Caro colega,
Além do nosso “totalitarismo acético” do antitabagismo, da pornofilia e da coincidência de respostas de cartas, se eu lhe dissesse que aniversariamos no mesmo dia, certamente isso iria tornar mais forte a suspeita de sermos como Yavé e Yeshua ben Yossef; não é?
O Direito moderno, especialmente o brasileiro, tende a sobrepor o coletivo ao individual, reprimindo os atos nocivos à coletividade. E, nós, ainda coincidentemente, agentes do mundo jurídico, naturalmente aprendemos a ver as coisas por essa óptica. Se quem faz barulho excessivo dentro do próprio apartamento pode ter juridicamente sua liberdade barulhenta restringida em benefício do vizinho que tem prejudicados os tímpanos, não nos parece menos justo que os legisladores busquem afastar dos recintos coletivos os elementos danosos. Sobrepondo a isso o incômodo que sentimos ao entrar em um ambiente cujo ar se acha poluído por substância não só repulsiva mas tóxica, o nosso antitabagismo é uma simples manifestação do nosso natural instinto de defesa, que se apóia democraticamente na vontade legal e na companhia de sete ou oito décimos da população.
Sem me estender demais aqui enumerando os elementos justificadores da nossa filosofia racionalista, que está estampada em dezenas de artigos meus e centenas do Freitas, especialmente em seu , muito mais agora, que a arqueologia já classificou o PENTATEUCO, o cérebro do judaísmo, como o ;
Da minha parte, digo que a visão de fotos eróticas realmente me agrada muito, como a uma maioria masculina. Como o excesso de uma característica é que torna uma pessoa maníaca, não sei se chego a ser um pornomaníaco. Sei que isso é abominável a uma parte das pessoas; mas, como conhecidamente “não podemos agradar a todo mundo”, procuramos agradar a nós mesmos em primeiro lugar e depois fazer o possível para a melhoria do ambiente alheio. Eu sempre tomo o cuidado de pôr o material erótico em lugar onde vá ser visto só por quem gosta; mesmo assim, os que não gostam ainda ficam descontentes, como se eu os estivesse obrigando a abrir meus arquivos, cujos títulos são indicativos de pornografia ou, quando não, há uma divisão interna avisando para que quem odeia o material tenha oportunidade de retroceder antes de ver a coisa desagradável. Depois de todos esses cuidados, sei que ainda somos censurados, mas acho que é o melhor que podemos fazer.
A “moral”, assim como o “direito”, são coisas altamente variáveis no tempo e no espaço. Há registro de que relações sexuais eram ritos sagrados entre alguns povos antigos. E até a pedofilia não era vista como algo abominável entre os antigos gregos. Hoje, concordo que haja bons fundamentos para se incriminar a pedofilia no nosso meio; mas não acho que seja justo perseguir os homossexuais, que são pessoas cujos desejos, decorrentes talvez de falha da natureza, são anormais, mas nenhum mal está causando aos que não compartilham de sua natureza e suas práticas. Tenho certeza de que, se ficar próximo de dois homossexuais que estiverem se relacionando, não sofrerei nenhum mal, o que não acontece quando fico próximo de uma pessoa que estiver fumando. Acho que quem, não obstante todos os danos, quer fumar tem o direito de faz~e-lo; MAS, apoiado pelos ordenamentos jurídicos de grande parte do mundo, jamais acho que o fumante deva ser tolerado ao impregnar de fumaça repugnante e danosa o ar do ambiente alheio ou coletivo. Uma pessoa que pega uma arma e dá um tiro em si própria, se sobrevivente, não pode ser condenada por crime algum; mas uma que pegar uma arma e der um tiro em algo no meio do povo já será incriminada por colocar em risco a vida alheia. Como a gradação entre ilícito civil, contravenção e delito se faz com base na gravidade vista pelo legislador, o que pode até trocar um ato de figura de um momento para outro, o uso de uma determinada droga, pode ter sido considerado normal em uma época e passar a ser prática ilícita em outra, dentro da normalidade das mudanças sociais.
O mundo jurídico é muito interessante. Se para os hebreus, um deus perfeito e justo vingava a iniqüidade dos pais nos filhos, para o nosso legislador já é inaceitável. A nossa Constituição diz que “nenhuma pena passará da pessoa do condenado”. Eu concordo plenamente que justiça é isso, e não penalizar o filho pela prática do pai.
O individualismo, que é uma das nossas característica, tem que esbarrar em normas coercitivas, ou, do contrário, os que têm a boca maior engolem os menores. É claro que, muitas e muitas vezes, as leis são desrespeitadas, e nem todas as vezes os culpados são punidos. Mas se, não obstante as leis rígidas, a coisa não funciona com perfeição, sem as leis seria muito pior!. Assim, acho que sou justo. Como dizia Confúcio: “Se você for pagar o mal com o bem, com que pagará o bem? Devemos pagar o bem com bem, e o mal com justiça”.
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