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Artigos-->Lula e a Síndrome do Revolucionário Bom -- 13/07/2002 - 14:52 (BELADONAIDIOTA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Lula e a Síndrome do Revolucionário Bom



Carlos Alberto Montaner



O manicômio político brasileiro de hoje se parece bastante com o venezuelano

de 1999. Em Caracas, a classe política democrática não soube articular um

pacto razoável para derrotar Hugo Chávez nas urnas e, aos poucos, o coronel

foi-se transformando no candidato dos grupos mais pobres e, depois, dos

níveis sociais médios. Quando as pesquisas de opinião já o davam como

vencedor, surgiu e se expandiu como uma epidemia a "síndrome do

revolucionário bom". Era o início da catástrofe.

O que é a "síndrome do revolucionário bom"? Trata-se de uma curiosa fantasia

que consiste em acreditar que os reformadores sociais delirantes não

tentarão levar a cabo seus loucos projetos. É como a negação da realidade

que certos moribundos costumam experimentar. Já que morrer parece ser uma

experiência desagradável, a maneira de enfrentar esse fato irremediável é

acreditar que uma força mágica impedirá que ele aconteça. Em Cuba foram

legiões a opinar que Castro, sob sua máscara e seu discurso, escondia um

estadista prudente. E, na Venezuela de Hugo Chávez, ouvi exatamente o mesmo:

"Trata-se de um revolucionário verbal, que se deixará guiar pela força dos

fatos."

Agora é a vez dos iludidos brasileiros. Como Lula ultrapassou seu teto

eleitoral e talvez seja imbatível, muitos empresários e membros dos setores

sociais médios - os que primeiro sofrerão as conseqüências nefastas desse

apóstolo do terceiro-mundismo - começam a pensar que esse sindicalista

radical, uma vez instalado no palácio do governo, será possuído pelo

espírito de Tony Blair e se comportará de forma razoável.

Por que esperar essa metamorfose? Lula da Silva, como muitos milhões de

latino-americanos, acredita que a economia de mercado é um sistema injusto

de produção e distribuição de bens e serviços. E acredita que a tragédia dos

80 milhões de brasileiros pobres se deve à ganância insaciável dos 80

milhões que não o são e, de forma muito especial, desses 7 milhões que

constituem os níveis sociais mais altos do País. Para o sr. Lula da Silva, e

para todo o seu círculo de amigos, cúmplices e companheiros de viagem

inscritos no Fórum de São Paulo, a tarefa dos governos é elaborar controles

para fazer justiça mediante a repartição forçada da riqueza criada,

estabelecendo padrões igualitários de consumo, e não a de criar condições

para que a sociedade, livre e espontaneamente, produza quantidades cada vez

maiores de bens e serviços.

O que se há de fazer? O sr. Lula da Silva é um revolucionário

latino-americano. Esta é uma espécie muito prolífica surgida no século 20,

com dificuldade de entendimento e refratária à experiência, alimentada por

graves erros intelectuais e assentada numa cômoda explicação de nossas

desgraças baseada no vitimismo, o que lhe provoca uma fúria moral muito

perigosa. A origem está numa velha bobagem formulada por Marx no século 19 para explicar as relações econômicas entre Inglaterra e Índia. Nós,

latino-americanos, somos pobres porque os poderes imperiais nos exploram -

esses ianques, europeus e japoneses canalhas (ultimamente apoiados por

coreanos e chineses) que nos condenaram à periferia do sistema econômico,

obrigando-nos a vender matérias-primas sem valor agregado, enquanto

compramos produtos manufaturados para glória e fortuna das nações situadas

no centro.

Há 30 anos, Fernando Henrique Cardoso, hoje presidente do Brasil, que na

época pensava como Lula, escreveu o manual da seita: Dependência e

Desenvolvimento na América Latina. Com o tempo e muitas leituras, que Lula

não fez, se curou.

Votar em Lula é uma opção legítima. A democracia não pode excluir ninguém

por estar equivocado. O que constitui um disparate é pensar que Lula, uma

vez no poder, vá respeitar as liberdades econômicas e comportar-se de forma

sensata. Por que trairia suas convicções?

Os revolucionários latino-americanos são dirigistas, protecionistas, têm

aversão aos empresários, detestam as nações desenvolvidas do Ocidente - que

culpam pelas desgraças nacionais - e têm uma idéia cômica da elasticidade

dos orçamentos e da capacidade arrecadadora do Estado. Todos crêem que a

qualidade moral dos governos se mede pela dimensão do gasto público, o que

desemboca na inflação e acaba por destruir a economia. Nenhum deles entende como se cria ou malbarata a riqueza. De Perón a Alan García, passando por Allende, pelos sandinistas, por Fidel Castro e Chávez, à esquerda e à direita do espectro político, os revolucionários latino-americanos são especialistas em arruinar seus países em nome da justiça social.

Se os brasileiros vão eleger Lula, convém saberem o que lhes vai acontecer.

Não existe o revolucionário bom, da mesma forma que não há uma espécie

benigna de caruncho. Acreditar no contrário é só um sintoma da "fase de

negação" que antecede a morte inevitável.



O autor é Jornalista e Escritor cubano, é co-autor do livro Manual do

Perfeito Idiota Latino-Americano



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