Diverti-me, hoje, lendo seus delírios da madrugada, no Quadro de Avisos. E diverti-me, ainda mais, sobre o comentário de uma mente estreita qualquer, sobre minha alusão à “LITERATURA ENGAJADA” de Adriana Ruella... Ah! Meiga Malu... Há gente que sabe... Sim... Mas há os “arremedos de literatos” que escrevem, escrevem e escrevem sem, contudo, conseguir dizer absolutamente nada.
ENGAJAR... Vem do francês “engager”, Malu. E está em qualquer dicionário, para qualquer A. S. N.O. ver: filiar-se a uma linha política, filosófica, etc. , e lutar por ela. Este é o sentido que se dá quando se faz referência à “arte engajada”... O poema O NAVIO NEGREIRO de Castro Alves é um exemplo da chamada “literatura engajada”, ou seja, a literatura a serviço de uma causa.
No trecho abaixo, de O Navio Negreiro, um dos mais conhecidos poemas do “Poeta dos Escravos” ele denuncia os sofrimentos a que eram submetidos os negros ao serem transportados da África para o Brasil - onde trabalhariam como escravos -, atulhados em navios imundos, viajando às vezes durante dois ou três meses. Muitos morriam a caminho do Brasil.
Tragédia no mar
Era um sonho dantesco... O tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho,
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar do açoite...
Legiões de homens negros como a noite
Horrendos a dançar...
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras, moças... mas nuas, espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs.
Presa aos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece...
Outro, que de martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus...
Ó mar! Por que não apagas
Co’a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! Noites! Tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!...
É por essa razão, Malu querida, que certos dejetos humanos não merecem alcançar o mínimo de respeito de quem quer que seja.
Se há algo mais desastroso, neste universo de letras, é falar-se daquilo que não se "manja bulhufas"... Argh!!!
Milene
Perplexa... a "abanaire a caveça" pra lá... pra cá... em ritmo fúnebre...