Enquanto de ouvido preso pelo raciocínio e ao mesmo tempo deliciado pelo magnífico e estranho deslizar da voz de Calcanhoto entre as cordas de um dolente violão, tentarei, das teclas ao monitor, gerir a sequência compacta de quatro ou cinco assuntos, por cima e por baixo uns dos outros. Sob esta referência talvez melhor seja entendido.
Já acreditei em Kipling através da linda teoria do "if". A tradução em português do consabido poema, aliás excelentemente conseguida, toca-me os tímpanos há pelo menos cinquenta e tantos anos. A teoria! Na prática, e apenas em cerca de 10% dos indivíduos, resulta por condição social do praticante ou por mero acaso das circunstâncias.
1 - Se... Eu inserir os meus textos nas rúbricas adequadas. 2 - Se... Em cada uma das classificações colocar apenas um trabalho e nunca dois ou mais seguidos. 3 - Se... Impregnar a minha escrita de conteúdo vertical em rigor sano. 4 - Se... Até polvilhar as frases com pitadinhas de elegância snob. 5 - Se... Evitar o despropósito do palavrãozinho e aplicá-lo com cuidadosa reserva. 6 - Se... Apresentar meus textos com bem doseada decoração gráfica. 7 - Se ignorar a provocação propositada ou, considerando-a, reenviá-la harmoniosa e sem ácido exagerado. 8 - Se impuser atenta observação no que concerne à não perturbação de outrem. 9 - Se... Me mostrar disponível e quanto baste para debater e comparticipar nos assuntos que forem decorrendo. 10 - Se... Finalmente, me colocar adentro dos parâmetros modesta e brandamente solicitados pelos mentores do sítio... Serei um bom usuário usineiro... Triunfarei!
Ora "se" ou "se", consoante é soer dizer-se a correr aqui na minha terra, nas hodiernas e tácitas circunstâncias que se deparam a todos, poderei também ser um logrado "autário" e quiçá muito suavemente um ridículo "anjinho". Bem... Este aludido pessimismo em nada justifica uma terminante recusa ao jeitinho que voluntáriamente me proponho dar ao "se-assim-procedesse" como descrevi.
Vou sim, Senhoras e Senhores, dar o jeitinho, e isso sem me importar absolutamente nada com aquilo que eventualmente outros façam, inclusive até com o intuito de me provocarem para conseguirem tão só demonstrar que sou um mentiroso ou, também, um hipócrita "faz-de-conta" que sou mas não sou.
Pretendo todavia destacar que a tomada da atitude que expus e doravante persistirei aplicar, nada, absolutamente nada tem a ver, embora pareça, com o (aplico aqui termo duro, mas é) estardalho ocorrido e que ainda aqui está olhando-me irónico a fio sarcástico nas costas.
Tem sim a ver e é, este espontâneo aparecimento à luz da ética comportamental, no que a literatura concerne, com a amável e suavíssima solicitação, mais uma mensagem com enlevante desafio, que por e-mail me fizeram e acolho com muito gosto.
Pronto e pronto estou. Ouço agora neste momento a maviosa voz de Sara Tavares, uma esplêndida mulatinha que incentiva um ouvinte a montar sonho de puro sangue a trote de exímia mestria.
Desço da carroça, atiro o chicote ali para o quintal de um vizinho fixe, para que não se aqueça mais o dorso ao extenuado puxador, e atiro com as botainas para o boeiro. Vou agora mesmo lavar as mãos e voltarei, não como sempre, mas sim sob o "eu-estou-tramado" com o voluntário e muito bem aconselhado compromisso que comigo mesmo assumo em face da Usina, claro!
Só para memorização exacta, se quiserem, recitem baixinho Rudyard Kipling... Ah... Deveras, poetisa, tarde só é quando se chega a algures com atraso. Um "xi" no espaço à procura de asas.
SE
Se consegues manter a calma
quando à tua volta todos a perdem
e te culpam por isso.
Se consegues ter confiança em ti
quando todos duvidam de ti
e aceitas as suas dúvidas
Se consegues esperar sem te cansares por esperar
ou caluniado não responderes com calúnias
ou odiado não dares espaço ao ódio
sem porém te fazeres demasiado bom
ou falares cheio de conhecimentos
Se consegues sonhar
sem fazeres dos sonhos teus mestres
Se consegues pensar
sem fazeres dos pensamentos teus objectivos
Se consegues encontrar-te com o Triunfo e a Derrota
e tratares esses dois impostores do mesmo modo
Se consegues suportar
a escuta das verdades que dizes
distorcidas pelos que te querem ver
cair em armadilhas
ou encarar tudo aquilo pelo qual lutaste na vida
ficar destruído
e reconstruíres tudo de novo
com instrumentos gastos pelo tempo
Se consegues num único passo
arriscar tudo o que conquistaste
num lançamento de cara ou coroa,
perderes e recomeçares de novo
sem nunca suspirares palavras da tua perda.
Se consegues constringir o teu coração,
nervos e força
para te servirem na tua vez
já depois de não existirem,
e aguentares
quando já nada tens em ti
a não ser a vontade que te diz:
"Aguenta-te!"
Se consegues falar para multidões
e permaneceres com as tuas virtudes
ou andares entre reis e pobres
e agires naturalmente
Se nem inimigos
ou amigos queridos
te conseguirem ofender
Se todas as pessoas contam contigo
mas nenhuma demasiado
Se consegues preencher cada minuto
dando valor
a todos os segundos que passam
Tua é a Terra
e tudo o que nela existe
e mais ainda,
tu serás um Homem, meu filho!
Rudyard Kipling
E AGORA?!...
Troveje o que trovejar
Venha até vento passado
Virtual ou se calhar
Real... Em "se"... Tá assinado.
Torre da Guia
PS = Leal gratidão e saudações às saudáveis e independentes intervenções do Doutor Rodrigo Terra, ao Ricardo Oliveira, ao António Brito "O-da-cabeça-sério-motivo-sentido", ao Diego Gongalves, às e aos do compreensivo, expectativo e cordato silêncio escrito, a todos, fiquem bem, à Usina e... Bem... A ALGUÉM que quiçá mais tarde se saberá por si, com os olhos um nadinha aguados.
Há um fado em Portugal que o Paulo de Carvalho interpreta bem batido: "E desculpem lá qualquer coisinha... Se fazem o favor...".
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