Esta é uma a mais. Daquelas cartas que se escreve e não se manda. Ou até, nem se escreve. Fica na imaginação. Esta é uma daquelas.
O papel, a tela do computador, o espaço vazio pronto para ser preenchido... congela-se tudo.
Por que será assim tão difícil escrever uma carta que expresse sentimentos: os bons, os não tão bons, os desejos, as esperanças... as violações emocionais, os prazeres fortuitos (nem por isto menos prazerosos), os espantos, os gritos camuflados em risadas, os sons do amor... por que será tão difícil assim escrever sobre isto?
O que é isto ?
É a vida? É a vida. Este espaço abstrato, este tempo finito, esta perseguição do nada, esta alegria por tudo, este secreto desejo de partir... e de ficar onde se está.
Não quero transmitir angústia - só estou pensando na dificuldade humana de expressar sentimentos arraigados.
Ari Barroso, Beethoven, Vivaldi, Mozart, Ellis Regina, Edith Piaff, Villa Lobos, Erik Satie - vocês fizeram minha vida melhor. Souberam transmitir em música o que nunca consegui nas letras.
------------------
Isto tudo foi escrito há dois anos e meio atrás. Encontrei em meio à minha papelada, nesta hora de jogar fora o que não faz mais sentido estar aqui.
Há maior prazer do que ver que tudo isto já passou? E que agora, ainda sem conseguir me expressar numa carta, já não sinto o que sentia há dois anos e meio atrás. Não tenho a angústia, mas só a percepção de como é realmente difícil expressar meus sentimentos por palavras.
E vou ficando por aqui. Já tentei de tudo.
Quem sabe um conhaque, uma lua cheia ...