Não hesito em nomear e citar publicamente o usineiro Manuel Sanches em louvor da Língua Portuguesa e da humana singeleza que, por tão benquista em meus sentimentos, me enternece. "Obrigado por dar a conhecer ao Povo Brasileiro o belo poema "AS PORTAS QUE ABRIL ABRIU", do mui saudoso ARY DOS SANTOS. Permita-me que lhe envie um poema de ARY e um meu. OBRIGADO." - Manuel Sanches TOMAR PARTIDO Tomar partido é irmos à raiz do campo aceso da fraternidade pois a razão dos pobres não se diz mas conquista-se a golpes de vontade. Cantaremos a força de um país que pode ser a Pátria da verdade e a palavra mais alta que se diz é a linda palavra liberdade. Tomar partido é sermos como somos é tirarmos de tudo quanto fomos um exemplo um pássaro uma flor tomar partido é ter inteligência é sabermos em alma e consciência que o Partido que temos é melhor. José Carlos Ary dos Santos 13 de Fevereiro de 1977 ALENTEJO Eu queria sentir o vento O deste Alentejo perdido. De pobreza meu tormento, e o latifúndio não banido. Vasto, quente, ora seco. De águas sempre sedento. Vozes lânguidas,sofrimento, enganam a miséria e sustento. Estrelado céu alentejano. Mortalha foi de Catarina. Papoilas em campo tamanho, clamores e raiva em surdina. De searas levemente ondulando. De ciganagem na raia cruzando. De camponeses e filhos chorando. De gentes sempre fome passando. Num amanhã de ontem vibrante. Com cravo vermelho a acenar. As gentes em magote delirante. Liberdade ganha, povo a gritar. Os soldados de arma aperrada. Cavando com enxada, o arado. Milho e espiga desfolhada. Povo meu, sofrido, amado. Porém os anos vão passando. Cravo vermelho murchando. Sonho de povo ceifando. Aurora rubra esperando. Mãos gretadas, sujas, calejadas. Martelos,foices,pás e bigornas. Amanhã de estrelas doiradas. De luta,pré,féria e de jornas. Madrugada sem marchas militares. Depois de Grândola Vila Morena. Soldados, operários aos milhares. Não haverá reacção que os detenha. Esperança sonhada. Em luta fermentada. De mãos firmes, dadas. Elas e eles, camaradas! Manuel Sanches NA MEMÓRIA DE ARY Apraz bela... Oh palavra Semente língua na lavra Que hoje vive incandescente Bem acesa a florir Em direcção ao porvir No viço deste presente Trezentos milhões de gente Que de corpo e alma sente O amor em português: Te amo... Disse Dom Pedro Amante... Paixão... Segredo Posto aos pés de Dona Inês E há sempre mais uma vez Na seara que se fez E agora sinto aqui Sem ironia ou revanches Vinda de Manuel Sanches Na memória de Ary. Liberdade... Oh é por ti Que a esperança sorri E se banha em céu de anil Em Angola... Em Moçambique Mo mundo todo e bem fique De Portugal ao Brasil ! Torre da Guia Cliquem e visitem o poeta de Abril |