Em 2005 e 2006, como funcionário da Receita Federal do Brasil, fui trabalhar em um dos departamentos daquele órgão em Brasília: a Diaup, e tinha como missão examinar as fiscalizações dos auditores-fiscais nas empresas e nas pessoas físicas.
De acordo com o tamanho da empresa era estimado o número de horas para cada fiscalização; admitindo-se, porém, aumento no tempo estimado em até vinte porcento do total de horas de cada uma. Aquelas, que ultrapassassem tal parâmetro, por amostragem, eram selecionadas para análise pela nossa equipe; composta por auditores das dez diferentes regiões fiscais do Brasil. Um por região, sendo que o fiscal de uma região não podia trabalhar na sua própria região, para dar maior independência aos trabalhos. Quem era lotado na 3ª região, por exemplo, não podia examinar processos dessa região e assim por diante. Desta forma, viajamos o Brasil todo analisando processos.
Trabalhei por dois anos naquele departamento, onde tive a oportunidade de conhecer muitos colegas de outras regiões, dentre eles, Jorge Ribeiro Sales.
Sempre gostei muito de ler e sempre tive pretensão de escrever alguma coisa. Não me aventurava em escrever, porque achava não ter competência para tanto. Naquelas viagens Brasil afora, tive oportunidade de viajar e conhecer melhor Jorge Sales. Sujeito simpático, de sorriso aberto, sempre muito brincalhão. Encontrar o Jorge, era encontrar alegria e principalmente quando ele tinha oportunidade de fazer um cordel engraçado por qualquer situação, ou outro tipo de poesia. Maranhense de nascimento, tinha o cordel nas veias; como também, para se usar um termo antigo, a manemolência carioca, pois morara no Rio algum tempo; antes de se fixar definitivamente no Espírito Santo, onde foi morar ao passar no concurso da Receita Federal.
Na convivência com Jorge, fui gostando dos cordéis e comecei a me aventurar timidamente neste mister. Fazia alguns e os mostrava. Somente a ele; não tinha coragem de mostrar aos demais colegas. Certo dia, ele me aconselhou divulgar meus textos, pois, segundo ele, eu tinha talento.
Criei coragem e seguindo as recomendações dele, publiquei meu primeiro texto no Usina de Letras, que foi bem aceito. A partir dali, comecei a publicar textos – cordéis, poesias, casos – regularmente naquele site e posteriormente também no Recanto das Letras.
Com o passar do tempo fui acumulado textos na internet e comecei a imaginar o milésimo: pensava num tema palpitante, que despertasse muito interesse nos leitores. Entretanto, ontem, quando vi que a hora do milésimo texto havia chegado, lembrei-me do meu amigo, Jorge Sales, então, pensei nada seria mais apropriado do que dar algumas informações sobre ele que tanto me incentivou.
Como disse no começo, Jorge era um sujeito simpático, riso largo, sempre brincalhão. Sua alegria era contagiante. Na Usina de Letras inúmeros são seus textos, todos bem elaborados, em especial seus cordéis. Infelizmente, hoje ao chegar ao milésimo texto não tenho o prazer de falar ou escrever para o meu amigo, mas estou aqui a falar dele, que, precocemente, nos deixou, bem moço, aos 61 anos. Perdemos um grande poeta, um grande sujeito e eu um crítico e grande amigo.
Jorge ficou para sempre na minha lembrança e de vez em quando bate a saudade. Lembro-me muito bem, que ele adoeceu no fim de 2006; diagnosticado com um tipo raro de câncer. Operou-se, fez todo o tratamento e recuperou-se bem. Certo dia, por volta de setembro/2007, liguei para ele e ao atender disse-me que estava indo para o hospital. Perguntei-lhe se estava tudo bem. Sim e disse que sugira um pequeno problema, mas, segundo os médicos, não era nada de complicação. Conversamos mais um pouco e nos despedimos.
No dia 14 de novembro de 2007, ia passar o feriado na minha cidade, lembrei-me do Jorge. Pensei em ligar para ele, mas protelei e deixei para segunda-feira. Achei melhor deixá-lo com a família, aproveitando o feriado. Na segunda-feira, ao chegar ao trabalho liguei o computador e de cara me deparei com um email da Celeste, uma das colegas da Diaup, informando-me do falecimento do Jorge no dia 15 de novembro. Portanto, no sábado que eu pensara em ligar para ele.
Até hoje, sinto não ter feito a ligação, mas ao mesmo tempo reconforto-me pois naquele momento meu amigo talvez já estive morto, ou quem sabe vivendo seus últimos momentos entre nós e aproveitando seu pouco tempo com a família.
Não sabemos como explicar as coisas da vida. Vivi pouco tempo com ele, mas o suficiente para ter grande carinho e admirá-lo; ser-lhe grato por ter me incentivado nas lides da escrita. Se aqui estivesse certamente não estaria escrevendo este texto como sendo o milésimo a expor na internet e não o faço gostando; faço, porém, como um tributo a um amigo, colega de trabalho e grande poeta.
Saudade, Jorge, não sei onde você está; se é que temos outra vida, mas onde estiver; estará bem. Foi um grande prazer ter te conhecido e contigo convivido por algum tempo. Aprendi muito e hoje ponho em prática teus ensinamentos.
Muito obrigado.
Fortaleza, 28 de fevereiro de 2025
HENRIQUE CÉSAR PINHEIRO
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