Rimas no poema Suzu no Hanataba - Ramalhete de Suzu
L. C. Vinholes
20.08.2025
Embora em 09.06.2014 tenha publicado o artigo Mesa Redonda Sobre Poesia Brasi-Japão - Suzu no Hanataba, no site , volto a tratar desse “poema”, desta vez abordando o que foi uma tentativa de dar aos poetas japoneses uma ideia do que é rima na nossa poesia.
Suzu no Hanataba ou Ramalhete de Suzu foi uma experiência poética de 26 de julho de 1962, em homenagem à cidade de Suzu, Província de Ishikawa, cidade irmã de Pelotas (RS), primeiras a formalizar laços de fraternidade entre Brasil e Japão.
Tendo como objetivo principal homenagear a Suzu e a todos os que ali nasceram e labutam, o poema aqui reproduzido, talvez ode ou ladainha, teve, também como objetivo, mostrar o que, sob o ponto de vista formal, acontece na maioria das criações poéticas clássicas em língua portuguesa, material que não faz parte do fazer poesia em japonês: a rima.
.Neste poema, como facilita a versão em português, são lembradas e cantadas características e belezas da cidade e da regão de onde ela se encontra, sem esquecer a sua maior riqueza: suas crianças
Embora a rima, nos textos em português, se faça graças a presença das vogais em sílabas finais dos versos de igual sonoridade, neste caso, no texto em japonês, a “rima” é obtida pela sonoridade das vogais presentes nas silabas dos ideogramas no final dos “versos”.
É interessante registrar que, nas sílabas nos textos em português, não seja lembrado seu aspecto visual no final dos versos, ele não deixa de ser um elemento que bem poderia ser levado em consideração. No texto em japonês – especialmente neste com predominância de ideogramas -, o aspecto visual dos sons das vogais não se faz presente, uma vez que os ideogramas utilizados não têm aspecto visual perceptível quanto da sonoridade das suas vogais do final dos versos.
Registre-se que nesta experiência, como muitas vezes acontece nos sonetos, as rimas estão presentes nas estrofes de quatro versos e ausentes nas estrofes de três.
Quero lembrar, mais uma vez, que em 27 de setembro de 2013, na curta e proveitosa estada o Japão, participei da mesa redonda sobre o tema A poesia Concreta Brasil-Japão, promovida pelo Departamento de Desenho da Universidade Musashino de Tokyo. Na parede da sala repleta de estudantes, cinco painéis, na forma de kakemono[ii]exibiam dois poemas de Shukuro Habara[iii], dois poemas de Shutaro Mukai[iv], moderador do evento, e o texto de Suzu no Hanataba, escrito com pinceladas da caprichada caligrafia de Habara, tendo o preto do sumi, a tinta da China sobre o branco característico do washi, papel artesanal japonês.
Suzu no Hanataba na caligrafia de Shukuro Habara
Por oportuno, novamente, segue o registro das publicações do poema Suzu no Hanataba 珠洲 の 花束que foi publicado em Tokyo na revista Design nº 27, de dezembro de 1961, graças ao interesse do poeta e gráfico Shukuro Habara; no catálogo Noto Hanto no Tabi = Viagem pela Península Noto, da cidade de Suzu, em 1963; na revista Design nº 44, p. 32, de março de 1963; na revista ASA nº 1, de 20 de setembro de 1965, da Associação para Estudos da Arte (ASA), dirigida pelo poeta Seiichi Niikuni (1925-1977); e pela prestigiosa Galeria Yoseido, em Tokyo, no convite para a exposição das obras do pintor Soroku Wani[v], aberta ao público em março/abril de l966.A inclusão deste poema no convite da citada mostra deveu-se ao pedido expresso do pintor que se manifestou curioso com a sonoridade dos versos e com a história pioneira de Suzu e Pelotas. Wani visitou São Paulo em 1976 e desde 2015 tem obras no acervo do MALG.
[i] Ohtani é o nome do bairro onde estava antiga Escola Primária e hoje a nova Escola Primária e Ginasial de Suzu.
[ii]Em maio de 2014 os “kakemonos” aqui comentados foram doados à Coleção L.C. Vinholes, da Casa das Rosas em São Paulo.
[iii]Shukuro Habara, designer e poeta, sempre se interessou pela poesia de vanguarda e a ele se deve a publicação das antologias homônimas Poesia Concreta Brasileira nas revistas Design nº 27 de 1961 e Graphic Design nº 18 de 1965. Introduziu na revista japonesa “SD” (1964-1985), dedicada à arquitetura, à arte e ao design, o método tipográfico “mobile grid” de Karl Gerstner. Divulga grande parte de suas poesias em formato de cartão postal.
[iv]Shutaro Mukai designer e poeta, após cursar a Universidade Waseda, em Tokyo, formou-se em designe pela Escola de Desenho em Ulm, Alemanha, onde foi aluno de Max Bense; posteriormente frequentando o Instituto de Desenho Industrial da Universidade de Hanover. Regressando ao Japão em 1967, criou o Departamento de Ciência do Desenho da Universidade Musashino e, em 2003, depois de presidir o referido departamento, foi nomeado Professor Emérito. Autor de poesia concreta e livros sobre desenho e poesia dentre os quais The Origin of Desing e The Poetics of Form. Foi membro da Associação para Estudos da Arte (ASA), criada em 1965 pelo poeta Seiichi Niikuni.
[v] O acervo do Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo, de Pelotas (RS), tem obras de Soroku Wani.