Usina de Letras
Usina de Letras
38 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 


Artigos ( 63522 )
Cartas ( 21356)
Contos (13309)
Cordel (10366)
Crônicas (22590)
Discursos (3250)
Ensaios - (10779)
Erótico (13603)
Frases (52012)
Humor (20212)
Infantil (5653)
Infanto Juvenil (5010)
Letras de Música (5465)
Peça de Teatro (1387)
Poesias (141411)
Redação (3380)
Roteiro de Filme ou Novela (1065)
Teses / Monologos (2445)
Textos Jurídicos (1975)
Textos Religiosos/Sermões (6396)

 

LEGENDAS
( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )
( ! )- Texto com Comentários

 

Nossa Proposta
Nota Legal
Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->O HISTÓRICO DA COLEÇÃO DE OBRAS JAPONESAS DO MALG -- 19/08/2025 - 09:58 (LUIZ CARLOS LESSA VINHOLES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

O HISTÓRICO DA COLEÇÃO DE OBRAS JAPONESAS DO MALG

L. C. Vinholes

19.08.2025

 

De 12 de setembro a 3 de novembro de 2013, realizou-se no Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo de Pelotas (MALG) a exposição Cerâmicas e Gravuras Japonesas – Coleção Luiz Carlos Lessa Vinholes, em homenagem aos 50 anos da irmandade entre Pelotas e Suzu, as primeiras cidades irmãs entre o Brasil e Japão.

Contando com o patrocínio das Secretaria de Cultura da Prefeitura de Pelotas, para divulgação da mostra, foi produzido um informativo folheto aos cuidados da presidente da Sociedade Amigos do MALG, professora Clarice Rego Magalhães.

Levado em consideração que a referida mostra foi realizada há mais de 12 anos, que é sempre limitada a tiragem do material usado para divulgação desses eventos e que ele não chega ao conhecimento do público atual, nada impede que ele seja reproduzido visando alcançar as novas gerações que se formaram.

O histórico por Clarice Magalhães

No dia sete de dezembro de 2011, o Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo (MALG) recebia a doação de cerâmicas e gravuras japonesas, efetuada pelo poeta e compositor pelotense, oficial de chancelaria aposentado do Itamaraty, Luiz Carlos Lessa Vinholes. Este conjunto de obras, constituído por mais de uma centena de gravuras e cerâmicas, algumas remontando ao século XVIII, passarão a fazer parte do acervo do Museu, sob a denominação “Coleção Luiz Carlos Lessa Vinholes”. Agora parte desta coleção é aprestada pela primeira vez ao púbico, na significativa ocasião das comemorações dos 50 anos do acordo de coirmandade entre Pelotas e a cidade japonesa de Suzu, idealizada por Vinholes e firmada em 17 de setembro de 1963.

Vinholes diz que nunca se considerou dono das obras que adquiriu, mas sim um fiel depositário, e que “compartilhar o que se tem é o segredo da felicidade do ser humano”.

Acreditando que nossa formação não deve ficar restrita aos padrões europeus, sem dúvida importantes, mas limitados, e que conhecer a realidade de outros povos e de outas culturas é abrir novos horizontes e enriquecer nossos acervos emocionais e intelectuais, toma a iniciativa de dar suas obras a uma instituição cultural.

Segundo o doador, a riqueza da história do Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo, que começa como um sonho ainda dentro da Escola de Belas Artes de Pelotas – com a primeira doação de um conjunto de pinturas efetuada pelo futuro patrono do Museu – e a posterior fundação já como órgão da Universidade Federal de Pelotas, foi fator decisivo no momento da escolha da instituição que receberia a doação. Também foi importante a localização do Museu, no Cone Sul. Nas palavras do doador: “além de ser instituição da minha cidade, o MALG é situado no centro de milhares de potenciais interessados, que vivem não só nos limites do Rio Grande do Sul, mas também de além fronteira: nossos vizinhos Argentina, Paraguai e Uruguai”.

