O grito e o silêncio físicos, qual deles melhor se ouve, qual deles melhor se distingue?... Um sem o outro nunca mais se descobririam. Grito sem silêncio ou silêncio sem grito... Ambos perderiam o efeito do magnífico complemento que constituem.
Como o grito e o silêncio, na esplendorosa ou horrorosa envolvência da complexidade que o raciocínio humano absorve, tudo-tudo em permanente confronto se complementa.
Ah... Que faria o juízo sem a sua amada noiva, a loucura?... Há quantos milénios se namoram e nunca mais se consorciam. Ah... O bem e o mal, este famigerado casal homossexual que ora se ama, ora se degladia... Eu... Por mais esforço que produza, não consigo casá-los nem divorciá-los. Logo que meto colher em tal intento saio como canino ganindo de rabiote encolhido entre as pernas.
Pois... A concluir, do grito afasto-me para o silêncio. Não... Não viverei em silêncio. Viverei no exacto lugar onde poderei escutar nitidamente um e outro. Como em muitas outras coisas me harmonizei, finalmente na Usina alcancei a harmonia sem precisar seja de quem for para que enfim me sinta esplendidamente "bemal".
Mas... Em antes... Em antes... Tive de experimentar a combustão em cujas cinzas me implanto agora. E só assim se alcança o que deveras se almeja. Também, e neste caso, a palavra entre o grito e o silêncio se ouve nitida sem precisar de se ouvir melhor ou pior.
António Torre da Guia
|