O baixo gabarito técnico que envolve o futebol mundial é evidente. Cada país só apresenta um craque como destaque (e que não chega a ser metade de um Roger ou Felipe). O Brasil consegue montar pelo menos quatro seleções de alta qualidade. Se todas pudessem participar de uma copa ao mesmo tempo, teríamos garantido pelo menos os três primeiros lugares da competição. Assim sendo, mesmo desorganizado e dirigido por raposas que enriquecem em função da falência dos clubes, é evidente que o Brasil está vários anos à frente dos demais países e tem quase a obrigação de vencer uma copa a cada oito anos.
O nível cultural da maior parte do grupo que obteve este troféu para nós, não permite que os jogadores percebam o malefício que causaram à pátria. Não fizeram por mal. Como a maioria deles é de origem humilde e de extrema pobreza, não estão seguros de que o patrimônio já obtido seja suficiente para viverem tranqüilos para o resto da vida, mesmo sem trabalhar. E como desejam renovar seus contratos por valores maiores, deram tudo de si para conquistar o título. Dificilmente entenderão que esta alegria proporcionada ao povo é efêmera e que o excesso será usado como anestesia para reduzir nossa dor pelos problemas sociais que as autoridades não se empenham em resolver. A euforia teria uma duração máxima de 15 dias. Mas a mídia saberá estica-la até às portas das eleições sob o patrocínio da elite dominante que prega alegria para o povo com a barriga vazia. A turma da Rua Alzira que se reuniu por sete vezes em junho unindo 20 mil pessoas para beber e sambar por 14 horas seguidas, não usará este fôlego para promover uma cruzada mensal com 10 mil pessoas para uma passeata de 2 horas como protesto contra as roubalheiras e falcatruas montadas pelos nossos dirigentes. E assim, o povo permanecerá na insônia que o mantém lacaio do mundo. Cheio de alegria na alma pelo penta conquistado sem maiores trabalhos e sem casa, saúde, comida e oportunidade para oferecer uma vida digna aos seus herdeiros.
Enquanto a galera bebe e samba ignorando até mesmo a hora de retornar ao serviço, os abutres de goela profunda aumentam a gasolina sem muito alarde na imprensa (o valor acumulado só deste item (imaginem se contabilizarmos os alimentos e remédios) ultrapassou 15% no último ano. E o reajuste dos trabalhadores nos últimos oito anos está quase congelado). Enquanto a turma se abraça reafirmando sua superioridade (sem dúvida) no futebol mundial, os "magos" das finanças promovem devolução do FGTS roubado do trabalhador alardeando uma generosidade invejável, que quase nos leva às lágrimas. Só não contam que a fórmula "mágica" está pagando umas cinco vezes menos do que realmente deveria.
Os dezoito gols que a seleção converteu não reduzirão o sofrimento da fome que contamina o povo por descaso das autoridades. Também não servirão para unir a população na busca de sua dignidade (se assim fosse, o governo até impediria a participação do time na competição). A glória obtida apenas servirá para premiar (muito justamente) os atletas e para coletar (injustamente) algum prestígio aos políticos que se espremem ao lado dos jogadores nas fotos realizadas.
Enquanto o povo compra jornal para recortar cupon ou telefona para a tv (e ainda paga) para eleger o melhor jogador da seleção, os gerentes das urnas eletrônicas devem estar efetuando testes de funcionamento do artefato na surdina, no sentido de garantir o resultado do pleito sem que seja preciso ocorrer uma prorrogação ou disputa em penaltys.
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Haroldo P. Barboza – Matemático, Analista de computador e Poeta – Julho / 2002
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