Atrevi-me a isto, tão só, porque considero muito bela a tristeza expressa neste texto, tão bela, que até a dor nele contida mais se suaviza ao lê-lo. Limitei-me apenas a enformar o decurso das palavras como qualquer vulgaríssimo redactor o faria.
Persisto no esforço de me conhecer profundamente, procurando certificar-me de quanto poderia solucionar minhas angústias, mas logo, por puro e até indistinto capricho, tendo a esquecer a amálgama que me inunda os sentidos, e tudo de novo se implanta no antecendente quadro negro, ainda que tenha presumido que algo se coloriu.
Todavia assim, depois de muito tempo fora, tenho a impressão que escuto o mesmo choro amargo por entre o tédio das ruas onde meu coração parece fatalmente habitar. Entrego-me a carpidos íntimos para a ter certeza de que ainda contenho alguma alegria. Coloco-me sob um escudo claro que notoriamente se transforma num indefeso baluarte de casos perdidos, milhares, milhões de recaídas infelizes que pretendo suavizar em vão.
E aqui estou então em face deste presente e ainda sem me conhecer perfeitamente, jogando palavras como quem come e de seguida se náuseia. Sistematicamente as garras do capricho pendem e lá volta o esquecimento a envolver-me para que não me reveja nos outros. Depara-se-me insistente minha face impressa no escudo que aparece emoldurado no quadro negro dos dias que vão ficando. Mas continuo, tenho de continuar à minha procura.
Ingrid Valiengo
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