Resposta a Gilberto de Mello Kujawski, autor de "Elio Gaspari e a malhação do Judas", em O Estado de São Paulo, 27/11/03, página 2.
Caro Gilberto,
Venho acompanhando seus artigos há certo tempo. Um dia desses convenceram-me de que, afinal, pode haver vida inteligente por detrás das páginas de nossos jornais. Mas chega de confetes.
Seu artigo "Elio Gaspari e a malhação do Judas" agradou-me em vários sentidos. Primeiro (menos importante) por trazer à minha consciência alguns porquês do meu certo desagrado com as colunas de domingo que o sr. Gaspari escrevinha na Folha (embora eu infira que até esse desagrado possa ser em boa medida provocado propositalmente por ele mesmo (afinal, não vivemos em um país dito moderno)).
Segundo (mais importante) o sr. traça a necessidade do contexto para entender a famigerada confissão do ex-presidente Geisel. De minha parte, tendo nascido no Chile, assistido ao golpe, imigrado com minha família e me naturalizado brasileiro, bem sei até que ponto o contexto é importante para entender qualquer coisa.
Lamento, porém, que o sr. não tenha conseguido expressar a gravidade e premência desse contexto, qual seja, o contexto vivido por Geisel em corpo e alma, contexto esse que em boa medida ainda nos subjuga.
Em que me baseio para sustentar que o sr. não conseguiu expressar a gravidade de tal contexto? No fato de que a História não julga, explica, enquanto nós não podemos nos negar a fazê-lo.
Obrigado pela oportunidade, abraço
Rodrigo Contrera
Jornalista
Esta carta estará publicada também no site Usina de Letras (www.usinadeletras.com.br), em virtude do caráter público de seu artigo e de minha resposta.