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Artigos-->Talento -- 09/01/2000 - 00:54 (Maria Abília de Andrade Pacheco) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Que hoje me bateu um pensamento de que muita coisa só vinga na palavra, vê! Com isso não acabo por reafirmar que o dom da complicação é prerrogativa humana e, por conseqüência, as palavras nada são que vorazes formigas, ávidas de nossas mais desassombradas calmarias e intempéries? Não bastasse tanto gafanhoto a abocanhar a plantação!

Sei de tribos que assobiam, sei de pessoas que se dizem gestos, sei do gesto que diz mais do que mil palavras. O problema é o nome que terá a intenção contida nesses sinais! Alguém canta seu mundo às lágrimas dos mais frios olhos. Quer saber que o assunto é, tão-somente-quanto-é, aquele mesmíssimo, repetido e repisado, que todo o mundo já contou incomensuráveis vezes? Ora, piada não envelhece, conhecido anexim, que vem amarrado a outro: "Abaixo de Deus, sábio é o povo"! A vida, portanto, é mero mote, por isso: ponto para a forma de contar! Ponto para o realce da palavra colocada na hora certa! Ponto para a entonação da voz! Ponto para o gesto bem cuidado!

Aleluia, muita carne no prato e só farinha na cuia, que acabo por vislumbrar, enfim, ele, o velho, bom contador de causos! Esse sim, sabe movimentar a cabeça a seu talante, sabe dançar mãos e dedos, sabe marcar passo com as botinas puídas. Coisas por ele contadas levam nossas vidas a passeio. O velho parece um motorista, condutor de vidas, não de pessoas, bem se diga, que esse não é um trem de carga. Pois não é que esse ônibus anda mesmo é por milagre? Milagre de quem decorou cada curva! Daí os dizeres do pára-choque "Dirigido por mim, guiado por Deus".

Um pouco da gente que aponta dos esconderijos (ninguém sabe de onde sai tanta gente) se achega, procurando o cataplasma de suas dores, vale dizer, a voz do velho, absoluta e certa, de longe entendida, mas só de perto amada a gosto. Essa gente o que mais quer é desvendar o segredo dos olhos vibrantes do velho, quem sabe dos espasmos que lhe ondeiam a boca. Carisma de um soberano! O perigo é daí a pouco algum espectador criar coragem e arrancar da sacola um violão para chorar mágoas a fechados olhos, a corpo teso. Bem-vindo esse novo momento! A vontade é de sair à primeira porta e deixar o rapaz da viola sozinho com seu tempo. Ele não terá nascido para arrebanhar romeiros, ao contrário do velho, que já dobrou a esquina, sorrindo de si para os rostos felizes, que, a essa altura, já o esqueceram.

O rapaz ponteia bem uma despedida, tanto melhor deixá-lo sem detença, ou, no máximo, um adeus da porta aberta pelo velho. E ajunte-se: sem insistir numa possível súplica cantada pelo rapaz, intitulada "Não se vá, fique". Não que não. Hora existe para concordar com o desprezo, então é deixar quieto o moço, lá absorto na sua autocontemplação, sob efeito da ebriedade da música. Se ele não deseja outros olhos, este um problema dele! "O pior cego é o que não quer ver" – ai, que de novo o povo, abaixo de Deus, e eu, tendo que ir embora ao som dessa despedida, sem saber até agora como vim esbarrar aqui, eu que nada tenho de mim para contar, nem que me socorram todas as expressões idiomáticas!

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