Procuro-te.
Tenho coisas a dizer-te... sim, na cara, dentro dos olhos, onde as palavras não são medidas nem pensadas... talvez por isso mais exactas.
Sigo no meu monociclo, como quem rendido à evidência do papel interpretado... o truque desfalece das mãos, quando a verdade de um simples gesto é enunciado no ar...
O arlequim será sempre um palhaço triste, que vive da pena e do sentido maternal das mulheres... numa das faces vem a alegria do pueril, magia representada pela lua; na outra face, a lágrima (a purificação e a verdade), de só viver pela penumbra, que disfarça o não ser já pueril.
Pelo til que vive o meu nome, afogo-o para o soltar num Ah! Um Ah maiúsculo, um maravilhar, como eu soltei quando vi a Guernica pela primeira vez, num museu no jardim do Prado, em Madrid.
Longo foi o meu olhar, quando percorreu as linhas da tua milonga... queria que fossem mais de três mil volumes... o riso não tem lugar, nesse lagar que tornou vinho a nossa cumplicidade... cidade verdade, herdade plácida onde os frutos são suculentos e as cores vivas... furtivas a toda a realidade...
Vivemos no sonho... enquanto furamos os ventos de frente, como quilha da caranguejola, soltamos os nós, e de nós, o pássaro, que fizemos viver dentro de uma gaiola... vê como ele plana... altivo, azul turquesa com as pontas das penas mais afoitas em vermelho vivíssimo... nem o sol consegue ofuscar-lhe a côr... de cor ele sabe lançar um lustre para além de um arco-íris ilustrado...
Sem til, continuo eu, de trás para a frente, de máscara desbotada, a tentar não perder o balanço, em cima do monociclo... uma lágrima desenha-se por entre as pontas da lua, defenestrando a lágrima em direcção à boca, revelando a minha tez...
A verdade assume o compasso do tango... é, porém, a sua vez de fazer arquear a vela...
Tudo se dissipa agora...
os meus artefactos são torpes, as mãos nem corajosas são, quando depois de ler a mais bela carta de amor de forma não concebida, nem sonhada...
o monociclo fica pousado no colo, como quem aconchega o passado num embalo negligente... que me transporta para o passeio nú, em ruas vazias e espelhadas. Por força da chuva forte e tenente a um presente sem lugar...
O vinho veio do lagar... penso eu, racionalmente....
Mas (n)este lagar não teve lugar, mas tempo...
Mas foi o vento porteña, que nos trouxe de encontro a uma vela difusa, de uma nau confusa, como só Xeus sabe ser...
O tudo e o nada
Ser, sendo
“no paraíso do teu olhar”
Samurai ou Ronin...