Quando garoto eu gostava imensamente de ler as Seleções e, normalmente, era "Meu personagem inesquecível" a parte da revista que chamava a atenção do meu gosto infantil.
Então, carregando nas tintas da imaginação, eu ficava debuchando esboços daquelas pessoas incluídas nas narrativas, realçando-lhes tanto o perfil que, ao final, atingiam culminâncias de verdadeiras lendas vivas.
Hoje, homem maduro, já não acompanho aquelas leituras tão vivas na minha memória, pois as circuntâncias tornaram-me um escrivinhador de garatujos, nascidos das observações que faço do cotidiano, garimpando eu mesmo personagens incríveis com as quais a gente vai convivendo, sem perceber os contornos marecantes de suas existências, dotadas de uma luz incomparável e um colorido raro e cheio de fascínio.
Pois bem, neste mundo ensandecido, violento, nervoso, egoista, ambicioso, competitivo, pragmático e contraditório, meu personagem inesquecível está com mais de noventa anos, move-se agora vagarosamente, enxerga com dificuldade, mas tem a voz firme, aquela mesma voz que embalou a minha meninice com a declamação de sonetos e de poemas tão encantadores que marcaram indelevelmente a minha alma com o sinete da beleza e da estesia.
E, agradecendo ao Criador tê-lo ainda comigo aqui neste mundo, compartilhando com meus filhos e com meus netos as emoções que o espetáculo do viver nos proporciona, vou beijar sua fronte e as suas mãos, reafirmar o meu grande afeto e o imenso respeito, pedir-lhe que me abençoe e que rogue a Deus por mim, seu filho primogênito, para que o Criador suavize o caminho saibroso e áspero que ando palmilhando.
Por tais e tantos outros motivos que numa simples e despretenciosa crônica não posso incluir, apresento-lhes o meu personagem inesquecível: Batista Soares, o poeta que Deus me prensenteou como pai.