UMA ENTREVISTA PARA A CASA DAS ROSAS
L. C. Vinholes
28.12.2024
Antes de começar este artigo, resolvi me certificar o que, na realidade, significa a palavra entrevista. Apelei para várias fontes e me satisfiz com o que consta do atual dicionário de todos os dicionários: o Google:
“Entrevista é uma conversa entre duas ou mais pessoas, onde o entrevistador faz perguntas para obter informações do entrevistado. O objetivo é extrair declarações e opiniões sobre um determinado assunto”.
Nenhuma objeção se o assunto a ser tratado é sobre algo que me interessa, sobre o que desejo saber mais do que sei e, o que é fundamental, se é sobre algo que vou poder compartilhar com aquela(e)s com a(o)s quais tenho alguma afinidade. Dependendo das circunstâncias, dou preferência aos assuntos substantivos deixando de lago os de caráter adjetivo.
Com meus interlocutores, os contatos anteriores à entrevista foram todos por mensagens o que, por si só, dá um certo tom de modernidade.
Tudo começou com o diálogo entre Ana Beatriz Giacomini Marques, “supervisora do Centro de Referência, Preservação e Pesquisa dos museus-casas, que inclui o acervo da Casa das Rosas”, informando que essa instituição havia passado por “reestruturação organizacional em 2024 e a equipe também passou por reformulação”. Falando no plural indagou: “Estávamos, inclusive, organizando contato com o senhor neste mês. O senhor tem previsão de uma próxima vinda a São Paulo”? Cópia da mensagem recebida fora enviada à Mariana e Renata[i].
Mariana Esteves Martines, em mensagem de 9 de dezembro, se apresentou e deu detalhes importantes sobre a pretendida entrevista: “sou Coordenadora do Museu Casa das Rosas. Iniciei há pouco mais de dois meses minha jornada nesta instituição tão importante e tive o prazer de saber que sua [minha][ii] coleção é mantida em nosso acervo.
Já há algum tempo temos um programa de entrevistas de história oral a respeito de assuntos relacionados à literatura e gostaríamos de agregar a essa temática a questão da musealização de acervos literários. Seria uma enorme alegria iniciar essa nova série com uma entrevista com o senhor. Nosso interesse recai sobre a história de vida dos autores que estão contemplados em nosso acervo, a produção literária e em que contexto e com quais expectativas a coleção foi doada ao museu Casa das Rosas.
Temos grande interesse em realizar a conversa ainda esse ano, se possível. Como estamos em São Paulo, seria uma gravação online, conduzida pelo Reynaldo Damazio”.
A mensagem da coordenadora Mariana teve três pontos importantes: a) quando declara que teve “o prazer de saber que sua coleção é mantida em nosso acervo” [o do Museu Casa das Rosas]; b) quando adianta que a entrevista seria “conduzida pelo Reynaldo Damazio; e c) quando esclarece que o interesse da entrevista “recai sobre a história de vida dos autores que estão contemplados em nosso acervo, a produção literária e em que contexto e com quais expectativas a coleção foi doada ao museu Casa das Rosas”.
Essa última mensagem se cruzou com a minha do dia 8 de novembro, em resposta à mensagem de Ana Beatriz, de 7 do mesmo mês, quando escrevi: Em primeiro lugar, quero manifestar meus agradecimentos pela maneira gentil e amável de sua alvissareira mensagem e, sem dúvidas, por esse primeiro contato. Há muito sei que algo aconteceu no que diz respeito à estrutura administrativa da Casa das Rosas, mas nada de fonte oficial que merecesse crédito. Minha curiosidade sempre foi e ainda é com respeito à doação de minha coleção de antologias, cartas, cartazes, fotos e documentos diversos para o que era o Centro de Referência Haroldo de Campos para Poesia e Literatura. Os últimos itens doados fazem parte de um significativo número de cartas de e para Pedro Xisto, da correspondência com Genaro Antonio Mucciolo e comigo, 89 itens que aí chegaram justamente no período de “reestruturação organizacional” da Casa das Rosas.
Os últimos parágrafos desta minha mensagem dizem: Quanto à previsão de uma visita a São Paulo, informo que não tenho nada planejado, pois as condições de hoje são diferentes daquelas de quando eu dirigia e me deslocava com mais facilidade. Caso surja eventual possibilidade não deixarei de avisá-la com antecedência.
Reiterando meus agradecimentos e colocando-me ao seu inteiro dispor, desejo que resultados gratificantes sejam alcançados para que possa se sentir gratificada pelos seus planos e esforços.
