] A Câmara dos Pares era a câmara alta da Dieta Imperial, conforme determinado pela Constituição do Império do Japão (fevereiro de 1889 a maio de 1947).





[v] Nesta romanização do texto, as letras maiúsculas correspondem aos ideogramas do texto em japonês.





[vi] Aqui também, na romanização do texto, as letras maiúsculas correspondem aos ideogramas do texto em japonês.




Comentarios

L. C.VINHOLES  - 22/12/2024

INFELIZMENTE, O TEXTO NAO ESTÁ PUBLICADO

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