Universo paralelo, universo travesti. Sexo, drogas, amor, rancor, está tudo ali, na película do diretor espanhol. Até mesmo a grã-fina com nariz de cadáver, personagem de Nelson Rodrigues, que vai ao Maracanã e não sabe quem é a bola, reconheceria: esse é um filme de Pedro Almodóvar.
E que não se mencionem apenas as cores de Almodóvar. Seus filmes são mais do que aquarelas, eles celebram a alegria de viver mesmo quando tudo parece difícil. Pessoas marginalizadas em nossa sociedade, como prostitutas, travestis e homossexuais representam nos filmes um papel importante que a vida muitas vezes lhes priva, revelando seus sentimentos, suas angústias e apreensões.
Por isso, vamos levantar uma estátua do nobre diretor. Uma rendição ao seu talento. Uma estátua não no centro de Madri, mas na periferia, no baixo meretrício, pois é ali que o mundo de Almodóvar vive, se multiplica em todas suas vertentes.
Vamos também criar o vocábulo Almodóvar, imortalizá-lo nos Aurélios espanhóis. Será um vocábulo alto astral, pra cima e também excêntrico como freiras viciadas em drogas ou como um filho de pai travesti. Uma palavra com fogo nas entranhas.
Por fim, cabe ressaltar que Almodóvar não é Godard, tampouco Fellini, pois ele também tem algo de único. Almodóvar é Margareth Tacther pulando carnaval na galeria Alaska.
(texto ganhador da promoção Eurochannel Tudo sobre Almodóvar e publicado na Revista de Cinema de novembro de 2000)