|
NOTAS BIOGRÁFICAS
L. C. Vinholes
25.10.2025
Acabo de receber correspondência de Carlos Kater compositor e pequizador que se encontra em Paris, trabalhando na produção de dois livros que reunem dados e informações sobre temas de interesse para os que se dedicam a bem conhecer a história da música brasileira: um, como explica, “Trata-se de uma coletânea de entrevistas que realizei na década de 80 com personalidades do meio musical, sobre H .Villa-Lobos” e outro que conta “fazer no ano que vem, sobre a Música Viva e Koellreutter, e que teremos a honra de contar com seu texto”. Certamente a inexorável passagem do tempo e, ainda, a compreensível ausência dos eventuais colaboradores, resultam na dificuldade de Kater conseguir os dados de que precisa para poder dar por terminado seu trabalho.
Há pouco tempo, citando os temas H. J. Koellreuter e Música Viva, Kater, formulando 50 perguntas, disse nescessitar “de informações breves e objetivas sobre você, constando: local e data de nascimento; formação; carreira; atuações; principais realizações; influências significativas recebidas; etc.” Pedido que resumiu em dois títulos: “Nota Biográfica sobre L. C. Vinholes” e “Tópicos de entrevista”. Faclitou-me pedindo que resposta fosse do “tamanho: de uma a duas páginas, no máximo, contendo, se possível, links de seus trabalhos e/ou textos e bibliografias sobre você e seus trabalhos, caso haja. Esse material não figurará no corpo da entrevista, mas servirá como base para o breve texto introdutório que escreverei sobre você no início ou no final da entrevista”.
Prontamente respondi com as Notas Biográficas, de 25.04.2023, a seguir, sendo que as 50 perguntas do Questionário serão objeto de outro artigo:
Nasci no Bairro Fragata, em Pelotas, RS, em 10 de abril de 1933; fui alfabetizado em casa pela prima Antonia Lessa Mota, frequentei o segundo e terceiro anos primários no Colégio São Francisco de Paula (1942/1943)[i], dirigido pela educadora Maru Melo; fui matriculado no Colégio Gonzaga do Irmãos Lassalistas, onde, com bolsa de estudos, frequentei os cursos ginasial (1944 a 1947) e científico (1948 a 1950). Fui colaborador crítico de música do Diário Popular e Opinião Pública de Pelotas (1950 a 1952). Frequentei o Conservatório de Música de Pelotas (1951 e 1952). Fui professor de música no Seminário São Francisco de Paula, em Pelotas (1952). Meu primeiro encontro com H. J. Koellreutter, foi em dezembro de 1952, quando, regendo a Orquestra da Sociedade Orquestral de Pelotas, apresentou sua obra dodecafônica Fanfarra de Inauguração, para 3 trompetes e 3 trombones, composta para a inauguração do Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 1947. De fevereiro de 1953 a julho de 1957, fui aluno da Escola Livre de Música (ELM) da Pró Arte, Rua Sergipe 251, em São Paulo, estudando estética, composição, flauta e matérias correlatas com Koellreutter, canto com Celina Sampaio e matérias teóricas com Roberto Schnorrenberg e Damiano Cozzella. Em todo o período da ELM, fui colaborador na secretaria da escola e secretário de Koellreutter, cuidando dos seus assuntos particular, graças à duas procurações[ii] que me foram dadas. Fui aluno do curso de canto da professora visitante Gabrielle Dumaine (1954). Em 1956, aluno de Yulo Brandão, no Curso de Filosofia da Música do Instituto de Filosofia de São Paulo e solista do Conjunto Coral de Câmara dirigido por Klaus Dieter Wolff. Participei do IV Curso Internacional de Férias da Pró Arte em Teresópolis (1953) e do I Seminário Internacional de Música em Salvador (1954) organizado pela ELM e patrocinado pela Universidade Federal da Bahia. Em 1954, com Brasil Eugênio da Rocha Brito, Antônio Galvão Novaes e Munir Bussamra, tomei parte no Estúdio de Música Eletrônica da ELM, liderado por Koellreutter e Ernest Mahle e produzi gráficos/partitura de gravações em fita magnetofônica. Em setembro de 1956, na primeira de três palestras na ELM, apresentei os parâmetros teóricos da técnica de composição Tempo-Espaço, exemplificando suas possibilidades com as peças Tempo-Espaço I e Tempo-Espaço II (1956), para trio de cordas, gravadas em Moscou, em maio de 2012, por Olga Garsdhna (violino), Andrey Chaporov (viola) e Andrey Beresin (violoncelo). Em meados de 1956, na mudança de Koellreutter para a Universidade Federal da Bahia, fui dele substituto na coluna Música do Diário de São Paulo. No início de 1957, participei da produção e redação do texto da Apostila para os que fazem e/ou escutam Música, criada de parceria com os engenheiros Brasil Eugênio da Rocha