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Cartas-->Alvorada de mim -- 02/12/2003 - 02:53 (Vilas Maia) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Porto, XX de Março de 2003
-3:57

A noite ficou fria. Céu estrelado com lua nova. Fui perto da praia, hoje à noite. Tudo limpo... o mar fazia cristalizar o seu timbre no ar... tudo o que era preto era de facto, preto... o contrário era também verdade...
Reparei que não haviam aves pousadas na areia... o vento era apenas aragem...

Em toda esta noite bela quis contemplar as estrelas que mudam de lugar... mas mesmo estas estavam paradas... lembrei-me que esta poderia ser a última noite bela, pois a próxima poderia ser bélica...

Decidi fechar as portas a esse mundo... não o quero ver, quero sim ver-me, sentir-me.

Dispo-me do tempo, recrio um outro espaço, levo-me daqui para ali, num rodopiar louco, tentando sair de uma jaula que nunca teve porta, mas uma janela, pela qual me olham e me deixam, por vezes, olhar...
Sento-me no chão e penso. Mas penso o quê? Como sair de uma jaula imaginada por mim? Estou refém naquilo que imaginei... se sou refém, quem é o meu raptor? Eu mesmo?! Esquizofrenia momentânea, ou sempre fui e foi, agora, anunciada? Quem a anunciou? Um médico?!
Sim.... parece que estou dentro de uma jaula imaginada por mim, por me ter sido diagnosticado esquizofrenia por um médico que nunca conheci...
Estranho...
Estarei eu a imaginar que nunca conheci o médico, por reconhecer de forma muito subtil, que estou louco? No entanto, não vejo a jaula... mas sinto-a. Será próprio do meu sentido de sobrevivência não a ver, recusando assim a realidade que me envolve?
A realidade que eu vejo é uma família que gosta de mim à sua maneira, apreço devolvido também à minha maneira, uma casa confortável, com um cão fantasma que me faz sacudir, de quando em vez, o seu pêlo das minhas calças, música boa, vinho bom, silêncio e calor... quarto próprio, cama só para mim, com janela ampla aos pés. Botas quentes, meias pretas... tudo grátis, a um beg de menino velho.
Mas penso que esta não é a realidade... continuo a sentir a jaula que não vejo, mas que dizem que é imaginada por mim, na qual estou enclausurado por ordem de um médico, que penso fingir que não existe... mas a janela sei que existe, porque a vivo como deslumbre... é por ela que uma estrela me embala, é por ela que a luz me abraça, é por ela que o sono me é adornado, muitas das vezes sem sonho, para que a paz me assole até ao sol raiar...
Sinto em mim uma saudade, prenhe de esperança, que me faça erguer, trespassar a jaula, para que assista à alvorada... ao renascimento de mim.
“Quero ser feliz, porra!”
Quero o meu silêncio... quero olhar pela janela de um quarto para uma praça de uma cidade que não é minha, longe dos meus, para que a saudade doa, e o reencontro seja de verdade o abraço forte e querido... porque não, com a lágrima pendurada pela alegria.
Quero ter um trabalho que me dê sustento e algum alento... quero o meu retiro para poder criar...
Quero comigo o que é meu, os meus discos, os livros que nunca pude ler, sem televisão, apenas jornal e arte... para que um dia, conte como mais um, para que tudo que toque faça sentido porque é vivido, sentido.

Enquanto o dia não chega, continuo a pensar sentado no chão de uma jaula que desconheço, enclausurado por um médico que nunca vi, vendo outra realidade por uma nesga da janela que gentilmente alguém abre por acaso, imaginando que a jaula foi por mim inventada, num rodopio, talvez de lucidez extrema... para que um dia, abra a porta da varanda e deixe fazer entrar o sopro desse dia, onde nú de toda a existência, me deflagre no céu!
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