Vinholes considera que o fato de ser pelotense, ter nascido em uma cidade que tem tradição na área cultural, influenciou no se gosto pelas artes. Sempre se interessou por arte em geral, música e literatura. Começou a publicar poesias quando tinha 15 ano, e com a mesma idade foi “menino- cantor” do coral da Catedral. Participou do Teatro-Escola de Pelotas, foi baterista da Orquestra Sinfônica da cidade e começou a escrever crítica/comentários de música e de arte e geral para os jornas locais A Opinião Pública e Diário Popular, quando ainda não completara 20 anos. Em agosto de 1952 a Revista da Secretaria de Educação do Rio Grande do Sul publicou duas poesias de sua autoria[i]. Sua mãe tocava piano e compunha, seu pai tinha voz de tenor e conhecia rico repertório de canções tradicionais brasileiras. Conheceu a Escola de Belas Artes de Pelotas, e valorizava a sua contribuição para o cenário cultural pelotense.

Assim, a Coleção Luiz Carlos Lessa Vinholes vem se juntar às demais coleções que formam o acervo do Malg, quais sejam Coleção Leopoldo Gotuzzo, Coleção Dr. João Gomes de Mello Filho, Coleção Faustino Trápaga, além das coleções Ex-alunos da Escola de Belas Artes, Século XX e Século XXI. Mais uma vez um pelotense apaixonado pelas artes, em um gesto de desprendimento e benemerência, contribui para a riqueza cultural da sua cidade, gesto este que não pode deixar de ser devidamente valorizado e pelo qual teremos uma eterna dívida de agradecimento.

 

CLARICE RÉGO MAGALHÃES é Doutora em Ciências da Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), RS; Pós-Graduada em Metodologia do Ensino na Educação Superior pela Uninter-Curitiba, PR; Graduada em Artes Visuais – Pintura, Artes Visuais – Escultura e em Arquitetura e Urbanismo pela UFPel.

 

Como se deu a formação da coleção de obras japonesas

Vinholes diz:

“Nos cinco anos em que morei em São Paulo, na década de 1950, as louças dos restaurantes japoneses do Bairro da Liberdade chamaram minha atenção pela singularidade de suas linhas, de suas formas e de suas ornamentações. Quando cheguei no Japão, em 1957, meus olhos se encheram de encantamento e de curiosidade. Não demorou muito o desejo de compartilhar o espaço onde morava com algumas peças da mais autêntica tradição japonesa na cerâmica, gravura, escultura e música.  Este início ingênuo tornou-se um vício que durou décadas, resultando numa pequena coleção.

Minhas primeiras aquisições foram dois instrumentos musicais tradicionais indispensáveis ao estudo do Gagaku[ii], música tradicional da corte japonesa, que me comprometera estudar valendo-me da bolsa de estudos oferecida pelo Ministério da Educação do Japão. O shÅ = 笙 = órgão de boca, e hichiriki = 篳篥, espécie de flautim/oboé, anos depois de terminar meus estudos, presenteei ao amigo Kasagi Kamichi, músico do templo Kasuga, em Nara. As gravuras ukiyo-e = 浮世絵 e as cerâmicas Imari = 伊万里焼, Nabeshima é‹å³¶ç„¼, Kutani = ä¹è°·ç„¼, etc.[iii], adquiri, pela primeira vez em 1959, em modesto antiquário na região de Roppongi, em Tokyo, de propriedade do antiquarista Masao Hara, fornecedor da quase a totalidade do que reuni nos quatorze anos que vivi no Japão. Exceção feita às cerâmicas Nippon = 日本焼 produzidas de 1891 a 1921, para exportação, que foram adquiridas em feiras e leilões no correr dos doze anos em que morei no Canadá.

 

Masao Ohno e a vitrine do seu antiquário

Ao longo deste processo, dois momentos ficaram na minha lembrança como sendo muito especiais. O primeiro, pelo fato de ser músico, diz respeito à beleza do som produzido quando se levanta e apoia a base de um grande prato com os dedos de uma mão e com a junta do dedo indicador da outra se percute com firmeza a sua lateral: o som é longo delicado e de harmônicos suaves. O outro momento foi quando tomei conhecimento da seriedade do controle da qualidade dos ceramistas do clã Nabeshima: qualquer peça que apresentasse o mínimo defeito era impiedosamente destruía para que não viesse a desmerecer a produção que saía dos seus foros.”

