TRADUÇÃO DE POESIAS CANADENSES
Tênues laços
L. C. Vinholes
25.01.2025
Às vésperas do lançamento em São Paulo da antologia bilingue de poetas japoneses, no original e em português, coordenado pela professora Marianne Simon Oikawa, decidi rever as pastas com dezenas de cópias de páginas da revista The Canadian Forum que, há muitos anos, me acompanham e que guardam poesias dos poetas que começavam a serem lançados pelos meios de divulgação. Muitas destas poesias foram traduzidas, outras estão em rascunho e poucas foram publicadas no site www.usinadeletras.com.br. Foram horas e dias de muito trabalho, mas para mim apenas um caminho a mais para praticar o inglês, conhecer a poesia canadense e, como sempre tenho feito, compartilhar com quem se interessa.
Decidi fazer isso porque, como já afirmei em outras vezes, não tive no Canadá os resultados gratificantes que me deu o Japão quando lá decidi interessar-me pelos poetas e pela poesia local e, ao mesmo tempo, trabalhar para divulgar os poetas e a nascente poesia da vanguarda do Brasil.
Em 2012, decidi disponibilizar em um site, não comercial, obras assinadas por poetas canadenses, e o êxito alcançado não foi o que eu esperava, pois não tive a menor reação dos poetas contemplados e nem mesmo do The Canadian Forum, mas ao mesmo tempo é algo que não merece ser desprezado.
É imperioso registrar que minhas únicas fontes foram o The Ottawa Journal e a revista The Canadian Forum, um órgão dedicado à cultura e a artes e que, em nenhum momento, tive acesso aos endereços pessoais dos poetas canadenses e que as poesias traduzidas enviadas aos seus autores eram para eles endereçadas via aquele jornal e aquela revista, sempre com o indispensável C/o (cares of) equivalente ao nosso a/c (aos cuidados).
Para não perder este material, decidi disponibilizar tudo que tenho, de forma que facilite a terceiros entender o que ele é, o que com ele fiz e como ele está depois de anos cuidadosamente guardado.
Poesias traduzidas, enviadas aos autores e acessadas
Desde 2012, comecei a aproveitar os serviços pelo site não comercial www.usinadeletras.com.br, qual seja a divulgação do que desejo compartilhar com um numeroso público de leitores. Publiquei 48 poesias, a maioria de poetas japoneses. Aqui dou a relação das canadenses com o número de acessos que tiveram
Craig Campbell, OVAIS, de outubro de 1977, com 407 acessos;
Linda Sandler, HISTORY TO THE DETEATED-MAY SAY ALAS, com 391 acessos;
Suzane Musgrave, IN MMORIAM e ATRAVESSANDO TO BRENTWOOD BARC MILL BAY, ambas de dezembro-janeiro de 1977-78, com 409 e 411 acessos, respectivamente.
Poesias traduzidas, enviadas e nunca respondidas
As datas dos envios estão entre parêntesis
60º N, e RITUAL de Kimberley Jordan E Mark Frutkin, ambas de março de 1978 (04.05.1978),
UNTLED, de junho-julho de 1978 (27.07.1978),
TO ADRIENNE RICH, de agosto de 1978 (15.09.1978),
PRISCILA AND JOHN P, de agosto de 1978 (19.10.1978),
LA COMMEDIA, de Irving Layton, de agosto de 1981 (2710.1981),
FRANKLIN-EARLY MONINNG BLIZZARD-FOR DAVE WEST, de setembro de 1978 (06.09.1978),
114, de Alexandre L. Amprimoz, de outubro de 1977 (08.10.1978).
Dentre as poesias relacionadas acima, escolho a última, para aqui também divulgar sua versão original e a em português e apresentá-la entre as que figuram no rol das poesias no site já mencionado.
114 114
spring is coming a primavera está chegando
and they left Santa e deixaram Noel
on the roof sobre o telhado
he is going vai
to stay here ficar aqui
until the nest elections até as próximas eleições
for now he counts agora conta
the pigeons as pombas
white and green ballots votos brancos e verdes
Poesia de Robert Edgar Carter
No Canadá, de todas as poesias a que tive acesso pela The Canadian Forum, a única da qual não localizei o original e o registro da remessa é IMPACTO, de Robert Edgar Carter, pulicada no Vol. LVII, Nº 675, de outubro de 1977. A tradução que tenho desta poesia despertou minha atenção por ter o autor, na sua construção, certamente levado em consideração o espaço da página, não apenas como um suporte como sói ser, mas também como elemento conjugado aos demais: palavras, espaços, tipos etc. Por essa razão não vou deixar de publicá-la.
IMPACTO
Apavorantes sons na superfície de uma bigorna
de ar pesado
um lobo
uiva
porque ele deseja
e ele pode
Poesias não traduzidas
Por ordem cronológica, das poesias não traduzidas, registro os nomes dos autores em minúsculas e dos títulos em maiúsculas, conforme figura na edição canadense Ficaram sem tradução poesias de Christopher Heide (TO LOVE YOU LIKE THIS), Alfred Rushton (BULLDOZING IT), Joseph Mcleod (PRISCILLA AND JOHN P e AUNT MINNIE DID THE SHIMMIE), Kim Maltman (THE ARTIC), David S. West (CAUSES OF FAMINE), Mary Melfi (JEALOUSY), Albert Frank Moritz (DARK POCKET), Judith Fitzgerald (FOR ADRIENNE RICH), Linda Sandler (HISTORY TO THE DEFEATED/MAY SAY ALAS), Susan Perly (INDUSTRIAL LOVE: CAPE BRETON), Deborah Godin (THOUGHTS DURING), Penny Chalmers (SEADREAM), John Brooke (NUDE BEACH IDEALISM), Mary di Michele (OTHER FLOWERS – for Gênet), Peter Goodchild (ROLLER COASTER), Janis Repoport (RESOLUTION), Robert D. H. Sallery (STONEHENGE POEMS), Richard Kaulbacvk (A AFFAIR), Hank Johnsen (FRAKLIN - EARLY MORNING BLIZZARD – FOR DAVE WEST).
