Meu caro e inesquecível Diógenes, salvo pequeníssimas abordagens para adornar e ajudar a esclarecer aqueles habituais paleios de convívio em café, há exactamente 47 anos que não te tomo com aquele mesmo enlevo que te prodigalizei emocionada e apaixonadamente quando andava a estudar filosofia.
Ena, Amigo, que sensações experimentava então quando, das tuas inolvidáveis peripécias de "humano-todo", lia que tu tinhas o formidável descaro de te masturbares em público.
Mas então, interrogava-me estupefacto, ando eu tão preocupado a fazer estas coisas às escondidas e, pasme-se, um sábio destes, há 2.356 anos, comia-os a todos de cebolada com o pirilau bem inchado em face daquela cambada de basbaques ineptos...
Bem... Diógenes... Tu eras forçosamente um "senhor-músculo" do caraças, senão aquela maltinha que se consabe far-te-ia decerto mudar de costelas muitas vezes. Até, meu caro, nem aos cãezinhos consentem que façam isso na rua. Invejosos da função, começam de imediato a dar chutos nos pobres animais.
Mas... Meu dilecto e imperecível conselheiro, hoje e através da magnífica Usina de Letras, que é uma universidade ultra-hodierna que existe no Brasil, venho trazer-te uma notícia que vai decerto sensibilizar-te e sobretudo proporcionar-te enorme contentamento.
Enfim, o intenso fado que levaste durante toda a tua vida a procurar de candeia acesa, em pleno dia, um homem honesto, congratula-te Amigo, acabou.
Por exemplo, no Brasil, são muito poucos os homens com muito e muitos os homens com pouco. E sabes porquê, Diógenes, eureka: porque um homem só pode ser honesto depois de ser ladrão. Por conseguinte, Amigo, tu andavas a procurar mal. Decerto até te esqueceste de acender a Candeia ao pé do Alexandre, o tal que te estava a roubar a luz do sol. Alexandre, sim, era um homem honesto!...
Pois... Meu caro, agora não é preciso acender candeia alguma. Os "magnões" estão bem à esplêndida luz do dia, só que a enorme legião de cegos de olhos abertos não conseguem vê-los... Só se vêem uns aos outros e sobretudo vêem-me a mim porque, exactamente na época em que te estudava, rapinava uns tostões do colete de meu pai para molhar de vez enquando a pena e deixar de masturbar-me sob os fedores dos WWC.
Ah... Diógenes, após a tua chegada ao céu, já se passaram exactamente 2.403 anos. Ao fim de tanto tempo já há homens honestos, mas ainda são muito poucos, segundo cálculo do Banco Mundial. Um forte abração para ti. És o meu ídolo espiritual, sabes?!...
António Torre da Guia PS = Que dizes da foto que te tirei?!... Agora, amigalhaço, somos capazes de quase tudo, mas continuamos a viver com quase nada |