SE AINDA HOUVER SOL... 
Debruço-me à janela da vida... À minha esquerda a rua alonga-se Até desfazer-se na lonjura Imprecisa que já não diviso À direita... Logo ali adiante Depara-se-me o corpo da esquina Com a rua transversal iluminada Que calculo metro a metro no juízo Tu moras do lado donde nasce o sol De persianas corridas e só à noite Vislumbro risquinhos de luz Tremulando tua sombra que perpassa Por dentro de meus olhos fechados Existes e ouço tua voz sussurrar-me A magnitude do silêncio musical Que desce do céu e me abraça Já me tentei atravessar a rua E pôr-me em bicos de pés a espreitar Para dentro das palavras do dia Que vão escorrendo da tua parede azul Mas... Recolho-me e fecho a janela Para voltar amanhã... Quiçá depois Quando o acaso nos colocar os dois À mesma hora no poente... A Sul... Se ainda houver sol... Torre da Guia |