MAIS DOIS ARTIGOS DE FRANCISCO DIAS DA COSTA VIDAL
L. C. Vinholes
15.08.2025
Assim como o grande mestre Waldemar Coufal[i] que sempre foi um dos nomes de peso na história dos jornais Diário Popular e A Opinião Pública, assim também o foi Francisco Dias da Costa Vidal quando, com sus artigos e crônicas, ocupava espaços nesses dois órgãos da imprensa pelotense. A única diferença que encontro entre esses dois jornalistas era que o primeiro, como ninguém, tinha a habilidade de também tratar dos assuntos sociais e o segundo, nos seus registros, nunca ter se preocupou com esse tema.
Aos dois tenho a mais sincera gratidão pois, com o primeiro, muito aprendi quando com ele colaborava, razão pela qual o chamei de “meu timoneiro” e com o segundo pelo fato de, como contemporâneo e amigo, ter acompanhado, de perto, o que eu fazia na minha caminhada de estudos e fazeres.
Sem constrangimento, mas como sincera forma de agradecimento ao cronista Francisco Vidal e para que, agora, sirva de informação aos interessados por assuntos relacionados à música, à poesia e à cultura na Pelotas das últimas décadas, transcrevo os artigos Mestre Vinholes e Arte Japonesa e 40 Anos de Música Aleatória, respectivamente, publicados nas colunas Tribuna do Povo e Notas Musicais, em 18 e dezembro de 1994 e 25 de janeiro de 2002.
Mestre Vinholes e Arte Japonesa
Longa é a história e proveitosa trajetória que tangeu Vinholes ao Oriente, da que corresponde não apenas empenho, mas uma estimulante base de lançamento que o levou, não apenas a investigar a cultura oriental, mas a integrar-se nela e de lá periodicamente trazer os frutos de seu labor paciente e continuação, esmero e pertinaz.
Foi assim como, tendo acompanhado atentamente essas andanças pelos caminhos da música e da poesia, percebemos que Vinholes arrasta consigo todo um complexo cultural transnacional e pluricultural de rara abrangência, sem jamais perder contato com as raízes para as quais sempre retorna, trazendo os frutos não apenas de sua, mas também, de toda uma plêiade de mestres orientais, num intercâmbio de inapreciável transcendência.
Desta feita, Luiz Carlos Lessa Vinholes vem pela inauguração “Sumi-e Mestres Japoneses[ii], com obras de Kenzo Tanaka[iii], Hideko Fuimori, Harumichi Sakata e Toha Hideshima, expostas na Sala Frederico Trebbi.
Para os que não estão familiarizados com a arte japonesa, tudo constitui estimulo e desafio, chamando-nos a atenção, por exemplo, para a ausência da cor, presentes apenas figuras humanas e sua rica expressividade fisionômica sem dúvida um aspecto dos mais desafiantes do desenho, mas também dos significantes, portadores do interesse dinamismo.
Esse é, sem dúvida o traço de união, de todo o conjunto aí incluídas não apenas as pinturas, como também a poesia de Vinholes, onde, “Menino Só” não é tão solitária assim, pois não apenas gerou o livro de poesia, onde se encontram tempo-espaço, mas a preciosa colaboração do mestre Tanaka.
Todos os demais mestres obtêm resultados os mais desafiantes, sobretudo se, atentos e insistentes, nos dermos para perceber a concentração telúrica até expressa, o que se justifica plenamente ao considerar que o Japão é dos países do mundo que mais e melhor se insere na “linha-de-fogo” cuja geografia desafia o homem no seu dia a dia da sobrevivência e, portanto, da consciência de sua existência.
Da coleção, pis, emana toda a uma captação de tintas e espaços equilibradamente dispostos, embora espontaneamente lançados transmitindo a ideia de um dinamismo geográfico magmático. Isso sem perda vista da figura humana, no que possua de mais fisionomicamente expressivo a técnica sutil do traço oscilando até a mancha de uma veludosidade suavíssima.
Tudo oque fluindo de uma ligeira visão de “vernissage” pois o retorno e a insistência, seja observação com dedução, seja indagação, para captar das formas sutis de milenar cultura oriental nos: sugerir, ilustrar, admirar, estimular, ampliando horizontes de saber e de sensibilidade.
40 anos de música aleatória
Em recente ato comemorativo ocorrido no Instituto de Letras e Artes da Universidade Federal de Pelotas, ocorreu a expressiva data do aniversário da Música Aleatória, técnica musical ultimamente assumida por Luiz Carlos Lessa Vinholes, a partir de sua composição erudita Instrução 61, a de dezembro de 1961, em Tóquio, Japão.
Coincidindo com o lançamento da logomarca da Galeria de Arte do ILA, da UFPel, o evento reuniu um grupo de estudiosos e apreciadores, prestigiado pela reitora da UFPel, professora Inguelore de Souza, Francisco Elifalete Xavier, pró-reitor de Extensão, e Wilson Miranda, diretor do MALG.
Congregados num dos recintos da sede do ILA, estudantes e mestres, liderados pelo professor Mário Maia[iv], procederam a uma demonstração do método que se revelou basicamente simples e criativo.
Pressupondo por parte dos executantes, ali em número de quatro, conhecimentos básicos de manejo do instrumental, o sistema conta com a colaboração de participantes dispostos a manejar sinais gráficos de significado previamente conhecido.
Sendo assim, e como forma de demonstração espontânea e ilustrativa, Mário Maia, contando com executantes previamente dispostos mais a equipe do manejo dos sinais, para a qual convidou a reitora Inguelore, procedeu a exemplificar o sistema que, pelo visto, prima pelo engenho, a participação e a surpresa do acaso.
Preparo e ensaio dos executantes em relação a seus instrumentos, são, evidentemente, pressupostos do método; porém a condução da apresentação foi obra de um acaso que o manejo dos sinais apresentou, sucessivamente, exigindo, isto sim, reativa concentração e habilidade manual.
De parte da plateia, a maiorias constituída por jovens e estudantes, notou-se o gosto eufórico pela participação, o processo despertando um misto de intenso interesse, notável euforia e grande comunicação. Tudo muito bem motivado e explanado pelo professor Mário Maia e seus parceiros ali, exitosamente, a laçar a logomarca da Galeria de Arte e a relembrar o fato histórico da Música Aleatória, através do método do nosso inteligente conterrâneo Luiz Carlos Lessa Vinholes.
[ii] Exposição realizada na Sala Frederico Trebb do Paço Municipal de Pelotas de 11 a 1 4.12.1994.
[iii] Kenzo Tanaka, artista plástico, líder da Sociedade Internacional de Artes Plásticas e Audiovisuais (ISPAA-1963), é o autor dos 4 sumi-ê que ilustram as capas e contra capas do meu polievroma (poema livro) “menina só” (1994).
[iv] Mário Maia. Professor aposentado da Universidade Federal de Pelotas é autor da dissertação de mestrado Serialismo, Tempo-Espaço e Aleatoriedade – A obra do compositor Luiz Carlos Lessa Vinholes (1999).
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