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Artigos-->OS ESCRITOS DA PIAUENSE DENISE VERAS -- 18/02/2025 - 08:59 (LUIZ CARLOS LESSA VINHOLES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

OS ESCRITOS DA PIAUENSE DENISE VERAS

 

            L. C. Vinholes

18.02.2025

Estou de posse de dois livros. Assim como a maioria dos que tem o hábito de ler, também primeiro leio as orelhas das capas, pois, na quase totalidade das vezes, elas são como uma chave abrindo portas e facilitando o trânsito.

 

Um dos livros foi recebi da autora e o outro, da mesma autora, tomei emprestado. Só depois que li os dois é que me dei conta de que eram muito diferentes, embora escritos pela mesma mulher, tendo como denominador comum o fato dela ser mãe, fato este que, a meu ver, justificam a existência dos dois livros.

 

As obras de Denise Veras

A face atravessada no espelho é de 2023 e Crônica de uma mãe sacrificada é de 2024, pela Editora Libertinagem. O primeiro, vencedor na categoria Crônicas do primeiro concurso literário da 3ª Edição da Feira da Literatura Piauiense (FELIPE), de setembro de 2024, exibe capa intitulada Atravessada, de Ravenna I, litografia de Italo Scanga (1932-2001), em esmerado guache sobre papel Paraná. O segundo tem capa de Mateus Bibiano, habilmente adaptando o quadro Seated Nude XI (1917), de Georgia O´Keefe (1887-1986), pintora estadunidense que criou imagens impressionistas, renovando a percepção.  Também em 2024, Danise com a primeira obra, foi semifinalista no concurso do Festival Literaturas e Obras de Autoras (LOBA), que “tem como objetivo fomentar, reconhecer e valorizar obras escritas por mulheres, promovendo a igualdade de gênero no setor literário”.

 

Na capa final do primeiro livro, Marco Antônio Santos - autor de Exercícios de desafeto, lançado em janeiro de 2022 -, refere-se ao conteúdo do trabalho de Denise como “um conjunto de textos reflexivos e introspectivos...” e, acertadamente, aplaude o trabalho da escritora quando afirma que os temas por ela abordados são “expostos a partir de uma perspectiva feminina e feminista, sem ser panfletária.” No segundo livro a escritora Tarciana Ribeiro, mãe como Denise, comenta que “Em Crônicas de uma Mãe Sacrificada, somos conduzidos (sic) por um universo de emoções intensas vividas no decorrer do crescimento de uma nova vida, dentro e fora de nós”.

 

Palavras mágicas e citações na A face atravessada no espelho

 

As páginas 7, 8 e 9, abrigando seu escrito sobre A louca, o velho e o pastor, chamam minha atenção quando nelas aparecem, em negrito, dois substantivos femininos e um verbo: paixão, autovalorização e acreditar. Segundo os dicionários, paixão, é sentimento ou emoção, levados a um alto grau de intensidade, sobrepondo-se à lucidez e à razão; autovalorização é o ato de reconhecer e valorizar o próprio valor, as qualidades e as conquistas, contribuindo para o sucesso pessoal e para uma boa saúde mental; e acreditar, verbo transitivo, é dar crédito a, é crer. Sem dúvida alguma, estas três palavras mágicas se fazem presentes do início ao fim do que Denise escreveu. Ela escreve de uma maneira peculiar, dando voltas, como uma fita sem fim, onde seu tema principal nunca termina, está sempre presente.

 

Observo também a erudição e os recursos dos quais Denise lança mão, quando usa citações de outros escritores, brasileiros ou não, tais como: Tom Jobim, Munch, Nilton César, Carlos Drummond de Andrade, Álvaro Campos, Mário Quintana, Rubem Fonseca, Roland Barthes, Gery Campelo, Bartô Galeno, José Saramago, Albert Camus, Robert Freire e Paulo Mendes Campos. Denise aproveita dos autores que não lhe são estranhos e com os quais encontra afinidades, mas, não copia, não recorta e cola, simplesmente não reproduz as ideias e pensamentos alheios. Na realidade, o que eles escrevem coincide com o que ela pensa e sente e, por isso, dela são parceiros.

 

Crônicas de uma mãe sacrificada

 

O segundo livro de Denise ela escreveu sentindo/pensando o que ela previu na página 11:

 

Toda mãe é feita de

Versos e prosas

 

O que encontrei de singular e intensamente válido em Crônicas de uma mãe sacrificada foram as páginas em branco 17, 18, 53 e 54 e aquelas onde o branco é predominante e neles tem destaque o que está escrito no seu centro, talvez poemas, não haikais, mas, como esses econômicos, minimalistas. Quando não são poemas são “texto” de até menos de uma página.

 

Da página 20 à página 25 e da página 28 à página 30, bem como da página 34 à página 36 e, ainda, da página 39 à página 44 e da página 49 à página 52, no centro das páginas estão 3 ou 4 linhas, como mini poemas, exprimidos e densos, cantando realidades das diferentes fases da vida de uma mãe, como nos exemplos a seguir:

 

                                                  Angelical

                                                  Pousou seu corpo no meu

                                                  Já não me pertenço

 

 

                                                  Não aluguei o meu útero                               

                                      Nem o leite dos meus seios     

                                      Doei-os a mim  

                                              

                                                  O primeiro sorriso

                                                   Me tirou

                                                   Do abismo

 

                                                    Quando cresceu

                                                     Era tarde

                                                     Já o amava

 

Textos? Crônicas?