Em 16 de dezembro, nova mensagem de Ana Beatriz adianta: a) que ela e Reynaldo conduzirão a entrevista; b) que quando nos falamos anteriormente, ela “estava na condição de assistente de coordenação na Casa das Rosas”, mas que agora escrevia “enquanto supervisora dos acervos dos museus-casas (Casa das Rosas, Casa Mário de Andrade e Casa Guilherme de Almeida)”; e c) o que mais chamou minha atenção, foi a nova supervisora reiterar que “conforme adiantado pela Mariana, a entrevista versará sobre a sua história de vida, sua rica trajetória profissional e sobre a doação de sua coleção para a Casa das Rosas. Reforço, desde já, os agradecimentos da Mariana pelo seu aceite. Essa conversa será de grande importância para o acervo do museu. Estamos entusiasmados”.
Uma entrevista diferente
Até agora, nas poucas entrevistas que dei, os assuntos foram relativos ao que produzi em poesia e música com raros desvios para informações pessoais. Desta vez, ao contrário, as perguntas que me fizeram foram diversas, mas sempre sobre o Vinholes, do nascimento ao presente, e, em nenhum momento sobre o que ele havia criado. Num encadeamento quase cronológico, falei tudo o que ia lembrando, mas lastimo não ter lembrado de muitas coisas que me foram significativas e colaboraram para meu permanente aprendizado, tais como: a) os meus encontros com Haroldo, todas as vezes que passava por São Paulo e terminávamos nossas falas em um pequena e acolhedora pizzaria no Bairro de Pinheiros, local onde, uma vez, contamos com a companhia de Mario Vargas Llosa; b) por ocasião do Festival Internacional da Poesia Contemporânea – Festival della Parola, em meados de 1997, em Veneza, a visita de Haroldo ao meu escritório no Consulado-Geral do Brasil em Milão, onde depois de tirarmos uma foto tendo ao fundo magnífico óleo de minha filha Irani, visitamos Tomás Maldonado no seu apartamento, mais biblioteca que apartamento; c) o encontro com o casal Mary Vieira, escultora brasileira, e Carlo Belloli, crítico de arte e poeta da última geração ligada ao futurismo, por ocasião da Exposição de Poesia Concreta Brasileia no Instituo Brasil-Itália, em Milão. Já não lembro de muito que disse na entrevista e creio não ser capaz de repeti-la, mas estou certo de que a gravação feita pelo trio da Casa das Rosas ficará à disposição dos interessados.
Colaboradoras indispensáveis
Durante toda a entrevista estive em contato visual com a supervisora Ana Beatriz Marques e com o professor Reynaldo Damazio, mas na minha sala de trabalho e de entrevistas, por longas e proveitosas duas horas, estive acompanhado pela museóloga Lara Colossi Vaz, residente em Brasília, responsável pela instalação do programa em meu computador, um PC jurássico, permitindo a realização da entrevista sem nenhum evento preocupante e sempre de prontidão para prestar o socorro que se fizesse necessário. Também, como sempre atenta, acompanhando a entrevista, estava Helena Maria Ferreira, esposa e parceira nos últimos trinta e dois anos, dando-me apoio quando titubeava, não lembrando datas e nomes. Sempre atento, parceiro de Ana Beatriz na condução da entrevista, esteve o professor Reynaldo Damazio, editor, crítico literário, poeta, Coordenador do Centro de Apoio a Escritores na Casa das Rosas e produtor de vídeos dedicados à poesia.
Epílogo
Quero reiterar minha alegria em reativar os contatos com os responsáveis pela administração e orientação da Casa das Rosas, mas também por ter sido informado que as antologias, cartas, cartazes, fotos e documentos diversos, etc. com as quais construí meu acervo, continuam reunidos em um só bloco, em uma só coleção, lado a lado com a ampla e pioneira coleção deixada por Haroldo de Campos, que, em dedicatória de 1997, chamou-me de “companheiro de aventura intelectual e Marco Polo do mundo literário japonês”. Assim como no passado nossas coleções serviram não só para divulgar a poesia concreta brasileira no exterior, mormente no Japão, auguro que, daqui para o futuro, sirvam também como fonte preciosa para atender e saciar a curiosidade de estudiosos, pesquisadores e de todos aqueles que desejam ampliar seus conhecimentos sobre a poesia que se consolidou em São Paulo e ganhou o mundo.
[i] Quem seria Renata, citada por Ana Beatriz Marques?
[ii] Os colchetes e itálicos são do autor do artigo.
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