Puta que os pariu!
Dóis lenta e precisa. Precisas sair, feito feto, quase gorado, como peixe mal-pescado, amante de bucho virado.
Lambes por dentro, num ritual de Babel. Mastigas o pensamento até formar uma papa, um ungüento, uma cor de boiola, em tom pastel. Corres pelas veias e buscas a boca-livre do fim do túnel.
E te quedas, tímida da própria beleza, como se precisasses de bênçãos e perdões de almofadas. Andas escondida, pelos becos, cobrindo teus olhos muçulmanos. Passas disfarçada, entre multidões de iludidos, turbas de enlouquecidos pela falta de verbo - pobres loucos, que povoam onde não há mais viva vida a viver.
Cresces precoce, com tinta fresca, à procura de alguma cor que te valha a ousadia ingênua, que quase te mata. Faz-te de beata diante dos adormecidos, megera perante os inocentes; ou fada, que velas indecentes casais, nus, imorais. Musa, que fascinas os puros de alma, mas madrasta dos órfãos de sentimento. Ages feito um peito sísmico, um leite que só traz tormento.
Floresces em pétalas nos corações de terra roxa, erva daninha que és, dos hectares dos sem-guerra, dos arrependidos, de filhos mal-criados, dos que nascem para ser trouxas - tu fazes caras e bocas, deusa louca.
Passista de avenidas mal-asfaltadas, mal-afastadas. Cabrocha dos marginais, pomba-rola dos ambulantes dos hospitais, naja dos meus ideais. Finges ser enfermeira dos incautos, faxineira dos descalços, sogra dos mal-amados, e amante dos apaixonados.
Arte, que amordaçada por embusteiros desde mãe mimados, ou filhos de pais separados, que zombas dos infelizes, e teimas em existir, apesar de estares num beco, de onde não tem sair...