O GRANDE E O PEQUENO (EM SENTIDO LITERAL TAMBÉM)
Num domingo de carnaval estava em minha casa em Pacoti, no sofá da sala um amigo, grande bandolinista, depois de tomar umas cervejas, cochilando para continuar a farra durante à noite. De repente, alguém entrou e disse que o bandolinista Hamílton de Holanda estava em Guaramiranga, em uma pousada, cujo nome não recordo, para participar do festival de jazz e blues.
O nome de Hamílton foi um balde de água gelada nas fracas feições do meu amigo, que assim se referia a pessoas que ele considerava feias; mas realmente, meu amigo é fraco das feições, Imediatamente, ele se levantou. Hamílton em Guaramiranga, exclamou ou perguntou. Henrique, tu vais lá comigo? Na hora, respondi.
Fomos.
Ao chegamos à pousada, Hamílton estava se levantando da cadeira hoje estivera, tocando por algum tempo. Quando nos viu, ou melhor, viu meu amigo, pediu aos músicos que o acompanhava voltarem. E disse; “quero que vocês conheçam este cara; é o maluco que toca muito, que eu havia falado para vocês.” Todos voltaram, sentaram-se, agora com meu amigo juntando-se ao grupo, e recomeçaram a tocar. Tocaram por um certo tempo. Ao lado, Nonato Luís, outro grande músico, assistia ao show. Ao terminarem, Nonato Luís chegou perto do meu amigo e comentou: “baixinho, você toca muito.”
Findado aquele pequeno sarau, cheguei perto de Hamílton, um cara alto de quase dois metros de altura e comentei alguma coisa sobre a camisa dele. Vestia uma camisa do Flamengo; sou vascaíno. Ele, gentilmente, me respondeu que nunca subia em palcos com camisa de time.
Achei muito sábio da parte dele. Não hostilizava ninguém e nem perdia público.
Por que estou narrando esta história?
Nossas vidas são controladas por terceiros; e estes terceiros delegam a decisão de controlá-las a outrem, os eleitores. Se eu não for eleitor e muito menos simpatizante de um candidato escolhido por outra pessoa, e se o candidato dessa pessoa for eleito; minha vida será decidida por um alguém que eu não quero que me represente, eleito, contra minha vontade, por terceiros, ou seja, além de não decidir quem vai me representar, tenho que aceitar quem for escolhido por outra pessoa qualquer. A isso chamamos democracia. Não é para questionar democracia ou não, esse meu texto.
Pois bem. Voltemos ao assunto inicial do músico e ao assunto que interessa e quero abordar.
Durante muito anos fui paciente de uma dentista. Tinha certo apresso por ela, com reticências em várias coisas, entretanto. Muito beata. Sempre mandando mensagens religiosas para minha mulher, para mim nunca. Porém, na mina presença, Deus não saia de sua boca e falando dos trabalhos voluntários que exercia na África. Inclusive, trazendo nativos de lá para intercâmbio no Brasil, que ficavam hospedados na casa dela. Acho que para me impressionar, por nunca comentar nada.
Como disse, sempre tive ressalvas com certas atitudes dela, assim como todos religiosos que buscam mostrar suas qualidades para terceiros, mas não passa de falsidade. Minhas ressalvas, contudo, aumentaram um dia quando conversando com uma amiga comum – minha e da dentista -; aquela me disse que uma semana antes de se casar, a dentista ligara para ela, aconselhando-a a terminar o noivado porque o noivo não era religioso.
Fique impressionado com a estupidez e ousadia. Continuei paciente dela e esqueci o assunto, entretanto. Até porque não era motivo para não ir mais ao consultório da dentista, pois aquilo em nada me afetava.
Outra vez, porém, estava sendo atendido pelo marido da dentista, também dentista, especialista em outra área; e ele, que nunca falava em política, ou melhor, nem falava, de poucas palavras; começou a fazer comentários desfavoráveis a Bolsonaro. Na hora não pude revidar, impossibilitado pelo óbvio. Terminado meu atendimento, ele saiu rápido e não pude ainda falar sobre as ponderações dele. Esqueci o assunto.
A dentista mesmo jamais falou em política comigo.
Tempos depois veio nova eleição. E durante aquela guerra da eleição para presidente em 2022, fui ao consultório dela e levei minha mulher. Certo dia, conversando com minha mulher e dizendo para ela não comprar em algumas empresas, porque fizeram o L; ela disse: “interessante, não compra na Magalu, por exemplo, mas paga sua dentista que é petista doente.” Como assim, perguntei.
Aí ela me contou: “naquele dia que fui com você ao consultório da doutora; ela começou a falar no PT, e eu disse para ela não tocar no nome do PT comigo, porque eu tinha verdadeira ojeriza a petista e caso eu descobrisse que ela era petista, nunca mais voltaria ao consultório dela e acrescentou dizendo que, no Istagram, a dentista metia o sarrafo em Bolsonaro.”
Nunca mais voltei lá.
Há alguns dias, ela possou a mandar mensagens para minha mulher perguntando por que não mais fomos nos consultar e que sentia nossa falta.
Mudei de dentista há dois anos.
Mas o quê uma história tem a ver com a outra. Tudo. A visão do músico é ampla; ele entende depender dos seus fãs: se flamenguistas ou vascaínos não importa. O quê mostra sua grandeza de pensamento e de tamanho. Precisa dos fãs. Ela, na sua ignorância fanática de petista, mostra seu raquitismo mental e até mesmo de estatura, achando-se no direito de fazer comentários depreciativos sobre candidatos e políticos nas redes sociais, mal sabe a quem vai desagradar. E desagrada pacientes.
Quando dependemos das pessoas não podemos desagradá-las, não importa se concordemos ou não com elas. A dentista, na sua estupidez comunistas, vive pregando o amor, fazendo caridade, mas apoia estupradores, abortistas, quem faz apologia ao crime de um modo geral, e ataca justamente pessoas como eu que não tenho religião, mas sou contra tudo que ela defende com seu voto e seu pensamento político que vai totalmente de encontro às convicções religiosas pregadas por ela.
Fortaleza, dezembro/2024
HENRIQUE CÉSAR PINHEIRO
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