O primeiro brasileiro que nasceu em 2004 já deve R$ 5.100. Nenhum cobrador baterá às portas de sua casa, mas o recém-nascido já conviverá, em seus primeiros dias, com as limitações impostas pelo elevado endividamento público brasileiro. De acordo com os últimos dados do Banco Central, a dívida brasileira total já encosta perigosamente na casa de R$ 1 trilhão – é de US$ 905 bilhões, segundo o BC. Apenas dois anos antes, chegava a ser R$ 244 bilhões menor.
“O trabalhador brasileiro teria que trabalhar quase seis meses apenas para pagar sua ‘parcela’ na dívida” Reinaldo Gonçalves, economista e professor da URFJ
O levantamento da dívida per capita do País foi feito pelo economista Reinaldo Gonçalves, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a pedido do ESTADO DE MINAS. Baseando-se exclusivamente em dados oficiais – do próprio BC e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) –, Gonçalves revela que o brasileiro trabalha cada vez mais para “pagar” a dívida crescente do governo. No início de 2001 e do ano passado, ele tinha de trabalhar em média 114 dias se quisesse quitar por inteiro sua “parcela” no endividamento público. Agora, a labuta seria maior, de 174 dias. “Ou seja, seriam quase seis meses de trabalho apenas para pagar a dívida”, diz o professor da UFRJ.
“Pagamos, indiretamente, cada centavo devido pelo governo, com juros maiores e um aperto fiscal monumental” Reinaldo Gonçalves, economista e professor da URFJ
Para chegar a essa conta, Gonçalves dividiu o total da dívida pelo número de habitantes do País. Em 1995, o endividamento total era de R$ 153 bilhões para uma população de 153,1 milhões de pessoas – cerca de R$ 1 mil por pessoa, portanto. Os números, é claro, referem-se apenas a um quadro imaginado por Gonçalves, já que a dívida pública não é cobrada, a cada ano, de cada brasileiro – pelo menos diretamente. Mas servem como importante diagnóstico do crescimento explosivo do endividamento do governo nos últimos anos. “Além disso, pagamos, indiretamente, cada centavo devido pelo governo, através de juros maiores e de um aperto fiscal monumental”, afirma o economista.
O brasileiro trabalharia mais para pagar a dívida pela conjugação de dois fatores. O primeiro deles é que, segundo o IBGE, a renda média do trabalhador do País caiu consideravelmente ao longo do ano passado. Era de R$ 959 no começo de 2002, teve pequena melhora, para R$ 1015 no início do ano passado, mas recuou agora para R$ 846. Junto a isso, a dívida não parou de subir: nos três períodos citados, saiu de R$ 661 bilhões, pulou para R$ 881 bilhões e já alcança R$ 905 bilhões. Em relação ao Produto Interno Bruto (PIB, a soma das riquezas produzidas), método mais utilizado pelos economistas para medir o crescimento da dívida, o avanço também é nítido: o endividamento total do setor público começou em 53,3% do PIB, passou por 55,9% do PIB e está agora em 57,2% do PIB.
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