Revendo a história da formação das famílias e das instituições escolares, pude sair do empírico e constatar as inúmeras incumbências que o primeiro núcleo delegou para o segundo, transformando o objetivo primeiro (instrução acadêmica) num centro responsável pela formação do indivíduo dentro da sociedade. Dentro de um crescente processo, tanto as famílias foram depositando, como as escolas absorvendo.
Inicialmente as responsabilidades que foram sendo assimiladas, encontravam na pedagogia moderna e na psicologia seu respaldo teórico; as exigências foram transformadas, o respeito à individualidade do estudante surgiu, as expectativas foram reformuladas enquanto postura pessoal.
Se isto funcionou durante um certo número de anos, atualmente não mais funciona, pois as exigências e as expectativas foram, pouco a pouco além das possibilidades das escolas, não nos esquecendo que a complexidade sócio-cultural também foi se desdobrando.
Hoje percebo que, como tantas e tantas situações, ou atua-se através da complementaridade, da troca, da busca conjunta ou cai-se numa relação de “empurrar” responsabilidades de um para o outro lado.
Como continuo crendo firmemente na escola como agente formador, acredito que o papel atual das instituições de ensino seja exatamente o de propiciar momentos de integração entre pais e educadores. Esta minha posição vem por conta das observações que tenho feito, ao ministrar algumas palestras; a culpabilidade “escolar” toma outro rumo quando os pais são convidados a refletirem sobre o papel que desempenham. Dimensionando de outra maneira a educação, acabam sentindo-se gratificados à medida que se descobrem importantes para os filhos. A insegurança e a fragilidade são pontos fortes para que a permissividade esteja em alta, por exemplo: medo de perder o afeto filial. Outras vezes, quase que de maneira contraditória, querem ver seus desejos realizados lançando sobre o filho, expectativas acima das possibilidades deles. Ao delegarem para a escola, saem isentos de culpa. A “ignorância” parece sobrepujar a vontade de ser pai.
Gostaria de enfatizar que este movimento fez parte de um processo, com conivência plena das escolas; não se tratou portanto, do desejo unilateral das famílias. Não há juízo de valor e nem julgamentos de culpados e inocentes. Pondero apenas sobre a saudável tendência atual ( unir educadores e famílias). São inúmeras as temáticas que surgem e que necessitam ser discutidas por ambos os lados.