Como todos são poemas com versos curtos, pequeno, simples, fáceis de entender, sem pretensão de serem como os de Henry Longfellow e como aprecio miniaturas, o minimalismo, vou escolher e traduzir o poema de Christopher Heide que logo divulgarei no site não comercial www.usinadeletras.com.br, assim como não comercial eram as edições do The Canadian Forum.
TO LOVE YOU LIKE THIS AMAR VOCÊ ASSIM
The lights As luzes
appoaching cars bring carros se aproximando trazem
for the wet para a rua molhada
lonely street solitária
either turno or stop; ou viram ou param;
none clould be you. nenhum poderia ser você.
The phone doestn´t ring. O telefone não toca.
The window before me A janela diante de mim
streaks, risca,
no one speaks; ninguém fala;
the rain leaves too. a chuva também vai embora.
“...contatos literários entre o Brasil e o Canadá”
Por ocasião da I Jornada Internacional de Poesia Visiva, realizada pelo Centro de Referência Haroldo de Campos da Casa das Rosas de São Paulo, o Instituto de Artes da UNESP e a Faculdade de Ciências e Letras da USP, tive ocasião de dialogar com a professora Odile Cisneiros, do Departamento de Línguas Moderas e Estudos Culturais da Universidade de Alberta, no Canada. Durante sua fala a professora Odile fez referência ao poeta canadense bill bisset. Na minha intervenção, declarei que pessoalmente conhecia bill bisset, que com ele mantinha esporádica troca de correspondência, que fora presenteado com exemplares dos seus livros e que escrevera música para os primeiros versos de uma das suas poesias., informações que surpreendeu a professora Odile. Em correspondência de dezembro de 2021 a referida professora disse que gostaria “de conversar em relação “a seu (meu) envolvimento com poetas do Canadá como o bill bissett e outros”, que “adoraria também saber mais de seu (meu) trabalho em seus (meus) anos” no Canadá e, finalmente, que gostaria de entrevistar a bill para ter “mais material para esse “capítulo” da história dos contatos literários entre o Brasil e o Canadá, da qual você (wu) e o bissett são uma parte muito instigante!”
Por razões certamente alheias as minhas e as prevenções da professora Cisneiros, nossa correspondência esta interrompida e os planos que poderíamos ter implementado estão temporariamente protelados
Palavras finais: os tênues laços que criamos
É com muita alegria que registro eventos que me foram gratificantes com minhas pretensões de manter contato com os poetas canadenses: a) Em um encontro casual em uma praça de Ottawa, encontrei o poeta bill bisset (assim, com minúsculas, como ele mesmo deseja) com o qual, até agora, troco esporádicas mensagens por ocasião das reuniões de leitura que ele costuma promover e das quais sempre me dá notícias antecipadas, pois figuro como o único latino da relação de parceiros; b) de bill bisset recebi autorização para usar os versos de introdução de seu poema “suk a...” em minha composição Tempo-Espaço XIV (1978) para voz e partitura de leitura para dez leitores; c) de bill recebi exemplares dos livros que publicou e que hoje pertencem à Coleção Vinholes da Casa das Rosas de São Paulo; d) graças à colaboração da eficiente Janet McGregor, bibliotecária da Embaixada do Brasil no Canadá, consegui nos sebos de Toronto, exemplares das antologias dos poetas bill bisset, Earle Birney, b. p. Nichol, que inclui no material da Exposição de Poesia Concreta Brasileira, na Universidade de Ottawa da qual fui curador; e) no final de 1979, reunindo poemas publicados no The Ottawa Jornal, criei uma edição artesanal de 10 exemplares - 5 para mim e 5 para a poeta -, da mine antologia bilíngue Bosquejos de Quatro Vento, de 26, poemas de Nancy Passy, com quatro singelas ilustrações da autora, uma para cada estação do ano; f) contando com a inestimável parceria do professor Lloyd Stanford, docente da Universidade Carleton, fui dele parceiro e com ele colaborei na organização e implementação da série de programas de rádio de uma hora de duração Mosaico de Literatura Brasileira, apresentando poetas e escritores brasileiros e, como “pano de fundo” música brasileira;.e g) no site www.usinadeletras.com.br, estão disponíveis três artigos A poetisa e a escritora Suzane Musgrave, A mini antologia de Nancy Passy e Um novo poeta canadense, bill bisset, publicados em 30.03.2012, 29.06.2012 e 09.02.2015, respectivamente, com 813, 971 e 724 acessos.
Último comentário, para descontrair
Embora nada tenha a ver com poesia, mas, materialmente contribuiu significativamente no período da tradução dos poemas canadenses, são as dezenas de folhas, de excelente papel, nas quais foi impresso a mensagem do diretor executivo do Comité Coordenador da Brasil Export 77, realizada em Nova York, que, sendo devidamente aproveitadas para alegria dos ambientalistas, serviram para minutar as traduções das poesias.
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