É... Tenho muito gosto Luiz. Conhecer pelo menos o nome que lhe veio do céu dá ensejo a que se apalpe qualquer coisinha de sólido no espaço opaco do desconhecimento. Uma capa faz desconfiar do personagem e coloca de pé atrás as sentinelas. Sobre Você fiquei a ver um nadinha mais além do favorável genérico que tinha até agora configurado, o que não quer dizer que esteja certo. Falta a parte essencial que vem antes ou depois do verbo, o movimento, a luz dos olhos, o tom da fala, o volume do todo...
De resto... Arre... E esta é a minha opinião, Você descreveu-se ou descreve-me? Muitíssimo bem... Mas, pelo rasto da minha escrevinhação, como é que lhe deu para me vestir a casaca e colocar-me a peruca de Mozart? Esse encenado privilégio devê-lo-à concerteza ao muito que tem queimado as pestanas e bem cuidado de sua biblioteca. Parabéns. Eu teria alguma dificuldade em colocar-me sob paradigma e para já acho que a minha sombra é a que melhor traduz o meu tipo. Não é a sombra que reflicto no chão ou nas paredes, percebe?!... Trata-se da sombra que deixo quando não estou... E é por aqui que sei se estarei ou não bem quando voltar. Nisto, a Usina serve-me de tubo de ensaio e projecto experimental para transferência prática.
Creia todavia, embora não estando firme na habilitação para exactamente comparar, que estou a léguas do carácter e hábitos de Mozart, talvez mesmo de completo avesso.
Então vê-me num túnel?! Como?... Eu sou até um pouco moreno!(RS) Você, Luiz, vê... Vê possivelmente a luz ao fundo do túnel e lá à boca o meu contorno, negro, quiçá cinzento... Constatará, porque lhe parece, que ando de um lado para o outro e não entende porque me vê ali, quando afinal parece que estou tão perto da claridade que o Luiz imagina. Será isso? Eu penso convictamente que vimos nos outros uma grande parte de nós e, mais das vezes, com repulsa até(não se insira p.f. em relacionamentos).
Quanto a Sade... Se há-de ver, antes de mais, donde a palavra veio. A origem das coisas tem importância fundamental na conclusão do presente. Concebe decerto Luiz que o Marquês dispunha do tempo todo do mundo para se deliciar com o seu prório ego. Conseguia tempo e persuação capaz de convencer os pacientes que tinham dinheiro e os que não tinham. Estava ele no meio, quiçá com o pirilau saturado de extremo uso, a utilizar o benfazejo chicote. Era hábil o Marquês! No fundo, o que pretenderia, presumo, era alcançar o esplendor de algumas quantas mais erecções. Naqueles tempos não havia ainda o Viagra. O método repugna-me mas admito-o. Às vezes e sem dar por isso, vejo-me nelas. Se me acendo... Fujo logo!
Ainda pelo lado de Mozart, ouço-o às vezes, nos locais onde andam algumas pessoas a fingir que comem lagosta todos os dias mas não comem. A minha música, a que me embala enquanto faço isto e aquilo, é a brasileira, balada clássica, que prefiro, e daí ando também à volta da italiana e francesa, anos 60 e género que daí tenha influência. Mas também gosto de barulho. Garanto-lhe que caio muito facilmente no goto da juventude. As gajitas e os gajitos dão-me nítida sensação real de que gostam mesmo de mim sem mais.
Concluindo. Eu estimo-o Lumonê e estava a tratá-lo com o respeito que em forma é devido às pessoas que deveras não se conhecem. Depois, assim bem no centro da floresta (e esta quem ma recordou em luz foi o António Brito), como queria que eu o tratasse?
Entende concerteza e sobretudo este aperto convencional que ao mesmo tempo também pesa. Chega a ser frustante. Dá vontade de mandar o mundo à fava e tratar tão só do próprio saco.
Na Usina, Amigo, creia, desde a receptiva comichão do Zé Pedro, sempre soube aonde estive e estou... Resumindo, com um abraço, estou na vida... Estamos!
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