Você deveria ver minhas mãos na hora do banho. São as únicas certezas que sigo. Como o caminho que leva a todo lugar. Sozinhas acompanham a água que cai por trás, na nuca. Levanto a cabeça e faço com que elas continuem imóveis. Com os olhos fechados sinto cada pingo. As mãos teimam em descer.
Dou o aviso: é chegada a hora dos braços. Não! Os ombros primeiro. Elas se multiplicam, fazem graça. Percorrem toda a extensão até se juntarem em cumplicidade. Procuram desesperadamente o peito, sentem a respiração e avisam aos seios. Voltas e mais voltas. Idas e vindas. Sincronizam as passadas, acolhem como mãe.
As costas. Mãos felizes que chegam longe. Caminham com rapidez. A barriga, o umbigo. Uma concha quase invisível leva minhas mãos ao sexo. Ali, esperam a água que jorra entre as coxas. Viro o corpo. As mãos estão atrás. De trás para frente, de lado a lado. Pernas, joelhos. Inclino aos pés de minhas mãos. Dedos dos pés, voltam. Repassam, sossegam, amassam... pegam a toalha.