 

No escrito por Marco Antônio Santos, na última contra capa de A face atravessada no espelho, os trabalhos de Denise são chamados de “textos reflexivos e introspectivos”, ao passo que na publicação de 2024 os escritos, da autora, por ela mesma ganham o nome de Crônicas de uma mãe sacrificada, expressão aceita e repetida duas vezes na Apresentação assinada pela “escritora, oraculista e mãe” Tarciana Ribeiro.

 

Registre-se que nos nossos gêneros literários são citados, entre outros, no clássico o narrativo, o lírico e o dramático e no moderno o romance, a novela, o conto, a crônica, o ensaio, o poema, a canção, o drama histórico e o teatro de vanguarda. Além deles, longe das academias, temos também bula, relatório, notícia, sumário, prosas, tecituras, coluna, ata, parábola, encíclica, etc.

 

Os haikais e os quase haikais

 

Na segunda metade do século XX proliferaram os haikais em línguas estrangeiras, principalmente em inglês, francês, espanhol e alemão. Assim como alguns críticos, nunca acreditei na possibilidade de escrever haikai a não ser em japonês, haja vista algumas formalidades típicas do idioma do Japão. Da mesma forma que sempre achei impossível escrever um soneto em japonês, onde não encontraríamos rimas e métricas como as que temos. Entretanto, conheci, concordei e aplaudi a saída encontrada por Antônio Carlos Osório (1927-2016), amigo, advogado, filósofo, ex-presidente da Academia Brasiliense de letras que resolveu chamar seus econômicos e belos poemas de quase haikais.

 

Para os que conhecem Denise Veras e àqueles familiarizados com seu trabalho literário, não me sentindo capaz de opinar, deixo um vazio e a pergunta-convite: Assim como Antônio Carlos, que palavra poderíamos inventar e como poderíamos chamar o gênero que está escondido no que escreve a jovem escritora piauiense que ora chamam de texto e, ela mesma, de crônicas?

 

 

Outros escritos

 

Não farei mais nenhum comentário, mas, para completar, não posso deixar de registrar que, na segunda obra de Denise, o futuro leitor encontra o Prefácio, assinado pela autora; a Apresentação, por sua amiga Tarciana Ribeiro; Sou doida, sou mãe, sem identificação de autoria; Eu tenho um Chaves; Umbral, também sem identificar a autoria; o Posfácio; e as páginas 26 e 27 com o Dicionário 1 e 31, 32 e 33 com o Dicionário 2, registrando falares e a criativa invenção fonética de palavras, pelas crianças aprendendo a falar.

 

Denise, certa vez, manifestou com razão, que seus escritos “mereciam uma publicação solo, talvez eles pudessem falar por si e mostrar ao mundo porque eles deviam circular, existindo tão somente”. O que fiz com esse artigo, não é o que ela esperava, mas, sem dúvida, desejo que, pelo menos, alcance meu público cativo do site .

 

 

O ventre de Medusa, um novo livro

 

Quando dava por terminadas minhas escritas, sou surpreendido por Denise com a alvissareira notícia de que está no prelo o seu novo livro: O ventre de Medusa.

 

A notícia, um sumário de apenas três concisos parágrafos, por não conhecer a obra, me privarei de fazer qualquer comentário, mas, aqui, prazerosamente, vou compartilhar com meus leitores o que ela escreveu.

 

Vejam o que diz Denise:

SOBRE O VENTRE DA MEDUSA

 

Com intensidade e desassombro, O Ventre da Medusa é uma obra que explora as facetas do feminino, navegando entre os extremos da monstruosidade social e da opressão invisível que as mulheres enfrentam em uma sociedade patriarcal. Inspirada pela complexidade da figura mitológica de Medusa, a autora constrói narrativas que ora desafiam ora provocam.

 

O livro é dividido em duas partes complementares: na primeira, as mulheres são apresentadas como seres julgados por sua conduta, transformadas em bestas pelo olhar social. Na segunda, elas surgem como vítimas de estruturas opressivas, muitas vezes punidas duplamente por seus algozes e pelas próprias normas culturais que deveriam protegê-las.

 

Com histórias pungentes, a obra transforma as experiências femininas em gritos de resistência, além de propor reflexão, ecoando uma verdade universal: ser mulher é um ato de coragem. Um manifesto literário que homenageia a dor, a força e a reconstrução das mulheres ao longo do tempo.

No primeiro parágrafo da apresentação do novo livro de Denise, é dito que a “autora constrói narrativas” novo vocábulo que ponho ao lado de “texto” e “crônica”

 

Quem é Denise Veras

Somando ao que o leitor encontrou, lendo o que está nesse artigo, acrescento e registro que ela é natural de Terezina, compositora, autora da tese Entre cartas e Riverão, elementos da estética glauberiana, ousada proposta de análise do romance homônimo, de 1978, do cineasta Glauber Rocha; e Doutora em Letras pela Universidade de Brasília e Mestre pela Universidade Federal do Piaui. Assina uma coluna no portal cultural Geleia Total, compartilha crônicas e tecituras sobre a vida e dialoga com o cotidiano e os desafios da maternidade.

 

 

 

 

 

Comentarios

Maria do Carmo Maciel Di Primio  - 27/02/2025

Gostei de conhecer Denise Veras !
Grata Prof. Vinholes!!

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