Brito e Antônio Galvães Novaes. Em 1956/57, o filósofo e balarino Masami Kuni, ex-aluno de Mary Wigman e diretor do Kuni Buyokekyudyo de Tokyo, ministrou classe de “creativer dance” na ELM. Koellreutter determiou que o acompanhasse durante sua estada no Brasil. Na viagem a América atina, Kuni visitou também a Venezuela e Argentina com a incumbência de apontar um candiato de cada um dos países visitados, para serem bolsistas do Ministério da Educação do Japão. No retorno a Tokyo, Kuni indicou apenas o candidato do Brasil. Assim foi que em julho de 1957, com bolsa de estudo, embarquei para aquele país. Em Tokyo, frequentei a Geidai, Universidade de Artes, tendo como orientador o professor Hisao Tanabe; o Departamento e Música do Palácio Imperial, para estudo do gagaku, a música tradicional da corte japonesa, com prática instrumental com Hiroharu Sono (shô, órgão de boca) e Sueyoshi Abe (hichiriki, espécie de flauta com palheta dupla); e na Associação Onho Gagakukai, no templo xintoísta de Uguisodani, em Tokyo, para prática coletiva de gagaku. Em Tokyo, na década de 1960, como delegado, participei do Encontro Musical Este-Oeste promovido pela UNESCO (1961) e, como observador, da V Conferência Internacional da Sociedade Internacional de Educação Musical (1963); do Simpósio Internacional de Teatro Ocidente-Oriente, em novembro de 1963; e do Simpósio Internacional de Especialistas de Arte do Oriente e do Ocidente, promovido pela UNESCO e pela Associação Internacional de Críticos de Arte (1966). Em 1961, criei e financiei em Tokyo a Editora Shin Nippaku (Novo Brasil-Japão) e publiquei a partitura de Concretion[iii], para dez instrumentos, de Koellreutter, composta especialmente para esta edição. Em setembro de 1974, na despedida de Koellreutter, diretor do Instituto Goethe em Tokyo, tive a primeira audição mundial da minha Tempo-Espaço VIII, para voz e conjunto de câmera, incluída no programa o XVI Concerto de Música Nova: Noite de Música de Vanguarda. Em 1976 a Biblioteca de Documentação da Escola de Comunicações e Artes da UnB publica catálogo de minhas obras, o primeiro da Série Compositores Brasileiros. Em abril de 1977, contando com a colaboraão dos autores/compositores e do pianista Paulo Affonso de Moura Ferreria, presidente da Secção Brasileira da Sociedade Internacional de Música Contemporânea (SIMC), fui curador da Exposição de Música Contemporânea Brasileira, na Galeria de Arte da Embaixada do Brasil em Tokyo, com 300 partituras e 70 LPs de obras de 97 compositores, bem como livros, biografias, fitas cassete etc. Transferido para o Canadá, levei o material da mostra onde foi exibido na Universidade de Ottawa e, em 1980, distribuido aos departamentos de música de 29 universidades canadenses. Em 1979 a Editora da UnB, publica, em um só volume, minhas Tempo-Espaço VIII, IX e XI, para conjunto misto de câmera. Em 1976 e 1977 proferi conferências sobre A Música Tradicional da China, Coréia e Japão, ilustrada com gravações e diapositivos no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand; na Secretaria de Cultura e Turismo de Santos (SP); na Secretaria de Cultura, Ciência e Tecnologia de São Paulo; na Escola de Música da Pró Arte em Piracicaba; e no Conservatório Dramático e Musical Dr. Carlos de Campos, em Tatuí. Em setembro de 2004, na segunda visita a Timor-Leste, apresentei letra e música da canção Meu Timor-Leste, criada com o objetivo de ajudar na recuperação da autoestima das crianças de Dili. Em setembro de 2006, fui testemunha da inauguração da Função H. J. Koellreutter quando, entreguei ao professor Helvécio Luiz Reis, reitor da Universidade Federal de São João del-Rei, centenas de documentos, um extenso e precioso acervo de partituras, cartas, telegramas, artigos, recortes, fotos, programas, manuscritos, etc. que estavam em meu poder. Na mesma ocasião, sugeri e vi aquele evento ser encerrado com uma calorosa e prolongada salva de palmas à senhora Áurea Frazano da Silva, dedicada e fiel governanta, sempre presente durante os últimos anos de viva do grande mestre, recolhido no seu espaçoso apartamento da Av. São Luiz, em São Paulo.
Registro quete não voltei a atualizar essas Notas Biográficas.
[i] O artigo Lembranças da Escola São Francisco de Paula está publicado pelo site , em 30.05.2016.
[ii] Essas procurações foram doadas ao acervo da Fundação Koellreutter em setembro de 2006.
[iii] O original dessa obra e uma cópia da edição pela Editora Shin Nippaku (Novo Brasil-Japão), foram doadas ao acervo da Fundação Koellreutter e setembro de 2006.
|