 

Pequena biografia

Luiz Carlos Lessa Vinholes pelotense, nascido na década de 30. Compositor, escreveu peças musicais na técnica dodecafônica e desenvolveu um sistema de construção musical original denominado Tempo-Espaço. É pioneiro da música aleatória no Brasil. Dedica-se a atividades diversas na música de vanguarda, poesia concreta e crítica musical.

Recebeu bolsa de estudos do Ministério da Educação do Japão, tendo frequentado o Departamento de Artes da Universidade de Tokyo, o Departamento de Música do Palácio Imperial e a Associação de Gagaku Ohno. Estudou o gagaku, shÅ e hichiriki.

Foi adido cultural em Tokyo, Ottawa e Milão. Participou como músico convidado, ao lado de Schoenberg, do I Festival Internacional de Música Contemporânea de Osaka, no Japão.  Sua obra Tempo-Espaço VI (1963) ou Kasumi, foi executada pela Orquestra Filarmônica de Osaka. Pesquisa música chinesa, coreana e japonesa. Essas três culturas influenciam sua obra, resultando em economia de meios e aproximando sua produção a do compositor austríaco Anton Weber.

Vinholes foi co-fundador da Associação Internacional de Artes Plásticas[iv] e Áudio-Visuais e da Associação para Estudos da Arte no Japão. Contemporâneo dos poetas do Grupo Noigandres, organizou a Exposição de Poesia Concreta Brasileira em Tokyo[v], que influenciou poetas japoneses, e foi curador e promotor da Exposição Internacional de Poesia Concreta no Teatro Sogetsu Kaikan. Seu acervo de obras e documentos relacionados à poesia de vanguarda da segunda metade do século XX foi doado ao Centro de Referência Haroldo de Campos da Casa das Rosas[vi], em São Paulo.

Retornando ao Brasil, lança o livro de poesias Menina Só[vii], reúne sua obra poética na antologia Retrato de Corpo Inteiro (2007)[viii] e dedica-se à informatização[ix] de sua técnica Tempo-Espaço. Sua peça Instrução 61 é um marco na história da música brasileira, pela utilização pioneira do acaso ou aleatoriedade, subvertendo a lógica da escrita tradicional, e pela introdução da participação do público na construção da obra.

Para mais informações,

acessar o site oficial

[x]

 

[i] Vide artigo A professora Suzana Burtin Vinholes, publicado, no site www.usinadeletras.com.br em 23.08.2024.

[ii] 雅楽 = Gagaku = música antiga/elegante da Corte do Japão.

[iii] Vide artigo Imari, Nabeshima, Mashiko, Nippon, cerâmicas japonesas, publicado em 04.01.2013 no site www.usinadeletras.com.br.

[iv] ISPAA = Associação Internacional de Artes Plásticas, cofundador com Kenzo Tanaka

[v] Contando com a valiosa colaboração do arquiteto paulista João Rodolfo Stroeter, na época bolsista do Ministério da Educação do Japão.

[vi] A Coleção Haroldo de Campos, assim como a Coleção L. C. Vinholes, foram definitivamente transferidas para uma instituição do Governo paulista onde as condições de humidade e temperatura, são adequadas à conservação.

[vii] menina só, trata-se de um polievroma (livro-poema ou poema-livro) lançado em outubro de 1994, pela Editora Masao Ohno, de São Paulo.

[viii] Reunindo a criação poética de 1947 a 2007, produziu um só exemplar artesanal de Retrato de Corpo Inteiro, hoje no acervo da Discoteca L. C. Vinholes, do Centro de Arte da UFPel.

[ix] A criação de um programa para informatização da Técnica de Composição Tempo-Espaço, de 1956, por falta de conhecimentos técnicos e oportunidade, continua sendo um desejo a satisfazer.

[x] A criação deste link, que não existe mais, foi da professora Lilia de Oliveira Rosa, no Capítulo IV da monografia “O processo de indeterminação em três peças de L. C. Vinholes”, para a tese de doutorado apresentada em 04.07.2007, no Curso de Música do Instituto de Artes da Unicamp. O link disponibilizado é: http://www.leceleve@gmail.com.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Perfil do AutorSeguidores: 12Exibido 7 vezesFale com o autor