Eu nem sei se algum dia você lerá esta carta. Eu acredito que sim, mas do fundo do coração, desejo que não. Se ela chegar às suas mãos o começo desse fim terá se tornado realidade... O capricho de um destino, a amargura da saudade.
Eu penso em você nesta noite calma. É a única imagem que, na verdade, eu consigo fixar dentro de minha alma. A amargura e a nostalgia são imensuráveis porque não são medidas por metros, mas sim por saudades... a vontade de sair e buscá-la é muito grande, é quase irresistível, uma força desconhecida que jamais pensei existisse em qualquer mundo.
A chuva que cai lá fora é triste, fina, pegadeira, quase um lamento. É a mesma chuva, que caia em prata a me fazer lembrar você...
Nada posso fazer, porém. Só me resta o consolo de lembrar suas mãos, seus olhos, seu rosto lindo, seu corpo esguio. É o mesmo, ainda, daquela poesia tão feita pra você somente.
Olho o seu retrato. Choro a amargura de uma solidão que, afinal, parece tão fácil de acabar. Não é. Você sabe disso. Quem haverá de nos entender? Não os que me cercam, não os que dividem o meu mundo, o nosso mundo, em tudo, diferente, harmonioso, sincero.
Eu não queria ser como sou. Queria ser mais egoísta. Muito mais do que já sou. Deus, porém, não me fez como eu gostaria, e sim segundo a Sua vontade e as minhas necessidades. Quem sou eu para discutir o destino, quanto mais os desígnios de Deus.